quarta-feira, 24 de julho de 2013

Marselha, perguntas

Na London Review of Books, Neal Ascherson cita uma frase publicitária: “2013 não é o primeiro ano em que Marselha é Capital Europeia da Cultura. A primeira vez foi em 1940.” Nessa altura milhares de refugiados tentavam fugir dos nazis a partir deste grande porto europeu. Arendt, Benjamin, Chagall, Tzara, Weil e tantos anónimos. É preciso ler isto, lembrar isto aqui. A Europa também é esta memória dura, e tantas perguntas.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Mais isto

Ensaios de uma peça de teatro-e-tudo em Marselha. Um encenador francês, uma atriz finlandesa, uma atriz francesa, um ator português, uma videoartista escocesa, um músico alemão, um escritor português. A Europa é isto. Devia ser mais isto.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Como é que é, “poder moderador”?

Quando mais precisávamos de um árbitro com autoridade, eis que se confirmam as piores expetativas: temos um bandeirinha parcial.

sábado, 20 de julho de 2013

Senhor Presidente, por favor, não dê mau nome aos jogos de tabuleiro

Há ótimos jogos para brincar às combinações. Este Set é um bom exemplo. Agora, no lugar da política, não. Já perdemos demasiado tempo. Esperemos que o Presidente se deixe de jogos de tabuleiro e convoque eleições antecipadas. Um governo revogável — isso é que causa instabilidade. Democracia, democracia, democracia já!

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Discursos dobrados


Quando se junta no caldeirão a cassete, o maquiavelismo, o politicamente correto e o tecnocratês, e se deixa tudo a cozer em lume brando durante semanas com umas pitadas de “salvação nacional” por cima, o mais certo é termos o caldo entornado. Só ruído e mais ruído. O facto é que os partidos têm andado demasiado tempo a falar dobrado. A coligação PP-PSD diz “irrevogável” e “estabilidade” quando quer dizer “oportunismo” e “austeridade”. O PS diz “salvação nacional” quando quer dizer “tática”. O PCP diz “patriótico” em vez de “cartilha”. E o BE grita “pacto de agressão” quando devia andar a traduzir o que ouve quando ouve “Europa”. De maneira que vamos assim, passeando sob as cagarras, assobiando para o lado, confiando que, por não pensarmos nisso, o céu não nos cairá na cabeça.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Reportagem 9


"E acontece o seguinte: quando estranho uma pintura é aí que é pintura. E quando estranho a palavra é aí que ela alcança o sentido. E quando estranho a vida aí é que começa a vida." (Clarice Lispector)

sábado, 13 de julho de 2013

Sobre uma fotografia de Enric Vives-Rubio

A figura à direita no sofá olha em frente com a oca solenidade de quem está no solário, à espera, a trabalhar para o bronze. À esquerda, o homem grisalho fecha-se sobre si mesmo. Mais à esquerda, outros dois homens olham para alguma coisa atrás da câmara, aproveitando qualquer pretexto para não enfrentarem a questão sobre a mesa. Já a mulher junto a eles parece fazer um esforço contra a náusea que não sabe de onde vem. No extremo oposto o homem de fato escuro olha para os pés das pessoas em frente pensando no tempo. Quanto tempo já terá passado, quanto tempo faltará ainda. Um pouco mais para o meio, temos o anfitrião. Um homem de fato cinzento, estranhamente descontraído. Sentado de perna cruzada e como que atravessado por um relógio de pé, sorri para dentro. No chão vê uma ideia de que ninguém desconfia e isso diverte-o por um instante. Este instante que a fotografia fixou. Quanto tempo. Sobre todo o grupo, uma imensa pintura em tons de castanho. Uma imagem confusa, monstruosa, triste.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Portugal precisa de uma coligação Syriza?

Chamem-lhe como quiserem, mas precisamos de uma coligação à esquerda que queira salvar, renovar, reinventar o sonho europeu — dizendo não à austeridade, e dizendo sim à solidariedade. Lutando aqui, na Europa que vai de Atenas a Berlim e de Dublin a Lisboa, pela transparência, pela democracia — e por uma União digna desse nome.

domingo, 7 de julho de 2013

A democracia é revogável?

A fórmula cozinhada pelo PSD e pelo CDS-PP configura, só não vê quem não quer ver, um autêntico golpe palaciano. “Palaciano” como em “Palácio das Necessidades”. Nesta versão o líder do CDS-PP, conhecido ex-irrevogável, torna-se uma espécie de primeiro-ministro de facto e Passos Coelho converte-se na rainha da Inglaterra do Governo e da coligação. Talvez para os próprios seja divertido brincar à dança das cadeiras, agora o país é que não suporta mais isto. E tem todas as razões para não suportar.
Até terça-feira, pelo menos, Portugal fica entre parêntesis, mas tudo indica que o Presidente abençoará esta solução mais que pífia — por respeitinho aos “mercados”, por medo da democracia. O que, a concretizar-se, será gravíssimo. Aliás, olhando para trás, é fácil ver uma ligação direta entre o “pânico” com a perspetiva de eleições, que surgiu instantaneamente, como uma reação alérgica, dir-se-ia, após a demissão do ministro dos Negócios Estrangeiros, e o “não fui eleito coisíssima nenhuma” de Vítor Gaspar. É isto? A democracia está suspensa, senhor Presidente?

sexta-feira, 5 de julho de 2013

The true actor


Perdoem-me, só uma pequena interrupção para publicidade. É que O verdadeiro ator vai ser editado na América. Imaginem! 
Um excerto saiu agora na revista Ninth Letter (ed. Philip Graham).
E, dia 9, lá estarei eu no Disquiet a ler um excerto da tradução (um belo trabalho de Jaime Braz e Dean Thomas Ellis, edição de Jeff Parker). É às 18.30h, no Centro Nacional de Cultura.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Construir a mudança

Ricardo Costa diz bem ao dizer que "a carta de demissão de Vítor Gaspar foi um beijo de morte de um narcisista absoluto" e "a escolha de Maria Luís uma loucura que ficará na história".
 
Pacheco Pereira tem razão ao afirmar que "é preciso muito cuidado em aceitar pelo seu valor facial tudo o que se anda por aí a dizer". E que, por trás da demissão do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, estão taticismos eleitorais. 
 
E esta crónica de Daniel Oliveira roça o profético.
 
Venham as eleições. Agora falta saber como é que a esquerda vai construir uma alternativa, uma esperança, para começar a mudar a Europa a partir deste nosso lugar de séculos e futuro.
 
 

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Que livro lerias contra esta coligação da austeridade?


Na Praça Taksim, em Istambul, algumas pessoas protestam a ler. 
No Largo do Carmo, em Lisboa, protestarias lendo o quê? O Livro do Desassossego de Bernardo Soares, O Nome das Coisas de Sophia de Mello Breyner Andresen, A Febre de Wallace Shawn?