quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Jornal Local: Portugal pela mão

Na entrada de cima da Rua da Trindade, um homem de casaco escuro segura um Portugal amarelo, feito de cartolina, aí do tamanho de dois bacalhaus e meio. De repente há uma rabanada de vento e o país parece que se vai. Que susto. O homem encosta a cartolina ao peito e segue caminho. Jornal Local esteve lá e pode garantir que: agora sim. Sim, senhor. Finalmente, Portugal avança.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A resignação do Papa, por exemplo

Devo confessar que este Papa sempre me pareceu um enigma demasiado frio e fechado. O primeiro gesto de Bento XVI que verdadeiramente me sobressaltou foi este da sua resignação. Sim, do modesto ponto vista deste escritor, a história de Joseph Ratzinger/Bento XVI começaria agora. Uma história em busca desse momento interior, misterioso, porventura intraduzível, em que alguma coisa acontece na alma do sábio alemão — e o faz decidir assim. Deixar de ser Papa. Pois, talvez esteja a puxar a brasa à minha sardinha, mas parece-me que o jornalismo de hoje devia ter espaço para este tipo de histórias. Sabemos os factos. Mas, para vermos as interrogações com o máximo de clareza, precisamos também de imaginação. Será?

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Itália leva demasiado à letra postal de O que eu gosto de bombas de gasolina

Quando, há uns dias, pensando apenas neste retângulo à beira-mar plantado, falei de um partido de humoristas, estava longe de imaginar um sucesso tão meteórico como o de Beppe Grillo. 25%! E, no entanto, o resultado das eleições italianas prova a ideia-base desse meu postal português — se os partidos não se reinventam enquanto espaços de liberdade e abertura, o descontentamento encontrará outros canais, mais ou menos populistas, mais ou menos eficazes, mais ou menos engraçados, mais ou menos perigosos.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Aimar contra a troika

Ontem ouvi alguém dizer que o Aimar tinha de sair no fim do ano porque qualquer coisa e "a massa salarial"... Logo a seguir, plim, o grande Pablito faz isto. Só para lembrar que o futebol joga-se é com a cabeça. O argentino mais português do mundo merece todo o nosso aplauso, ponto final, ponto de exclamação, parágrafo. Mesmo sentado no banco, lesionado, constipado, é ele o porta-bandeira da mística benfiquista. Ofereçam-lhe mais um ano, dois, dez, ofereçam-lhe a cadeira de treinador e de presidente. E não tragam a conversa contabilística para o relvado da catedral. Haja respeito, por favor.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Bons sinais

São bons sinais estes protestos em forma de canto ou de piada. Mostram que, mesmo debaixo de tanta crise e desesperança, o país tenta responder à falta de horizontes com a inteligência da imaginação. Na hora justa, um ato poético vale mais que mil indicadores. As faturas de amor-com-amor-se-paga, as Grândolas que nos hão de levar à vitória, tudo isto é poesia em movimento. Poesia, exato — e não há nada mais real. Nem nada mais perigoso para os podres poderes.
Agora é preciso que, no terreno das ideias, no campo da palavra-ação — no lugar da política! —, haja gente capaz de seguir o exemplo. Não, não estou a pedir que se construa uma alternativa a esta coligação entre tecnocracia arrogante e direita populista com um partido de cantores e humoristas. O que quero dizer é que é preciso outra clareza, outra franqueza, outra ousadia, e novas vozes. Que, no chão nobre e difícil da política (cada vez mais difícil e por isso cada vez mais nobre?), possam surgir gestos assim imaginativos e abertos. O país da austeridade é guardado pela linguagem monocórdica: temos de a romper com palavras todas futuras.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Um poema de W.H. Auden


MUSÉE DES BEAUX ARTS


About suffering they were never wrong,
The Old Masters: how well they understood
Its human position; how it takes place
While someone else is eating or opening a window or just walking dully along;
How, when the aged are reverently, passionately waiting
For the miraculous birth, there always must be
Children who did not specially want it to happen, skating
On a pond at the edge of the wood:
They never forgot
That even the dreadful martyrdom must run its course
Anyhow in a corner, some untidy spot
Where the dogs go on with their doggy life and the torturer's horse
Scratches its innocent behind on a tree.

In Brueghel's Icarus, for instance: how everything turns away
Quite leisurely from the disaster; the ploughman may
Have heard the splash, the forsaken cry,
But for him it was not an important failure; the sun shone
As it had to on the white legs disappearing into the green
Water; and the expensive delicate ship that must have seen
Something amazing, a boy falling out of the sky,
Had somewhere to get to and sailed calmly on.



segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Telegrama para o Parlamento Europeu

Caros deputados, a proposta de orçamento 2014-2020 não é só curta, é de vistas curtas. Uma proposta eurocética!... Um gesto forte e claro no Parlamento, o primeiro palco da democracia, poderia ajudar a desatar o nó em que a Europa se vem embrulhando. Aqui fica o pedido simples deste cidadão: votem contra. 

sábado, 16 de fevereiro de 2013

A hora Tacuara

Tenho de confessar que sempre olhei para o Cardozo com o oblíquo coração dos desconfiados. O Tacuara mexe-se em câmara lenta, falha bolas aparentemente fáceis, dispara remates de distâncias irrealistas, e nunca desata aquele ar de tristice metafísica. Não sei, talvez seja da altura. As chuteiras paraguaias do nosso avançado estão bem assentes na relva mas dá a impressão que a cabeça está demasiado lá para cima, no alto da mais alta montanha, onde o ar é rarefeito e frio. Apesar disto, apesar de todo o meu pé-atrás em relação ao artilheiro pé-canhão, aquela descida aos infernos no jogo com o Nacional, foi uma supresa, um choque, um susto desagradabilíssimo.
Mas hoje olho para o avançado com um coração novo, mais redondito, caramba. Alguém que sai do poço fundo assim tão rápido, de um dia para o outro, com tanta modéstia e elegância, não é só alto, imenso, gigante, é mesmo, como é que se diz?, grande. Aquele golo na Alemanha, aquilo foi de pastelaria chique. Uma simulação de baile sentando o primeiro leverkursenista, e depois aquele toque leve, de massa folhada, por cima do guarda-redes. Na relva nevada o paraguaio cabeça-no-ar brilhou, brilhante, viva, palmas. Já sabemos que não vai poder jogar amanhã contra a Briosa. É uma pena. Que, na planície solar da Luz, os colegas se lembrem dele. Na sempre temível hora agá, não é para tremer, ouviram? Basta levantar devagarinho as sobrancelhas e, ah!, largar a bola contra as redes.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Almada, hoje, 21.30h

Almada recebe hoje um espetáculo de realidade. É na chamada sala experimental do Teatro Municipal Joaquim Benite, às 21.30h. Com o super, magistral, genial Ivo Alexandre!


 Adalberto Silva Silva — um espetáculo de realidade é a alma de Adalberto Silva Silva em formato televisivo. Adalberto é o célebre desconhecido, o triste homem comum, um tipo que de tão normalzinho se apalhaça dos modos mais surpreendentes. Um cidadão que, neste país pobre e maravilhoso, quer juntar-se a uma cidadã para se descobrir por inteiro. Em resumo, a personagem do mais adalbértico dos anti-heróis portugueses sai agora do papel do teatro para o oxigénio da realidade. Uma comédia em formato de bolso sobre o desejo, o sonho e os chamados problemas práticos. É a sério, sim, e é para rir, pois. Para rir a sério?

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Cá de casa

Se sou assaltado por dúvidas de fé em relação ao país, basta ver uns minutos de As coisas lá de casa para ficar logo de bem com a minha alma lusa. O filme de José Miguel Ribeiro é para crianças dos 0 aos 6, mas dá uma bela lição aos mais cotas. Que bom ver-se uma produção nacional juntando assim originalidade e clareza, rigor e humor, inteligência e imaginação. Que bom saber que, afinal, sim, os santos da casa podem fazer milagres. É que não é fácil ser assim simples. As coisas lá de casa: música nada óbvia que as crianças querem logo cantar; tanta peripécia feita com tão pouco; desenhos mesmo animados, vivos riscos. Não tenhamos dúvidas, caros amigos. Coisas destas fazem mais por Portugal que uma procissão de mil cacilheiros atulhados de lustres.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Vida e arte, arte e vida

Ontem à tarde, ao ver isto:



lembrei-me, quem não se lembrou?, disto:



À noite, foi ao contrário. Ao ler um conto de J.F. Powers, onde um franciscano se prepara para morrer fechando os olhos que continuam a ver ("obscuramente") flocos de neve a cair, um texto belíssimo, duro, feliz, onde um franciscano lê a outro a história de um caso antigo — as pessoas estão reunidas para escolher um novo bispo; vendo um homem que regressa do campo com um pombo em cima da cabeça, não hesitam, é ele o escolhido —, só me lembrava daquilo. Os olhos do homem no canto do ecrã, enquanto o Papa anunciava a resignação em latim.


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Os jornais (saudade do futuro)

O narrador de A lenda do santo bebedor de Joseph Roth — uma voz irónica e fria como um fantasma de fato-e-gravata e chapéu de coco — diz-nos a certa altura: "Como é do conhecimento de todos os vagabundos, os jornais aquecem." Ora aqui está. É este, precisamente, o problema dos jornais nesta nossa era virtual. Online, os jornais não aquecem nem arrefecem. Não, não é trocadilho, ou não só, é uma constatação. Falando apenas dos jornais portugueses, o que este leitor vê todos os dias são autocarros à frente da baliza. Em crise há anos, o melhor que ocorre a quem manda nos jornais, aparentemente, é pôr tudo à defesa. Ou baixando muito o nível e matando marcas de referência, ou entrando em negação e desistindo de conquistar novos leitores, ou apostando tudo em "maquilhagens" (leia-se design) e "austeridades" (leia-se despedimentos). Não há soluções mágicas, claro. Mas acho que a solução de futuro está em arriscar no ataque. Ou seja, construir um jornal com uma clara visão do mundo (cultural, política, estética), de tal forma que ser leitor desse jornal seja afirmar alguma coisa. Fazer parte de alguma coisa. Como usar um emblema dizendo "eu sou isto", não sou aquilo. Bem sei que há problemas práticos tremendos. A publicidade no online ainda anda longe de ser suficiente. E o sistema seguido por alguns jornais portugueses para agarrar leitores fiéis (bloquear a opinião) também não é o melhor, digo eu. Menos má é a solução de alguns títulos estrangeiros, como o New York Times: depois de tantos artigos/ mês, bloqueiam o acesso e convidam o leitor a assinar o jornal. Mas se o jornal não for um mero apanhado de factos (já os temos todos grátis na net) nem um saco de opiniões gregas e troianas (ai o nacional-porreirismo...), se o jornal não tiver medo de afirmar uma visão clara, diferenciada, do mundo que temos e do que mundo que queremos ter, um caminho que, entre tanto ruído, nos leve ao coração de cada dia — se conseguirmos um jornal assim, os tais problemas práticos serão apenas isso, "problemas", e não "o problema", este drama, isto que agora nos parece pouco menos (não é?) do que um abismo intransponível. Neste país em crise, fazem tanta falta, ainda mais do que sempre — de novo, de novo: jornais frescos e quentes!

sábado, 9 de fevereiro de 2013

É já na sexta-feira!

Dias 15, 16 e 17, o Adalberto Silva Silva estará em Almada. É na sala experimental do Teatro Joaquim Benite (o Municipal de Almada). Apareçam! Gargalhadas contra a ☹*#$!?"☔ da austeridade.


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O novo é para sempre


Para mal dos meus pecados, separo sempre a amizade do resto. Por isso, estou mesmo à vontade para dizer que, se o assunto é pintura, o Tomás Cunha Ferreira é um dos poucos, raros, verdadeiramente grandes dos nossos dias. E mais: a pintura que ele agora mostra na Alecrim 50 é o ponto mais alto do seu caminho libérrimo. Uma arte que se faz de vida e ideias-na-vida. Telas que explodem e se abrem para alguma coisa que, não deixando de ser pintura, é ainda também escultura, teatro, poesia, dança. E isto aparecendo sem a frieza da premeditação, sem qualquer tique de modismo esperto, sem nenhum resquício de estratégia e auto-não-sei-quê, como é habitual vermos aos trambolhões por aí, nos prémios e nos jornais, na arte do regime. Não, aqui, mal ou bem, é tudo verdade. A pintura demorou estes anos todos a chegar até este ponto, precisou deste tempo exato para se soltar assim, e agora, de olhos bem abertos, podemos concluir que não podia ser de outra maneira. Mas claro que não é necessário pôr palavras nisto. Pasmados de alegria a olhar para estas telas-coisas-pinturas, basta-nos o movimento que elas guardam. Dança quieta, suspensa, mesmo antes de começar. Dança de pegar com a mão. Há anos, fiz uma música para falar da pintura do Tomás: "Humana e não natural/ como, por exemplo, ideias/ coreografar ideias/ com, por exemplo, amor." Em coerência, devia agora fazer uma desmáquina de silêncio para falar destes novos achados. Pintura que acharia impossível: começa sempre que para ela se olha, é ao mesmo tempo diferente de tudo e capaz de uma franca abertura a tudo, pensamento que realmente dança, poesia que sabe conversar. É quase pecado entrar numa sala e ver tanto sim junto. Viva, viva. O novo é para sempre, e isto é.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Nós, a democracia

Na rua e nos jornais a atenção está toda virada para as finanças, a economia, o dinheiro. E, no entanto, o nó do problema está noutro lado. Chama-se: política. E o desatar do nó tem o mesmo nome: política. Receio que, por uma vez, não seja o escritor a querer pôr as palavras acima dos números. É a mais pura verdade. 
A propósito disto, Daniel Oliveira escreve no Expresso um artigo apontando a fragilidade do Estado como causa principal da falta de qualidade (usemos um eufemismo) de grande parte da classe política atual. Estou de acordo com o diagnóstico geral — "interesses com muito mais poder do que o Estado", défices de "democratização das instituições internacionais ou transnacionais", "atomização da sociedade", partidos incapazes de construírem "narrativas que determinem visões políticas e ideológicas coerentes" —, mas não me parece que o grande remédio esteja na reconstrução de um Estado forte à antiga. Por trás desta visão, espreita a ideia de que o contrato social só pode assentar numa espécie de chantagem. Chamem-me ingénuo, chamem-me utópico, mas acredito que não tem de ser assim. 
Isto dito, é claro que, na discussão sobre a necessidade de um Estado social a sério, estou com o Daniel Oliveira contra as arrogantes visões tecnocráticas de Vítor Gaspar, contra os vagos arroubos modernizantes de Passos Coelho, contra as ideologias pronto-a-vestir do PP. Mas acho que, infelizmente, a cura para a qualidade da política não tem remédio tão fácil. Não há um frasco de Estado forte que nos livre deste mal. É preciso mais, é preciso um milagre. Chama-se: democracia. Tem de ser a democracia, temos de ser nós, o povo, a mudar isto. É um daqueles momentos em que não adianta pedir um gesto a Maomé. Só voltando a acreditar na política, só ressonhando a política com ideias e paixão. Isto agora é um trabalho para a Montanha.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Jornal Local: tempo e temperatura

Na Calçada da Estrela, na esquina da Assembleia da República, o técnico de mobiliário urbano sobe ao escadote para compor o placar do tempo e da temperatura. Terá sido um parafuso a menos? Jornal Local não possui informações que confirmem ou desmintam tal hipótese. O facto é que as horas não caíram na cabeça do técnico por um milímetro, uma nesga, por um triz.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Contracena

Acabo de ler a tese que Marta Cunha escreveu sobre o meu teatro. É uma grande honra ver o meu trabalho assim sob a luz das ideias. E é também um sobressalto e uma grande ajuda. Ainda mais quando o espaço crítico nos meios de comunicação regride à vista desarmada. A tese, Uma coreografia da palavra: a relação entre texto e cena na dramaturgia de Jacinto Lucas Pires, percorre diferentes fases (!) da minha escrita de teatro, tendo como eixos as peças Figurantes e Silenciador. Algumas coisas eu já sabia ou pressentia, mas outras foram mesmo novidade — ou antes, como nos momentos maiores de uma história bem contada, surpresas com sentido. Por exemplo, a ideia de que a última "ondulação" da minha escrita (a partir de Octávio no mundo até agora?) se carateriza por enredos mais estruturados, maior "interferência no real" (o "mundo" do título dessa pecinha que escrevi para os PANOS da Culturgest) e por uma presença recorrente da família (escrever com três crianças à volta talvez tenha alguma coisa a ver com isto). Os meus agradecimentos públicos à Marta Cunha que atravessou os meus loucos textos sem enlouquecer, à Alexandra Moreira da Silva que orientou este trabalho rigoroso e claro e, já agora, à Faculdade de Letras da Universidade do Porto. A conversa sobre a necessária ligação entre a academia e a vida real também passa por aqui. Agora é esquecer tudo e voltar aos meus fantasmas de carne e osso. O quê, "vida real", terei ouvido bem? Isso só existe no teatro, não é?

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A nossa doença das palmeiras

Na minha distração, só há uns dias é que dei conta. As palmeiras do Príncipe Real estão cabisbaixas, paradonas ou pura e simplesmente desaparecidas. Ao que parece, há uma explicação científica, um nome, uma razão, e não é um fenómeno só dali. É uma doença conhecida, dizem-me, e muito espalhada. As palmeiras de Lisboa estão a morrer a partir de cima. Tão triste.
Já o disse noutros lados, sou um que-raio-de-escritor, que nem sei os nomes das árvores. Mas o das palmeiras sempre soube. São mais que árvores para mim. Coisas vivas de alegria, altezas de todo o desejo, com aquelas jubas em explosão contínua, sempre me deram um bom sorriso. Sempre senti que faziam disto uma Europa diferente – no melhor dos sentidos – uma Europa quente e aberta – e não será esse o nosso desígnio no frio mundo fechadão das troikas e da desigualdade?
Há aqueles versos de Sophia: 'Quando Helena Lanari dizia o "coqueiro"/ O coqueiro ficava muito mais vegetal”. Contra as linhas duras do casario, contra os céus monocromáticos, basta uma palmeirinha e tudo fica logo mais humano. Tenho todo o respeito pela ciência e pelos cientistas, mas talvez não seja coincidência esta doença das palmeiras ter aparecido agora. Talvez seja mais um sintoma da desesperança em que Portugal se deixou prender. Quem sabe, se reaprendermos a sonhar, se voltarmos a sonhar um país feliz, se quisermos querer de novo, as palmeiras recomecem a partir de baixo.