terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Crónica

Hoje os rostos espantados de miúdos pequenos deram-me uma definição: crónica é um texto de jornal onde se pode escrever que as árvores são azuis.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

O protocolo

"The Northern Ireland Protocol". Os jornalistas do New York Times que escrevem este artigo (Stephen Castle e Megan Specia) dizem que soa a título de thriller de espionagem. Em português não funciona tão bem, mas talvez seja uma boa ideia: tornar a diplomacia mais estilosa a ver se assim aumenta a transparência. E, por arrasto, talvez os "atores" passem a fazer melhores "personagens"...

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

A esquerda deve ler o que diz hoje, no Público, José Manuel Pureza

Não é a questão da liderança do Bloco. Mas, na entrevista de hoje, no Público, José Manuel Pureza fala da necessidade de uma "resposta social, política, frontal", e de uma maior ligação aos movimentos sociais. A esquerda, toda a esquerda, tem de ouvir isto. 

    Para quem quer transformar o mundo para melhor, não pode bastar o jogo das eleições. Essa tem de ser uma luta quotidiana, de proximidade, nos lugares onde trabalhamos, onde nos juntamos, onde vivemos — imaginando formas de não ficar preso a reivindicações setoriais, mas ir pensando sempre o todo da sociedade. O que temos? O que queremos? Para onde devemos caminhar? 

    E é preciso abrir a janela da política e olhar para lá da manchete do dia seguinte. Sonhar um país mais justo, mais aberto, mais vivo — sonhar, sim, falta sonho na política. Sonhar, e depois fazer por isso.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

A utopia da quinta-feira

Há qualquer coisa especial nas quintas-feiras. Não sei. São dias esquinados e livres. Se os pudesse pintar, escolher a cor de os revelar, escolheria talvez dourado ou fúcsia. No poema Hora mágica, Drummond de Andrade escreve: "Ó vida! Ó quinta-feira inteira!/ pisando a areia que canta, o barro que clapeclape,/ a poça d'água que rebrilha." 

    Ou talvez escolhesse a cor da água, a cor de um dia de sol, as cores impossíveis que só têm nome dentro de nós quando somos livres. Lá diz o verso final do poema de Drummond: "Igual aos índios. Igual a mim mesmo, quando sonho."


(versos do poema "Hora mágica", Boitempo, Carlos Drummond de Andrade, ed. Tinta-da-china)

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Recortes de artigo do New York Times sobre torres de porcos na China

“Everything has gone up"

pork supply is a strategic imperative

as tall as the London tower that houses Big Ben


high-definition cameras 

uniformed technicians in a NASA-like command center

more than one million pounds of food a day 

through high-tech feeding troughs

a long love affair with pigs


a symbol of prosperity

the country’s strategic pork reserve


mammoth industrialized pig farms

have sprung up

“Everything has


Hubei Zhongxin Kaiwei Modern Animal Husbandry


background in cement is useful in pig farming

hot baths and warm drinking water to the pigs


one-quarter of the feed will come out 

as dry excrement that can be repurposed 

as methane to generate 

electricity


would “fall under others’ control if we don’t hold our rice bowl steady”

Mr. Xi said 

“We would never dare do that,” 

Mr. Stuart said

“It’s just too risky”


go vertical

on the world


as tall as

Everything





(recortado daqui)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

De vez em quando, é preciso abrir o Livro

 "Sinto-me tão isolado que sinto a distância entre mim e o meu fato."


(Livro do Desassossego, Bernardo Soares, ed. Richard Zenith, Assírio & Alvim)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

A nossa culpa

Leio na New Yorker que, desde 2014, morreram, "pelo menos", vinte e cinco mil pessoas a tentar atravessar o Mediterrâneo para chegar à Europa. Leio ainda que muitos migrantes trazem consigo pequenos sacos com terra do seu lugar de origem. E assalta-me a visão de uma montanha, feita da terra desses saquinhos, irrompendo desde o fundo do mar — como um monumento útil, que desse passagem ao sonho africano e forma à culpa europeia.


(The New Yorker — The Missing, by Alexis Okeowo)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

O bebé Pessoa

Lancei-me a ler a biografia de Fernando Pessoa, escrita por Richard Zenith, e já estou apanhado. Alguém só feito de palavras ganha uma vida de carne e osso, com datas, nomes de ruas, de familiares, de conhecidos, etc. — uma vida de carne e osso e um movimento de cinema. Como é que se diz? Uma ideia começa a ganhar figura. 


    Tentar imaginar, por exemplo, o bebé Fernando Pessoa muda qualquer coisa naquela parte do cérebro que se chama língua portuguesa.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Escrever politicamente

Na New York Review of Books, Ben Lerner escreve sobre a obra de Victor Serge. Cita os céus que brilham na ficção do escritor nascido Victor Lvovich Kibalchich, em Bruxelas, sublinhando como "questions of political commitment and questions of sensuality can't be separated out".

    "It's not that Serge was committed to a vision of History but stopped to smell the flowers — it's that the question of how sensual particulars vibrate with the 'great ensemble of life,' how you experience the latter 'by virtue' of the former, is a central political question in the fiction." (The Faces of Victor Serge, Ben Lerner)