sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Perdi o jogo

Um dia, num restaurante de Ílhavo, um baterista de jazz radical falou-me do jogo. "Não é um jogo", dizia ele, "é o jogo". Estamos a jogar desde sempre, e para sempre, mesmo sem saber. E só tem uma regra este jogo chamado jogo: se nos lembramos que estamos a jogar, perdemos. (Pausa de um, dois, três segundos.) Senhoras e senhores, perdi o jogo.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

"Queres que vá contigo?"

A vida de George Harrison, como mostra o filme de Martin Scorsese, tem muita história louca. Piada, pensamento, engano, génio, tanta coisa, tudo misturado. No fim ninguém duvidará: o Beatle calado lançou muita alegria no mundo. E não estou a pensar só no filme dos Monty Python que George pagou.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Canção de Natal

Os Beatles fazendo música para que ela chegue a Michael Jackson fazendo música para que ela chegue a Cyndi Lauper fazendo música para ela chegue a Miles Davis fazendo música para que ela chegue.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Para Vaclav Havel — sem arte e sem pensamento não há liberdade

Um excerto de Catastrophe, a peça que Samuel Beckett escreveu em 1982 "for Vaclav Havel":

Director (D).
His female assistant (A).
Protagonist (P).
[...]
D and A contemplate P. Long pause.


A: [Finally.] Like the look of him?
D: So so. [Pause.] Why the plinth?
A: To let the stalls see the feet.
    [Pause.]
D: Why the hat?
A: To help hide the face.
    [Pause.]
D: Why the gown?
A: To have him all black.
    [Pause.]
D: What was he on underneath? [A moves toward P.] Say it. [A halts.]
A: His night attire.
D: Colour?
A: Ash.
[...]

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Nem 1 nem 99 — uma revolução

Na Europa o momento é o da negação da política. Tanto do lado do Reino Unido que, pela mão de Cameron, rejeitou o acordo europeu com base, pasme-se, no interesse da praça financeira de Londres, como do lado dos restantes países que, dizendo amen a Merkel e Sarkozy, assinaram esta versão “crime e castigo” da União. Um acordo em que não se descortina um mínimo de visão para o futuro, nem o mais leve sinal de abertura para o levantar de uma verdadeira democracia europeia. Pelo contrário, o que transpira do subtexto de tanta “austeridade automática” é um mal disfarçado terror do presente e um ajoelhar da cidadania perante o bezerro de ouro dos mercados.
Ora, contra este estado de coisas, que vozes se fazem ouvir?
Os “indignados” são, apesar de tudo, os que falam mais alto. Mas propõem o quê, ao certo? Bem, para lá de alguns slôganes mais ou menos engraçados e inteiramente inconsequentes, a grande reivindicação parece ser a de um salto para a democracia direta. Reticências, ponto de interrogação, ponto de exclamação...?!
Ainda que tal “ovni” fosse possível sem descermos ao caos absoluto (em dois dias, o mais distraído dos cidadãos perceberia que tínhamos trocado uma imperfeita democracia por uma perfeita histeria), o resultado de fundo seria o que vemos em mais e pior. A verdade é que o problema atual — esta “bolha” de  vazio, de falta de convicções, ideias, grandeza — tem tudo a ver com a estreiteza de vistas de quem não só governa ou contragoverna com os olhos nas eleições como, de facto, pensa e decide com a cabeça nas sondagens. O regime “novo” que os indignados exigem seria assim a mera “institucionalização” do governo pela sondagem...
O que quer dizer que, ironicamente, os cinzentões da cimeira europeia não estão tão longe quanto se imagina dos coloridos 99% das tendas. No fim de contas, os populistas da austeridade querem chegar, pela via da tecnocracia, onde os populistas das ruas também sonham chegar pela via da democracia direta. Não, nem 1% nem 99% — uma revolução: democracia europeia, já!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Sobre uma fotografia de Amr Abdallah Dalsh

Primeiro, vejo o homem com a cabeça de fogo. A cabeça do homem não pensa nem deixa de pensar, não lembra nem esquece; arde.
     Depois vejo o homem de preto que está num plano adiantado e faz o movimento de atirar alguma coisa. O que me puxa a atenção é apenas o movimento, a sugestão, a ideia de movimento.
     Por fim, vejo o braço à direita. Um braço cortado pelo olhar do fotógrafo, um braço branco destacado, amplificado pelo espaço vazio em redor. A mão no final do braço segura uma pedra.
     Mas logo a cabeça em chamas chama-me de volta. É ali, não há dúvidas, é ali, acima e à esquerda, que está o centro, o pulsar, o pensar, o coração daquela imagem. Um homem com uma cabeça de fogo.
     Mais à esquerda, reparo agora, há dois círculos brancos. Parecem pintados sobre a fotografia. E, de repente, vejo: os dois círculos brancos são dois pontos, o homem com a cabeça de fogo é um P, o homem inclinado é um A, o braço branco é um I. Será que querem dizer isto quando dizem que certa imagem “tem uma leitura”? O que a fotografia diz é :PAI.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O verdadeiro ator em Viana do Castelo

O verdadeiro ator apresenta-se hoje na Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, às 21.30h. Que Europa teremos a essa hora?

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A pessoa certa no lugar certo


Rui Chafes em Matera. A exposição chama-se Entrate per la porta stretta.
Só saber que estão lá aquelas sábias negruras já nos ajuda a ver tudo um pouco mais claro aqui.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O Papa no autocarro


Sim, talvez eu não consiga não gostar de um filme de Nanni Moretti. Mas também é verdade que guardo a lucidez mínima para perceber que Querido Diário é melhor que Abril, ou a distância necessária para escolher o Moretti de O caimão antes do Moretti de O quarto do filho, por exemplo.
Seja como for, tenho de dizer que estou em desacordo total com o consenso crítico em torno de Habemus Papam. A reação geral foi, para usar um eufemismo, morna; este seria um Moretti suave, “maduro”, amansado... Não, não e não. É um filme belíssimo, único, talvez o mais duro do cineasta de Roma. Um filme sério, sim, seguro, sim, mas também maravilhosamente louco como só podem ser as visões dos grandes mestres.
Neste tempo de robôs e fraude, Habemus Papam consegue o impossível: justapor a provocatória “estranheza” da comédia e das ideias à delicada “empatia” do drama e das personagens. Ou, traduzindo por nomes: juntar Moretti e Piccoli.
Sendo um filme “agnóstico” que não foge às perguntas, claro que Habemus Papam cai mal neste nosso momento. Mas o problema não está na tela, está nos nossos olhos. Este tempo de austeridade ideológica e entretenimento mentiroso é que está demasiado “morno” e “suave” para um cinema vivo que não tem medo de pensar e imaginar e tudo ao mesmo tempo.
Tão comovente, tão desequilibrador no melhor sentido, ver o Papa no autocarro a sofrer “normalmente”. Ou, na cena com a psicanalista Margherita Buy, apanhar Michel Piccoli fingindo a dor de ator que deveras sente.
Habemus Papam é um filme imenso, que dura o tempo justo de uma decisão. E, tu, estás de que lado?

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Girafa como nós


Quem não viu Tristeza e Alegria na Vida das Girafas, de Tiago Rodrigues, na Culturgest em Lisboa, deve marcar já na agenda uma viagem a Coimbra, ao Teatro Académico Gil Vicente, em janeiro. É um espetáculo espantoso: originalíssimo e aberto a tantas imaginações. 
Os bastidores de um trabalho de escola, o épico íntimo de uma miúda órfã, a travessia da cidade como interrogação política, a luta que é crescer e o luto que é viver. Um grande texto, ótimos atores, um espetáculo, como se diz das ideias, incrível.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O lado b da vida

A. O. Scott lembra aqui O Inimigo Público, o filme de 1931(!), realizado por William A. Wellman, com James Cagney no papel do protagonista. É uma história dos diabos, com pistolas e Jean Harlow, mortes feitas dança, cores a preto e branco. Gosto muito de filmes de gângsteres e, em tempos, até sonhei fazer um em português. O fado vadio, o lado b, de bandido, da vida: haverá por aí alguma múmia que não se comova com estes mistérios de chapéu?
E, por falar nisso, hoje vemos o quê, O Pequeno César, História de Gangsters, Cães Danados, Bando À Parte? 
 



quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Jornal Local: este mundo e o outro

Ao começo da noite, duas músicas em choque na Rua Garrett. De um lado, um rapaz de fato e gravata a tocar Bach no violoncelo envernizado. Do outro, um velho vagabundo acompanhando a melodia gravada de um órgão de crianças com uma garrafão de plástico que, bum, pás, bate no passeio. 
Entre um e outro, passa o mundo. O mundo esforçando-se por fazer cara séria, distraída, ausente. O fraco mundo, de mãos pesadas e corações privados. Jornal Local sabe de fonte segura que: passa a arder.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Bairro de Santa Filomena qualifica Portugal para o Europeu



Será esta a tradução política do tiraço de Nani, o supercraque do Manchester United nascido e criado no Bairro de Santa Filomena, na Amadora?

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Ele fala a tua língua

Ontem, no Museu de História Natural, em Lisboa, um acontecimento para sempre: Don DeLillo a ler o que escreveu.

"Light and sound, wordless monotone, an intimation of life-beyond, world-beyond, the strange bright fact that breathes and eats out there, the thing that's not the movies." (Point Omega, Don DeLillo)

E vêm aí mais coisas.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Queres Ser Paul Giamatti


A noite de sábado foi histórica para esta história. No Estoril, consegui oferecer um exemplar de O verdadeiro ator (que conta a vida de um português convidado a entrar num filme chamado Queres Ser Paul Giamatti) ao próprio Paul Giamatti. Pois! É completamente, monumentalmente, loucamente incrível, mas sim: às vezes a verdade acontece.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Pausa

Aqui fica este achado, com assinatura do mestre Pinter, para nos rirmos da chuva:


Umbrellas

Two gentlemen in deckchairs on the terrace of a large hotel. Wearing shorts and sunglasses. Sunbathing. They do not move throughout the exchange
A: The weather's too much for me today.
PAUSE
B: Well, you're damn lucky you've got your umbrella.
A: I'm never without it, old boy.
PAUSE
B: I think I'd do well to follow your example.
A: Yes, you would. Means the world to me. I never find myself at a loss. You understand what I mean?
B: You're a shrewd fellow, I'll say that for you.
PAUSE
A: My house is full of umbrellas.
B: You can't have too many.
A: You've never said a truer word, old boy.
PAUSE
B: I haven't got one to bless myself with.
PAUSE
A: Well, I can forsee [sic] a time you'll regret it.
B: I think the time's come, old boy.
A: You can't be too careful, old boy.
PAUSE
B: Well, you've got your feet firmly planted on the earth, there's no doubt about that.
PAUSE
A: I certainly feel secure, old boy.
B: Yes, you know where you stand, all right. You can't take that away from you.
PAUSE
A: You'll find they're a true friend to you, umbrellas.
PAUSE
B: Maybe I'll buy one.
PAUSE
A: Don't come to me. It would be like tearing my heart out, to part with any of mine.
PAUSE
B: You find them handy, eh?
PAUSE
A: Yes ... Oh, yes. When it's raining, particularly.
Blackout

© The estate of Harold Pinter 2011
All rights reserved

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Escrever nas bandeiras

E se esta pergunta

descesse da escadaria da Catedral de São Paulo, em Londres, até ao Parlamento Europeu, até ao Conselho Europeu, até ao Banco Central Europeu?

A questão não é de acreditar ou deixar de acreditar. É de ver — ou não querer ver.

Um dia hei de escrever uma peça de teatro a partir de San Paolo, o filme que Pasolini não filmou; um esboço magnífico onde o exército romano é o exército nazi, os fariseus são os colaboracionistas, Roma é Nova Iorque, mas São Paulo é São Paulo.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Uma pergunta ao ministro da Educação

Mesmo dando de barato que as opções do ministro Nuno Crato não são guiadas por uma lógica de cortes cegos, e não falando no drama social que certamente irão causar, há algumas perguntas a fazer ao responsável pela pasta da Educação. Por exemplo: o que é que, ao certo, torna "essenciais" as "disciplinas essenciais"? E bastarão elas para preparar o futuro neste mundo que é novo todos os dias? Português e matemática? Claro que sim. E dança, não? E filosofia, senhor ministro?

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

E a partir daqui?

Imagina-se que terá custado várias dores de cabeça, muita zanga, um ou outro murro na mesa, mas a verdade é que o acordo conseguido ontem pela Europa do euro alcançou apenas o esperado. O que importa agora saber é se este é só mais um capítulo da narrativa "moral" em curso — o capítulo do "perdão", digamos — ou se, pelo contrário, se trata de uma solução de emergência para estancar o pânico e que, a partir daqui, se reinventará a história. Como? Construindo uma real solidariedade europeia (na dívida e no resto), criando as condições de existência de uma verdadeira opinião pública europeia (para que a democracia não seja apenas um conjunto de "mecanismos", mas uma realidade transparente e viva), abrindo o campo da política europeia (de modo a não ficarmos, cá como lá, atados a esta monocórdica tecnocracia...). Enfim, reescrevendo o texto para que a União possa ser cada vez mais isso, uma "união", e a Europa possa regressar ao sonhar do mundo.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Tentarei não me repetir...

Jacinto Lucas Pires é o convidado da Comunidade de Leitores da Almedina Atrium Saldanha
26 de Outubro, às 19h
.

Carlos Vaz Marques conversa com Jacinto Lucas Pires
, dia 26 de Outubro de 2011, às 21h30, na Biblioteca Municipal de Algés.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Jornal Local: seja o que for

Na Rua Nova da Trindade, histórias antigas ou Nouvelle Vague? Seja o que for, Jornal Local garante que é verídico. De um gabinete no terceiro ou quarto andar, um homem lança uma corda com um clipe na ponta. No passeio, outro homem prende um cartão ao clipe, acena para cima e vai-se embora, rua abaixo. Perante o espanto de turistas e indígenas, o primeiro puxa a corda, já está. Escadas, elevadores, emails, para quê?

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O verdadeiro ator na Guarda

Hoje voo até à Guarda para uma tertúlia do TMG chamada Café Desconcerto, às 21.30h. É preciso parar, pensar, provocar, propor — sim?

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A Febre, de Wallace Shawn


...está em Lisboa, no São Luiz, até amanhã. A interpretação é de João Reis, a encenação de Marcos Barbosa, a cenografia de F. Ribeiro. Eu sou suspeito, bem sei, porque é minha a culpa da tradução, mas não estou aqui para enganar ninguém: é essencial ir lá ao Chiado, às 21h, ver este solo de juntar pessoas sob pontos de interrogação. Ainda mais nestes tempos que nos calharam na rifa...
Há um ano, escrevi um texto sobre a peça para o jornal do TNSJ: 


Punho fechado

Eis o que falta dizer sobre A Febre: isto é política. É teatro, sim, e é política. É sobre a culpa, pois, a culpa individual de um anti-herói que se vê em festas a falar com mulheres de roupas coloridas e a beber vinho e a comer salmão e a fazer conversa sobre as montanhas da Tailândia ou aquela obra de Beethoven, e é política. São palavras, é verdade, só palavras, já se sabe, as habituais só-palavras dos escritores e dos actores e, em geral, deste nosso mundo em que se fala tanto, em que se fala demais, este nosso pequeno mundo onde tantas vezes parece que falar-escrever é apenas a forma mais esperta de, porra, de não fazer – mas, portanto, palavras, sim, e política: palavras-acções que não se limitam a “pensar” o tempo em que vivemos, que não se satisfazem com o pôr-em-causa de alguns dos “indiscutíveis” fundamentos das nossas sociedades: palavras de nos desequilibrar, a cada um de nós, intimamente, desassombradamente e, ah pois, oh sim, violentamente: em direcção ao mundo. 
“Claro, algumas vezes tu pensas no sofrimento dos pobres. – Deitado na cama, sentes uma compaixão, sussurras para a almofada algumas palavras de esperança: Em breve todos vocês terão remédios para os vossos filhos, em breve um lar. (...) Mas durante este compasso de espera, espera, esta interminável espera pela mudança gradual, eles vêm um a um bater à tua porta e lamentam-se muito e imploram a tua ajuda. E tu dizes, Levem-nos para longe daqui.” (A Febre, de Wallace Shawn.)
Por favor, não me entendam torto. Este A Febre é um texto político, com certeza, mas não como esses outros, aqueles outros, esses tais que sabiam a verdade toda, e a verdade logo com V grande, ó caneco, e não admitiam qualquer “senão”, nenhum “porém”, nem sequer um tremelicante “quê?”. Não, este A Febre não é nenhuma cassete desbobinada a partir do púlpito ou do palanque, aqui não há nada dessa pose de “dono da verdade” de tanto texto dito “político”. Aqui “político” não precisa de aspas, aqui “político” não é a tradução nacional-porreirista de “fraquito”, ou “ali entre o medíocre e o mediano”, ou chato-como-a-potassa-mas-aguentem-lá-em-nome-da-crença-ideológica-ou-clubística-cá-da-malta. Nesta magnífica peça – monólogo? conto? ensaio? discurso? – de Wallace Shawn, o político vem do próprio texto, não aparece imposto de fora, caído de pára-quedas, descido dos céus para nos vender uma qualquer metáfora-lição em palavras de pedra. Aqui o político surge das entrelinhas da vida; de uma vida na primeira pessoa que nos é mostrada mais do que explicada. Aqui o político implica-nos de imediato porque parte de um viver concreto, de uma história bem feita, isto é, feita verdade. 
A Febre? Respondo com perguntas: uma viagem à volta de uma sanita? A epopeia de um homem na casa de banho de um país pobre onde não se fala a nossa língua? A construção em caracol do mais impuro dos manifestos? A narrativa interior do mais tortuoso dos pedidos de perdão? Os trabalhos de um homem que, perante a descoberta do “outro”, cai finalmente em si? Um espantoso poema em prosa para uma brutal queda da linguagem? A novela tragicómica de um turista da miséria? Um teatro para olhar o mundo, as novas palavras proibidas, a “vida real”?
A Febre é um nó por desatar. Um punho fechado: um murro, um coração, um gesto político. Um texto que não se furta ao excesso, à contradição, à dúvida, ao conflito; uma voz que segue assim, aos trambolhões, claríssima, até ao extremo, para lá da margem, para lá da pergunta, até ao próprio limite da identidade. 
De um lado, os balões alegres de que todos gostamos, candelabros bonitos, embrulhos maravilhosamente complicados com delicadas jarras de porcelana dentro, caixas que dão suspirozinhos, bailados e óperas, peúgas difíceis de encontrar, amigos divertidos, enfim, a vida, a vida!, a vida que, sim, pois, deve ser festejada. E, do outro lado, a guerra, a tortura, fotografias de cadáveres, o cheiro esquisito das salas de estar dos pobres, a carne nojenta que parece aumentar no nosso prato, os rapazes maus do bairro mau, os países “em desenvolvimento”, a empregada da limpeza que nasceu para ser aquilo e nunca poderá ser mais que aquilo, o medo, o ódio, a loucura, o vómito. De um lado, Juana, a bela guerrilheira, a bela mártir, olhos brilhantes que aprendemos a admirar. E, do outro lado, o gelado descoberto no hotel obscenamente caro do pais revolucionário que visitámos por causa de uma tichârte, o gelado viciante e inesquecível, o gelado multicolor que nos há-de doer para sempre (mas nunca o diremos, não podemos dizê-lo nunca, é segredo, chh).
“...e portanto sim, precisamos de conforto, precisamos de consolo, precisamos de boa comida, precisamos de coisas boas para vestir, precisamos de belos quadros, filmes, peças de teatro, passeios no campo, garrafas de vinho.” (A Febre, de Wallace Shawn.) 
E, no entanto, aqui não há conforto. Não há, pelo menos, o conforto habitual, o consolo de sempre. Uma peça que não nos apanha pela “empatia” costumeira das ficções, antes por esta horrível “cumplicidade” no crime. No crime da injustiça, da desigualdade, da desesperança. No crime da não abolição da morte.
A certa altura, a propósito de marxismo e relações de produção, o protagonista d’A Febre dá o exemplo de um homem a abrir uma revista de mulheres nuas. Diz ele que, por trás do código que é o preço da revista, o que se passa é que o homem pagou para que a mulher tirasse a roupa e se sentisse desta ou daquela maneira perante a lente do fotógrafo; que nada daquilo aparece do vazio, que o homem ordenou e a mulher obedeceu, que cada “produto” contém a sua própria “história”.
A Febre faz isto: fura os códigos, revelando o que está por trás deles, não deixando nunca que nos sintamos apenas, e oh tão confortavelmente, “espectadores”. Não, aqui estamos dentro da “história”, não viemos do nada e não estamos no meio do nada, somos “actores”. E, portanto, em consequência, saindo daqui, não teremos de agir?

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A arte de não fazer

No primeiro golo do Benfica, ontem à noite, a assinatura foi de Bruno César, sim, mas a música foi toda de Rodrigo. Aquele gesto que não, aquela palavra apagada, aquilo vale um Nobel.


sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Metáfora

Numa lavandaria da Calçada da Estrela, exposto aos olhares da rua, o vestido de noiva suspenso, esquecido, baloiçando.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

terça-feira, 11 de outubro de 2011

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Jornal Local: a escola de música

Quando a escola de música começa a trabalhar é como um motor que ativa a rua. De repente, a vida destacando-se; cada coisa, uma interrogação, um sinal. De que mistério? Bresson diz que "o cinema sonoro inventou o silêncio". Jornal Local garante: fazer a Rua da Oliveira ao Carmo às sete e picos da tarde é uma lição de cinema do caraças.
Dentro do épico orquestral que atravessa paredes e faz tremer roupa interior nas varandas, o merceeiro perguntando para alguém numa janela se não se esqueceu dos morangos encomendados, dois turistas sorrindo quando julgam já estar fora do radar dos indígenas, um pai de família carregando quatro mochilas e um saco de compras rua acima — ali todos nos tornamos personagens, todos escorregamos um nadinha mais para dentro da verdade. Verdade?

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Inferno (não, não é um postal sobre a crise da Europa)

É o título da exposição de Rui Chafes, na Galeria João Esteves de Oliveira: Inferno (A minha fraqueza é muito forte).
A propósito destes trabalhos sobre papel, Paulo Pires do Vale diz que "o artista se aleija nessa violência que é a origem da obra" para que o Desenho possa rejubilar. É bem visto, sim, que o que toca ali é mais esse mistério para lá da primeira ferida. Uma clareza, uma paz sem nome, um humor de astros. Ao mesmo tempo, no mesmo plano, D's maiúsculos e D's minúsculos.
Gostei especialmente daquele desenho mais distraído na sala de cima — aquele em que, com os seus corpos, as três irmãs estudam? escutam? o movimento de rotação da Terra. Corpos que pensam, ideias que mexem.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Grandeza

"O meu ídolo era e é Pablo Aimar", diz Lionel Messi, o melhor jogador de futebol do mundo.


Pablito, eterno número 10 do Glorioso, agradece com um sorriso, "Isso quer dizer que ele joga muito melhor do que vê..."


Um craque a sério nem precisa de bola para fazer futebol-arte.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Como é que eles conseguiram meter um castelo rococó na sala estúdio do Trindade?

Na salinha de cima Lígia Roque e companhia brincam à verdade com simplicidade e humor. Teatro: de muito pouco fazer muito muito. Bravo!


terça-feira, 27 de setembro de 2011

Reportagem 3



"O espírito capaz de compreender boa ficção não é necessariamente o espírito culto, mas é sempre aquele que se dispõe a aprofundar o seu sentido de mistério através do contacto com a realidade, e o seu sentido de realidade através do contacto com o mistério." (Flannery O'Connor)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Hoje o que eu quero dizer é isto (letra de uma canção dos Quais)

O PAÍS DO EU


Bem-vindos ao país
Era Uma Vez
vamos para a frente
sempre com um pé atrás
da tempestade
há de vir a esperança
e o tal destino
sabotá-lo com ação

pôr Pasolini na canção
eu amo o mundo
e odeio o mundo
duplo também quem eu


George Harrison cantando
I Me Mine
e eu penso
naquela frase da Simone Weil
o diabo
incita a dizer
o eu de sentido coletivo
dos ditadores

escuta, olha, mas não pares
tão bela contra
atira-te contra a montra
parte tudo tu

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O verdadeiro ator em Silves

Hoje vou a Silves e dou boleia ao ator Américo Abril. O grande acontecimento está marcado para as 21.30h, na Biblioteca Municipal.


terça-feira, 20 de setembro de 2011

sábado, 17 de setembro de 2011

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Como se pudesse haver Europa sem Grécia!

Isto anda tudo doido, muita vaidade a brincar com o fogo. Esperemos só, como dizia o outro, que o céu não nos caia na cabeça...

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Nova Iorque 4

Numa das passagens de alfândega, em Heathrow, fui chamado à parte. Uma mulher-polícia pediu-me para abrir a mochila. Era uma senhora rechonchuda, de bochechas rosadas e redondos olhos azuis, que parecia uma personagem de um romance de Barbara Pym a quem tivessem impingido uma farda e um chapéu. 
Enfiou a mão no caos de roupa suja que era o conteúdo da mochila e descobriu o coração. Séria, levantou o olhar para mim à espera de um esclarecimento. Como é óbvio, aquilo era muito suspeito.  
Pensei em contar-lhe a história da escola de cinema, dos exercícios sobre a relação entre imagem e música, da descoberta daquele adereço no vigésimo andar de um arranha-céus no centro de Manhattan, mas pareceu-me complicado demais. Em vez disso, o que me saiu, numa voz sumida, entre soluços, foi: “Please, don’t break my heart...”
Uma pausa longa, um silêncio doido, um vazio que ia dali até à Rua 3 Este em Nova Iorque e voltava; e eu de braços caídos, mordendo o lábio, à espera que a senhora rasgasse a borracha exterior, estraçalhasse a esponja interior e me humilhasse em público — um falso coração exposto para a risota de todo o aeroporto. 
Mas, encarando-me com uma leve, levíssima, ironia azulada, a mulher-polícia largou o coração na roupa suja e fez um gesto para que eu avançasse. “Pode seguir”, disse.
E eu obedeci.

sábado, 10 de setembro de 2011

Nova Iorque 3

Telefonar para Portugal do cimo do Empire State Building.
Sair da sala de montagem da escola de cinema e apanhar o choque da manhã; uma felicidade zonza de cansaço, um quase-desmaio de excesso de luz.
Uma canção começada num dó esquisito, rígido, robótico, que a certa altura se abre para um ré, fá, um mi-menor doce e quente, humano, próximo.
Telefonar para Portugal do cimo do Empire State Building.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Nova Iorque 2

Em 2001, soube do ataque às Torres do World Trade Center pelo telefone. Uma voz amiga descrevia-me as imagens que passavam na televisão e eu fazia perguntas simples, “objetivas”, como que para me defender da notícia, para me acalmar.
Horas mais tarde, estava nos ensaios do que viria a ser a peça Escrever, falar. Éramos dois de pé e dois sentados, na sala branca de uma terra longe. Nos intervalos falávamos do fim do mundo e do teatro diferente que queríamos inventar. Ríamos, fazíamo-nos de fortes, atirávamos disparates uns aos outros. Mas, sobre nós, na sala atravessada pela luz do dia, havia um silêncio novo.
Voltámos a ver as imagens à noite; passavam uma e outra vez e nunca envelheciam.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Nova Iorque 1

Em 1996 eu estava em Nova Iorque a fazer um cursinho de cinema e precisava de um coração para um exercício sobre a relação entre música e imagem. Uma cena de dois, três minutos; a breve história de um homem que, com o frigorífico e os bolsos vazios, acabava por ter de jantar o próprio coração. A música apareceria nesse clímax, quando o homem pegava nos talheres e se lançava a comer, com a contenção possível, o seu “músculo da alma” — uns violinos leves, alegres, que pareciam dizer, com vozes de hiena, “isto é normal, isto é normal, isto é perfeitamente normal”.
Andei o dia todo pelos talhos à procura de um coração que fizesse o serviço, mas eram todos pequenos demais, moles demais, magros demais, corações de coelho, corações de galinha. Os corações de boi estavam esgotados. Desconfio que, mesmo se tivesse conseguido, através de algum tráfico mórbido, um coração humano, não teria ficado satisfeito. Aquilo estava ali à minha frente, era “coisa concreta”, era um “facto”, e no entanto parecia-me sempre falso, triste, morto. Estava tramado, tinha de filmar no dia seguinte e faltava-me o essencial. Passaria a noite em claro, a tentar escavar uma qualquer ideia rápida, “Nova Iorque, fora de horas”...
Até que, no fim do dia, numa loja de adereços descoberta por um colega, lá acabei por arranjar um coração a sério. Um coração realista: de borracha por fora e esponja por dentro.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Agrafador

Em 2006, Christoph Niemann fez esta bela capa para a New Yorker. Qual seria a tradução europeia disto? Um batalhão de Merkels assobiando para o alto enquanto agrafa a bandeira da União?

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

"Toda a gente sabe"


Está por toda a parte a conversa mole do "toda a gente sabe", "as coisas são mesmo assim", "isto não há volta a dar-lhe". É um conformismo vazio, pornográfico, que não ajuda nada, não leva a lado nenhum. Agora a sério, não concordam? E se regressássemos ao futuro?

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Fora da escala

Sim, é verdade, isto anda muito complicado. Uma boa ideia — ouçamos John Cage (autor desta peça, Organ2/ASLSP As Slow As Possible, cuja apresentação se prolongará até 2640) — é pensar fora da escala.


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Reportagem 2


"Há um ponto a partir do qual a filosofia, para não perder a face, tem de se tornar outra coisa: performance." (Costica Bradatan)

domingo, 7 de agosto de 2011

A alegria de Pablito Aimar

Que diferença faz a alegria, gostar daquilo que se faz. Sim, foi bonita a festa. Mas, sem querer ser desmancha-prazeres, acho que ainda falta um retoque importante: Aimar a capitão, já!

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Aula de comédia

O jogo com o Trabzonspor foi uma chatice de corpo presente, é verdade. Mas o golo de Nolito fica na gaveta dos para-sempres. Aquilo foi uma aula de comédia a sério. 
Primeiro: não dizer, aguentar, sangue-frio. Segundo: não dizer, sugerir, enganar. Terceiro: já ninguém está à espera? Agora sim, dizer. Com o máximo de surpresa e o mínimo de esforço. 
Primeiro, uma pausa de pensamento irónico, como uma daquelas silenciosas frases de Walser que se recolhem para avançar. Depois, um truque marxista, na variante Groucho: uma simulação de deitar três trabzonsportistas à relva, olaré. E, por fim, um pequenino toque, quase menos que um chuto, um pontapé de criança, cem por centro Charlot. 
A bola a rolar devagar para as redes sob uma música de filme mudo, uma cançãozinha a preto e branco. Acho que até os turcos se comoveram, caramba. Palmas, bravo, que bela aula, Nolito. 

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Europa? Cala-te e come

António Lobo Antunes conta aqui que, um dia, em miúdo, perguntou ao pai o que queria dizer "democracia". A resposta foi imediata: "Cala-te e come."
É uma boa legenda, tristemente, para a atual situação da Europa. Está mais que visto que estas sequências de negação, reuniões de emergência e resgates financeiros não resolvem nada e nem sequer compram tanto tempo quanto isso. Além do mais, a Espanha e a Itália são grandes demais para serem resgatadas. É mais que altura da política tomar as rédeas do problema. 
Ou é preciso mais o quê, senhores? Que os europeus ocupem as praças? Temos deixado a Europa e a política nos gabinetes durante demasiado tempo, por isso agora não é muito fácil imaginar uma resposta sem efeitos secundários. Uma hipótese boa seria talvez um acordo para a convocação de eleições europeias, de modo que os partidos europeus pudessem apresentar as suas soluções de fundo para esta crise —  verdadeiras visões para a Europa no séc. XXI — e os cidadãos europeus fossem chamados a dizer de sua justiça. "Pai, o que quer dizer 'democracia'?"

terça-feira, 2 de agosto de 2011

El Loco volta a atacar

Juliette Binoche diz que representar é como descascar cebolas: descascar, descascar, até chegar a uma espécie de transparência.
Felizmente nem todas as cebolas fazem chorar.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

domingo, 31 de julho de 2011

Vem aí o novo Chico, queremos desforra!

Tenho no currículo as honras trocadas de ter cantado para o Eusébio e ter jogado futebol com o Chico Buarque. 
Foi há dois ou três anos, mais?, essa jogatana, uma coisa organizada pela produção do documentário Meu Caro Amigo Chico, da Joana Barra Vaz. E, apesar das indicações poetico-táticas do Sérgio Godinho, levámos um-zero e um banho literal. Agora que há a desculpa de um novo disco do supercraque, que tal marcar uma bela desforra para um dia de sol?

sábado, 30 de julho de 2011

Vida boa


Há quem diga que os filmes de caubóis estão em risco de extinção porque o relativismo moral dos nossos tempos é um habitat adverso para aquelas histórias de heróis e vilões. Pode ser, mas talvez a coisa deva ser posta ao contrário. Se é assim o mundo, não terá de ser assado o contramundo da ficção?
A propósito, vale a pena ver ou rever Stagecoach, o primeiro Ford em que John Wayne é protagonista. Um filme que fala de amor e morte com uma clareza perdida, uma história onde moral e ética aparecem como países distintos; cinema vivo, onde o mais importante passa antes ou depois das palavras. Quero tudo menos fazer uma crítica do filme, mas deixem-me enumerar três momentos eternos. 
Primeiro, a cena em que a mulher da má vida (Claire Trevor) se apaixona pelo fora-da-lei justiceiro (John Wayne). O que temos é o ponto de vista dela dentro da carruagem: o chapéu do caubói é um círculo branco. Ele estava de cabeça baixa, mas agora levanta o olhar para ela; tudo dura só um instante, logo o homem volta a baixar a cabeça. O chapéu branco de novo — o mesmo plano e, entanto, tão diferente agora: em cima do corpo do caubói, em vez da cabeça, um disco de luz, uma ideia, uma aura.
O reverso desse plano surge pouco depois, quando a carruagem que dá nome ao filme é atacada pelos índios. Contra o deserto resplandecente, no meio do nada, a carruagem negra puxada por cavalos negros, vista de cima, como uma coisa que corre sem sair do sítio — que imagem mais justa para a morte?
E, no final, os dois palavrões, amor e morte, morte e amor. John Wayne está na povoação, na rua principal, num anunciado duelo contra três cobardes, para vingar o pai e o irmão. Dispara e atira-se para o chão. Corte: Claire Trevor, deixada à espera, grita.  Wayne deixara-a junto a casa, na zona da má vida, perto de uma barra de atar cavalos. De susto ou premonição, o grito da mulher?
Belo susto, afinal. Afinal a barra não é para cavalos, lembra antes uma barra de balé, e afinal a mulher não é da má vida, lembra mais uma princesa de conto de fadas. Wayne está vivo, claro, e leva-a numa carruagem nova, descapotável, para um final feliz num rancho algures. Dito assim, já sei, parece burguês e triste e excessivo para os nossos tempos estreititos. Mas vejam, vejam, só vendo: que gestos, que olhares, que silêncios, que tiro.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Um pouco mais de loucura

Não acho que o devam proibir de beijar o símbolo como o outro. Até porque as crises de fé se resolvem, por vezes, com grandes gestos teatrais e só se chega ao perdão dos pecados com amor, muito amor. Agora, continuar a dar-lhe a braçadeira de capitão é que já me parece um poucochinho demais, não? Mas, peço desculpa, nem era de Luisão que eu queria falar.
Ontem ganhámos aos turcos impronunciáveis com duas belas obras de arte, foi bom. Viva Nolito! Palmas, Gaitán. E, no entanto, ainda falta alguma coisa.
Conta-se que um dia o Abade de Priscos deu a provar ao Rei o seu famoso pudim. O Rei gostou muito e perguntou-lhe quais eram os ingredientes. O Abade respondeu que tinha ovos, toucinho, açúcar, etc, e palha. "Palha?" espantou-se o Rei. "Com todo o respeito, Sua Majestade", terá dito o Abade, "todo o burro come palha, o segredo é sabê-la dar."
Com o Benfica, passa-se algo do género (e não, não estou a chamar burro a ninguém). Temos grandes artistas, já se vê, temos os ingredientes todos, os ovos, o açúcar, o toucinho até, mas falta ainda o resto. O segredo que faz o génio. O toque da diferença. Do meu modesto lugar de teórico de bancada, creio ter achado uma solução realista: El Loco Abreu.
Vamos buscá-lo ao Botafogo, por favor. Com ele no plantel, no balneário, no banco, teríamos aquele não-sei-quê de carisma que ainda falta ao nosso Glorioso deste ano. Contra as malapatas de Coentrões e Luisões, a melhor loucura. Vá lá, por favor.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

terça-feira, 26 de julho de 2011

Feito à mão

Não, eu adoro o campo. Muitas vezes imagino sombras de árvores feitas à mão pela alma de Lourdes Castro; caruma a preto e branco para pisar com plantas dos pés pintadas como as de Helena Almeida. E quantas vezes não desejo uma mata onde plantar aquelas bolas de aço e outros versos duros de Rui Chafes. O céu de um tamanho imensamente azul que só podemos ter longe da cidade e na pintura de António Palolo. E espaço, buracos na paisagem, clareiras-palcos, para cantar, dançar, dizer: para nos mascararmos de santos modernistas, olharapos futuristas ou de Albuquerque Mendes. Não, eu adoro o campo.



segunda-feira, 25 de julho de 2011

Reportagem


"A forma procura um artifício; a história procura um precipício." (Roberto Bolaño)