quarta-feira, 22 de julho de 2015

Responso de Brodsky

Estou com um livro na mão quando toca o telefone. Os poemas de Brodsky. E, quando o telefonema acaba, o livro desapareceu. Procuro por toda a parte mas não o encontro. Passado um bocado, distraio-me com as horas, se já serão horas de sair ou não, olho para a estante — lá está ele. Abro-o ao calhas, e acerto num poema que não conhecia: "Postal de Lisboa".

terça-feira, 21 de julho de 2015

Sobre uma fotografia de Duane Michals

Isto não é uma fotografia e isto não sou eu. Isto não são as minhas mãos fazendo fantasmas de T's, dois T's, sobre o meu corpo sobre o sofá. Isto não é um sofá sobre um tapete voador pousado numa sala de estar. Isto não é estar, não é voar, isto não é Magritte. Isto não sou eu a fazer de fantasma do fantasma na pintura atravessando o bosque para a realidade como que atravessando da pintura para a sala de estar. Isto não é encenado para a câmara. Isto não sou eu e isto não é uma fotografia.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Outra vez a história das duas velocidades?

É bom que se pense como sair da terrível embrulhada em que os austeritários nos puseram. Mas esta ideia de François Hollande não ajuda à democracia na União ou na Zona Euro. 
E se, em vez de duas velocidades, falássemos, por exemplo, de federalização da dívída, de um orçamento a sério (com receitas próprias) da União, de um Parlamento Europeu que fosse verdadeiramente a casa da democracia europeia e, perante o qual, a Comissão tivesse de responder, de um chuto para cima do Conselho Europeu (transformado talvez em segunda câmara, para ter em conta o equilíbrio dos diferentes interesses nacionais)?

domingo, 19 de julho de 2015

Investir para crescer

                          

Com o dinheiro que poupamos no treinador, trazíamos o Bernardo Silva de volta, isso é que era. A direção assumia o erro monstruoso, e no dia seguinte a mística começava logo a ganhar à matemática.

sábado, 18 de julho de 2015

A crise não acaba...


"O horror da política, tão caro aos liberais, é o pórtico para o fim da democracia" (Linhas Vermelhas, de José Manuel Pureza)

sexta-feira, 17 de julho de 2015

terça-feira, 14 de julho de 2015

À sombra, tudo é mais claro

Todos os Livros — Lourdes Castro


A exposição na Gulbenkian, com curadoria de Paulo Pires do Vale, junta o transcendente e o tátil com a melhor delicadeza.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Tempos tremendos

"(...) Entre eles qual dos deuses provocou o conflito?
Apolo, filho de Leto e de Zeus. Enfurecera-se o deus
contra o rei e por isso espalhara entre o exército
uma doença terrível de que morriam as hostes,
porque o Atrida desconsiderara Crises, seu sacerdote.
Ora este tinha vindo até às naus velozes dos Aqueus
para resgatar a filha, trazendo incontáveis riquezas.
Segurando nas mãos as fitas de Apolo que acerta ao longe 
e um ceptro dourado, suplicou a todos os Aqueus,
mas em especial aos dois Atridas, condutores de homens:

'Ó Atridas e vós, demais Aqueus de belas cnémides!
Que vos concedam os deuses, que o Olimpo detêm,
saquear a cidade de Príamo e regressar bem a vossas casas!
Mas libertai a minha filha amada e recebei o resgate,
por respeito para com o filho de Zeus, Apolo que acerta ao longe.'

Então todos os outros Aqueus aprovaram estas palavras:
que se venerasse o sacerdote e se recebesse o glorioso resgate.
Mas tal não agradou ao coração do Atrida Agamémnon;
e asperamente o mandou embora, com palavras desabridas:

'Que eu te não encontre, ó ancião, junto às côncavas naus,
demorando-te agora ou voltando nos tempos mais próximos,
pois de nada te servirá o ceptro e a fita do deus!
Não libertarei a tua filha. Antes disso a terá atingido a velhice
em minha casa, em Argos, longe da sua pátria,
enquanto se afadiga ao tear e dorme na minha cama.
Vai-te agora. Não me encolerizes: partirás mais salvo.'

Assim falou. Amedrontou-se o ancião e obedeceu ao que fora dito.
Caminhou em silêncio ao longo da praia do mar marulhante.
E depois de se ter afastado para longe, rezou o ancião
ao soberano Apolo, que Leto de belos cabelos deu à luz:

'Ouve-me, senhor do arco de prata, deus tutelar de Crise
e da sacratíssima Cila, que pela força reges Ténedo,
ó Esminteu! Se alguma vez ao belo templo te pus um tecto,
ou queimei para ti as gordas coxas de touros
ou de cabras, faz que se cumpra isto que te peço:
que paguem com tuas setas os Dânaos as minhas lágrimas!'

Assim disse, orando; e ouviu-o Febo Apolo.
Desceu do Olimpo, com o coração agitado de ira.
Nos ombros trazia o arco e a aljava duplamente coberta;
aos ombros do deus irado as setas chocalhavam
à medida que avançava. E chegou como chega a noite.

Depois sentou-se à distância das naus e disparou uma seta:
terrível foi o som produzido pelo arco de prata.
Primeiro atingiu as mulas e os rápidos cães; 
mas depois disparou as setas contra os homens.
As piras dos mortos ardiam continuamente."



(excerto do Canto I da "Ilíada" de Homero, tradução de Frederico Lourenço, edição da Cotovia)
 

sexta-feira, 3 de julho de 2015