terça-feira, 22 de dezembro de 2015

E se um dia acordássemos cegos neste mundo de imagens?

Voz Guia é a história do escritor Raúl Morais misturando-se com a História do mundo.
Dá todas as quintas-feiras, às 21.20h, na Antena 3. Mas também é possível ouvir aqui, a qualquer hora



Acho que isto é a minha maneira de desejar Boas Festas.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Cantona no Benfica?

Se eu fosse poeta, ontem tinha escrito um poema chamado "O dia em que cumprimentei Eric Cantona". Uma daquelas personagens estranhas, contraditórias, maiores que a vida, cada vez mais raras.
Talvez fosse boa ideia o Benfica aproveitar as andanças lusas do astro francês e convidá-lo para Bardo do Balneário. Se há alguém capaz de inspirar os artistas do Glorioso, é ele.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Hoje, às 21.20h, na Antena 3, há mais Voz Guia

E dá sempre para ouvir aqui.

                                                                       (imagem de livro bordado, da série "Avessos Encadeados", de Lourdes Castro)

Rir e pensar ao mesmo tempo?

Grande cena, uma peça que tenho estado a escrever "em tempo real" para o Teatro Oficina, estreia dia 28 de janeiro no Centro Cultural Vila Flor em Guimarães, com encenação de Marcos Barbosa. Nos ensaios dá para pensar e rir ao mesmo tempo — e quando a coisa estiver sob as luzes tremendas do teatro?

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Em Ponta Delgada, nos Açores, debaixo de um temporal

Talvez seja este o lugar certo — aqui onde é possível estar, ao mesmo tempo, nas nuvens e com os pés bem assentes no chão — para dar um viva ao acordo do clima.

sábado, 12 de dezembro de 2015

A crise do jornalismo é um buraco na cidade

(A propósito do "programa de rescisões voluntárias" no jornal Público.) Temos de encontrar rapidamente um modelo que permita fazer jornalismo a sério para o nosso tempo. Não sou nenhum especialista, mas acho que isso passa pelo equilíbrio ótimo entre ideias fortes e rigor à prova de bala, ousadia e seriedade. Um jornal hoje tem de ser, à cabeça, a afirmação clara de um ponto de vista sobre tudo, um modo único de olhar o dia-a-dia do mundo. Não concordam? E por onde é que começamos?

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Enquanto o mundo se complica

No sexto episódio de Voz Guia, o editor vai visitar o escritor. 
É às 21.20h, na Antena 3. Ou, a qualquer hora, aqui.

 

O céu de Lisboa

Só percebi a célebre canção do mestre branco que fala da resposta soprada pelo vento quando a ouvi na voz do mestre negro. Só vi Telegraph Avenue em Berkeley quando evoquei as palavras do poeta brasileiro sobre o tempo que por lá passou. Só o céu da minha cidade não tem tradução, não pode ser mudado para nada, não cabe em lado nenhum e muito menos aqui.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Às vezes, é bom dizer o óbvio:

Tempestade na Europa

A propósito das eleições francesas, Ian Traynor traça, no Guardian, o retrato assustador da Europa de hoje. Termina dizendo que cabe agora à Alemanha e a Angela Merkel segurar o barco. 
O problema é que grande parte da divisão, do ressentimento e da fragilidade que hoje se sente na União tem origem nas vistas-curtas da chanceler e do seu ideólogo-mor. Aqui chegados, a "âncora" alemã é só uma tentativa de negação da "tempestade". Não, a única via é avançar com um novo barco: uma democracia europeia digna desse nome. 

O campeonato da alegria já cá canta

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Voz Guia: o escritor Raúl Morais faz um pedido


Dá hoje, às 21.20h, na Antena 3, o quinto episódio de Voz Guia. A história de um escritor cego num mundo tão cheio de imagens.
É possível ouvir tudo aqui

It's not neorealism, it's journalism

This morning, in Cais do Sodré (Lisbon, Portugal, Europe), a white-haired man in a gray suit was rummaging through the garbage.

Não é neorrealismo, é jornalismo

Esta manhã, no Cais do Sodré (Lisboa, Portugal, Europa), um homem de fato cinzento e cabelo branco vasculhava o lixo.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Sobre uma fotografia de Bill Rauhauser

A notícia hoje sou eu. Os sonhos que ainda tenho para emoldurar. As memórias que ainda não se materializaram, tanta distância. Eu no meu corpo aqui. Se é verdade aquilo que se diz, que estamos neste mundo só de passagem, então as estações de comboios são os templos mais verdadeiros. Onde não há céus nem infernos, nem tenho de tirar o chapéu. Desde que seja o chapéu certo, claro. Para guardar melhor os pensamentos, que é como chamo a esta mistura de sonho e memória no tempo presente. Guardá-los quentinhos cá dentro. Todo o indizível debaixo de um chapéu branco. Hoje a notícia sou eu, uma primeira página só de silêncios. Este eu-homem magro curvado sobre a própria cabeça. Imagem tão fina, bem aberta nas mãos. E o pensamento nos trilhos desenhando curvas, desmanchando retângulos.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Voz Guia: um escritor cego dentro da sua história, dentro da nossa História

Recapitulando, o que aconteceu até agora em Voz Guia:

1
Um dia o escritor Raúl Morais acorda cego. Ana, a mulher, e António, o filho, já saíram de casa. Não há ninguém ali para o ajudar. O que é que ele vai fazer? Ligar a alguém? Pedir socorro? Será que consegue, sequer, fazer uma chamada de telemóvel?

2
António leva o pai pelo braço até a sala. Põe as notícias no rádio. É o dia histórico da queda do governo mas Raúl não consegue interessar-se. E, ainda por cima, depois dá música clássica ou, ainda pior, contemporânea. Raúl sente-se a enlouquecer. Se, ao menos, pusessem jazz…

3
Raúl ouve, pela vigésima vez, as notícias dos ataques terroristas de Paris. Ana e António querem levá-lo a dar um passeio. Raúl não tem a certeza, mas o ar da cidade anima-o. Por um momento, a família diverte-se de novo, como dantes. E depois o escritor regressa à vida real.

Hoje, às 21.20h, na Antena 3 — o quê?

Mo' better blues!

terça-feira, 24 de novembro de 2015

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Escritores

Um: Não sei se é engenhoso como um ingénuo ou ingénuo como um engenheiro.

Dois: ler poema Novela-nieve de Bolaño numa igreja-biblioteca em Montreal.

Três: "A risada da vida ficcional dura mais que a tosse sangrenta da morte." (James Wood)

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

sábado, 14 de novembro de 2015

Somos todos parisienses




Aprofundarmos o projeto de uma Europa justa, solidária, democrática e livre é a forma de não nos deixarmos vencer pelo terrorismo.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O teatro, a política, a vida

Não é de perder Neva, de Guillermo Calderón, com encenação de João Reis e interpretação de Lígia Roque, Cristóvão Campos e Sara Barros Leitão. Está no Teatro Carlos Alberto (Porto) e depois vai para o São Luiz (Lisboa).

 

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Um governo europeísta e de esquerda em Portugal!

                                                                                                                                                     (fotografia Expresso)

...Também é um sinal para a União Europeia: está na hora de começar a deitar abaixo o muro da austeridade e da tecnocracia.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Jornal Local: o punk

No Cais do Sodré um homem de penteado punk, calças rasgadas e brincos no nariz, entra no Banco com uma grande vara na mão. Jornal Local para, suspenso, a ver. Lá dentro, o homem põe-se na fila, muito educadamente, à espera da sua vez. Haverá uma relação familiar entre capitalismo e anarquia?

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Voz Guia

 

Voz Guia começou ontem, na Antena 3, às 21.20h. Chamam-lhe rubrica mas é uma radionovela, ou prosa radiofónica, ou o que se sussurra a preto e branco debaixo dos fotogramas de filmes por fazer.
Com as participações maravilhosas da Catarina Requeijo e do Miguel Fragata.
Dá para ouvir aqui.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Obrigado very beaucoup, Canadá

Foi muito bom estar em Toronto e Montreal a mostrar que eu não sou o verdadeiro ator. Mil obrigados por tudo, thank you, merci.


terça-feira, 27 de outubro de 2015

O Canadá ou um sonho

Como um detetive, ando por Toronto a investigar a frase de Cronenberg, que diz que o Canadá é como os EUA num sonho estranho.


sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Américo em Toronto

Com o país ao rubro, parto para o Canadá. Só por uns dias, ainda volto a tempo de ver o Presidente desdizer as tristes palavras de ontem
Primeiro, vou a Toronto, ao IFOA, International Festival Of Authors, encontrar-me com o Américo Abril de The True Actor (tradução de Jaime Braz e Dean Thomas Ellis). O Américo, sabem? Aquele ator português que entrou no filme Queres Ser Paul Giamatti.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

O cinema talvez

"O cinema talvez seja apenas a procura da distância mais justa entre dois olhares — a distância do olhar que nos olha, o que corresponde à distância de conhecermos como somos conhecidos."


(Obra Escrita 1, João César Monteiro)

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O maior ator português deixa os palcos


Neste momento tão duro, resta-nos agradecer tudo o que Luis Miguel Cintra nos deu — enquanto espetadores, criadores, cidadãos — e aplaudir para sempre.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Bem a propósito

Arte poética da batata

"And if a man could ask for a potato in the form of a poem, the poem would not be merely a more romantic but a much more realistic rendering of a potato."


(The Slavery of Free Verse, G.K. Chesterton)

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Juntar as duas grandes maiorias

Alguma direita anda desvairada com a hipótese de uma coligação de esquerda garantir um governo de esquerda, mas paremos para pensar com calma: fará algum sentido o PS, que fez campanha dizendo querer "virar a página da austeridade", dar a mão a um governo PàF depois de quatro anos em que a coligação de direita aplicou uma austeridade mais troikista que a troika? Não fará mais sentido o PS puxar o BE e o PCP para o palco das soluções, procurando — juntamente com outras vozes no Conselho Europeu, no Parlamento Europeu e na opinião pública europeia — mudar a Europa e o euro por dentro? A hipótese de um governo de esquerda, a ser possível, teria ainda a vantagem democrática de juntar as duas grandes maiorias resultantes destas eleições: a maioria que diz sim ao projeto europeu e a maioria que diz não à austeridade.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

"Toda a gente sabe"

Durão Barroso mostra-se assustado com a possibilidade da esquerda formar governo. Esquecendo a parte da chantagem — de novo o papão dos mercados contra a escolha democrática dos portugueses —, o ex-líder do PSD vem agora trazer o argumento da interpretação autêntica dos votos. Como é óbvio, é um argumento que não serve. Um voto é um voto, não está sujeito a juízos de intenção, do género "prognósticos no final do jogo". Os deputados, que foram eleitos com aqueles votos, é que farão as escolhas que acharem corretas. Não, a democracia não pode ficar refém de um qualquer "toda a gente sabe". Até porque muitas pessoas também terão votado PS para virar a página da austeridade e derrotar a coligação PàF — o que, segundo esta linha de raciocínio, impediria a possibilidade de um acordo do PS com a coligação de direita...

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Liberdade para os presos políticos em Angola


Leitura em lugar público

Na linha verde do metro, um barbudo descabelado lê Quartos Alugados de Alexandre Andrade. Se se detém na expressão "umas mãozinhas de anjo" (do primeiro conto, In Absentia) quando no metro se acende o aviso da estação seguinte, "Anjos", não se abrirá logo ali um portal para uma outra realidade ao mesmo tempo mais leve e mais profunda?

 

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Sem tracinho

Pingue Ponge é a poeta e o pintor, é Matilde Campilho e Tomás Cunha Ferreira, dois assim radiofazendo o mistério atlântico que trazemos em nós. Acontece noutra galáxia e tão cá. É preciso ouvir, ouvir, ouvir com todas as orelhas.

 

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Alô, António Costa?

O BE apresentou três condições para a viabilização de um governo liderado pelo PS: não ao congelamento de pensões, não à baixa da Taxa Social Única e não ao "despedimento conciliatório".  Não se fala, portanto, de saída do euro nem sequer de qualquer tipo de restruturação da dívida. Mais: Catarina Martins garante mesmo uma solução de governo à esquerda "com estabilidade" (no Expresso).
Se, perante isto, o PS não se senta sequer a mesa com o BE, comete um erro histórico. Desde logo, perde-se uma oportunidade de ouro para a clarificação da nova situação política — saber se, no fim de contas, a maioria de esquerda existente no parlamento é só "negativa" — e, num outro nível, o PS perde também a possibilidade de trazer o BE para a conversa de como mudar a casa europeia sem a ameaça, à cabeça, de saída do euro.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Um poema de Ruy Belo


MORTE AO MEIO-DIA



No meu país não acontece nada
à terra vai-se pela estrada em frente
Novembro é quanta cor o céu consente
às casas com que o frio abre a praça

Dezembro vibra vidros brande as folhas
a brisa sopra e corre e varre o adro menos mal
que o mais zeloso varredor municipal
Mas que fazer de toda esta cor azul

que cobre os campos neste meu país do sul?
A gente é previdente cala-se e mais nada
A boca é pra comer e pra trazer fechada
o único caminho é direito ao sol

No meu país não acontece nada
o corpo curva ao peso de uma alma que não sente
Todos temos janela para o mar voltada
o fisco vela e a palavra era para toda a gente

E juntam-se na casa portuguesa
a saudade e o transístor sob o céu azul
A indústria prospera e fazem-se ao abrigo
da velha lei mental pastilhas de mentol

Morre-se a ocidente como o sol à tarde
Cai a sirene sob o sol a pino
Da inspecção do rosto o próprio olhar nos arde
Nesta orla costeira qual de nós foi um dia menino?

Há neste mundo seres para quem
a vida não contém contentamento
E a nação faz um apelo à mãe,
atenta a gravidade do momento

O meu país é o que o mar não quer
é o pescador cuspido à praia à luz do dia
pois a areia cresceu e a gente em vão requer
curvada o que de fronte erguida já lhe pertencia

A minha terra é uma grande estrada
que põe a pedra entre o homem e a mulher
O homem vende a vida e verga sob a enxada
O meu país é o que o mar não quer




"Tem som no microfone?"


sábado, 3 de outubro de 2015

"A cidade precisa de outras mãos",

dizia ontem à noite Orestes no Teatro Nacional, olhando a mão transformada em faca — é mesmo isso. 

("Electra" de Tiago Rodrigues; Miguel Borges como Orestes)

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Um poema de Manuel Bandeira


ESTRÊLA DA MANHÃ



Eu quero a estrêla da manhã
Onde está a estrêla da manhã?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrêla da manhã

Ela desapareceu ia nua
Desapareceu com quem?
Procurem por tôda a parte

Digam que sou um homem sem orgulho
Um homem que aceita tudo
Que me importa?
Eu quero a estrêla da manhã

Três dias e três noites
Fui assassino e suicida
Ladrão, pulha, falsário

Virgem mal-sexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos

Pecai com os malandros
Pecai com os sargentos
Pecai com os fuzileiros navais
Pecai de tôdas as maneiras
Com os gregos e com os troianos
Com o padre e com o sacristão
Com o leproso de Pouso Alto

Depois comigo

Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas comerei
                                 terra e direi coisas de uma ternura
                                 tão simples
Que tu desfalecerás

Procurem por tôda a parte

Pura ou degradada até a última baixeza
Eu quero a estrêla da manhã.



quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Sondagens?!

Não quero acreditar que o país possa voltar a dar maioria à coligação da austeridade. A coligação mais troikista que a troika, a do "irrevogável" e do convite à emigração. A coligação que deixa Portugal ainda mais desigual, com dois milhões de pessoas em risco de pobreza. A coligação dos cortes cegos no Estado Social. A coligação das privatizações só-porque-sim. A coligação da tecnocracia: folhas de excel para tapar a ausência de uma qualquer visão de futuro. A coligação dos "amens" a Wolfgang Schäuble e à sua cartilha anti-solidariedade na Europa. Não, não quero acreditar. Domingo, temos de ir às urnas desmentir estas sondagens — e, finalmente, vencer os números com ideias.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Eu voto Livre

Porque é preciso vencer a coligação da austeridade em Portugal e na Europa.
Porque é necessária uma convergência das esquerdas.
Porque aceitar que o projeto europeu se tornou propriedade dos Schäubles deste mundo é uma forma de rendição — que levará ao retrocesso.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

No Jornal de Negócios de hoje, faço política!



"Quatro olhares sobre as eleições" — Anabela Mota Ribeiro entrevista Ana Margarida de Carvalho, Bernardo Pires de Lima, Ricardo Paes Mamede e este Jacinto que daqui vos escreve.

"Desejo um país onde a esperança não seja a palavra proibida, a palavra dos loucos, mas o terreno concreto de onde partem as ideias, as escolhas, a ação", começo eu por dizer.
 

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

O cinema como um livro grande

"The thing that was so wonderful for me about film acting, when I finally discovered it, was that it felt like walking into a book you wanted to be in." (Julianne Moore, na New Yorker)

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Somos todos gregos

 
                                                                     ©Filipe Ferreira


O D.Maria II de Tiago Rodrigues inaugura-se com três tragédias. Mas o espírito que se sente na velha casa é agora para cima e para a frente. Está na hora de lá voltar. Viva o teatro!

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Cortes surdos

O ensino artístico devia crescer, espalhar-se por todo o país, estender-se a todos, independentemente dos recursos das famílias. E o que é que o governo faz? Corta. Não saberá o ministro da educação que música também é matemática?

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Dançar no teto


Viram ontem aquela exposição coletiva de futebol-arte? Nico Gaitán fazia música sempre que tocava na bola, parecia que estava a tocar piano com as chuteiras. Até aquele golo falhado, aquele remate displicente com a parte de fora do pé, se desculpa como, não sei, uma pequena gralha, uma piada dentro da obra-prima, um momento de free-jazz em que o artista argentino decidiu, pura e simplesmente, recusar o óbvio.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Sobre uma fotografia de Konstantin Petrov

Atenção máxima às palavras, cuidado. Nada que possa vibrar nos vidros deste momento. Estamos dentro do momento. Todos os medos ainda bem arrumados. Estamos no cimo do monumento ao tempo que não volta para trás. Do lado de lá, o fogo pacífico do sol. Atenção máxima, proibida qualquer analogia. Que língua falávamos quando éramos assim novos?

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Responso de Brodsky

Estou com um livro na mão quando toca o telefone. Os poemas de Brodsky. E, quando o telefonema acaba, o livro desapareceu. Procuro por toda a parte mas não o encontro. Passado um bocado, distraio-me com as horas, se já serão horas de sair ou não, olho para a estante — lá está ele. Abro-o ao calhas, e acerto num poema que não conhecia: "Postal de Lisboa".

terça-feira, 21 de julho de 2015

Sobre uma fotografia de Duane Michals

Isto não é uma fotografia e isto não sou eu. Isto não são as minhas mãos fazendo fantasmas de T's, dois T's, sobre o meu corpo sobre o sofá. Isto não é um sofá sobre um tapete voador pousado numa sala de estar. Isto não é estar, não é voar, isto não é Magritte. Isto não sou eu a fazer de fantasma do fantasma na pintura atravessando o bosque para a realidade como que atravessando da pintura para a sala de estar. Isto não é encenado para a câmara. Isto não sou eu e isto não é uma fotografia.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Outra vez a história das duas velocidades?

É bom que se pense como sair da terrível embrulhada em que os austeritários nos puseram. Mas esta ideia de François Hollande não ajuda à democracia na União ou na Zona Euro. 
E se, em vez de duas velocidades, falássemos, por exemplo, de federalização da dívída, de um orçamento a sério (com receitas próprias) da União, de um Parlamento Europeu que fosse verdadeiramente a casa da democracia europeia e, perante o qual, a Comissão tivesse de responder, de um chuto para cima do Conselho Europeu (transformado talvez em segunda câmara, para ter em conta o equilíbrio dos diferentes interesses nacionais)?

domingo, 19 de julho de 2015

Investir para crescer

                          

Com o dinheiro que poupamos no treinador, trazíamos o Bernardo Silva de volta, isso é que era. A direção assumia o erro monstruoso, e no dia seguinte a mística começava logo a ganhar à matemática.

sábado, 18 de julho de 2015

A crise não acaba...


"O horror da política, tão caro aos liberais, é o pórtico para o fim da democracia" (Linhas Vermelhas, de José Manuel Pureza)

sexta-feira, 17 de julho de 2015

terça-feira, 14 de julho de 2015

À sombra, tudo é mais claro

Todos os Livros — Lourdes Castro


A exposição na Gulbenkian, com curadoria de Paulo Pires do Vale, junta o transcendente e o tátil com a melhor delicadeza.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Tempos tremendos

"(...) Entre eles qual dos deuses provocou o conflito?
Apolo, filho de Leto e de Zeus. Enfurecera-se o deus
contra o rei e por isso espalhara entre o exército
uma doença terrível de que morriam as hostes,
porque o Atrida desconsiderara Crises, seu sacerdote.
Ora este tinha vindo até às naus velozes dos Aqueus
para resgatar a filha, trazendo incontáveis riquezas.
Segurando nas mãos as fitas de Apolo que acerta ao longe 
e um ceptro dourado, suplicou a todos os Aqueus,
mas em especial aos dois Atridas, condutores de homens:

'Ó Atridas e vós, demais Aqueus de belas cnémides!
Que vos concedam os deuses, que o Olimpo detêm,
saquear a cidade de Príamo e regressar bem a vossas casas!
Mas libertai a minha filha amada e recebei o resgate,
por respeito para com o filho de Zeus, Apolo que acerta ao longe.'

Então todos os outros Aqueus aprovaram estas palavras:
que se venerasse o sacerdote e se recebesse o glorioso resgate.
Mas tal não agradou ao coração do Atrida Agamémnon;
e asperamente o mandou embora, com palavras desabridas:

'Que eu te não encontre, ó ancião, junto às côncavas naus,
demorando-te agora ou voltando nos tempos mais próximos,
pois de nada te servirá o ceptro e a fita do deus!
Não libertarei a tua filha. Antes disso a terá atingido a velhice
em minha casa, em Argos, longe da sua pátria,
enquanto se afadiga ao tear e dorme na minha cama.
Vai-te agora. Não me encolerizes: partirás mais salvo.'

Assim falou. Amedrontou-se o ancião e obedeceu ao que fora dito.
Caminhou em silêncio ao longo da praia do mar marulhante.
E depois de se ter afastado para longe, rezou o ancião
ao soberano Apolo, que Leto de belos cabelos deu à luz:

'Ouve-me, senhor do arco de prata, deus tutelar de Crise
e da sacratíssima Cila, que pela força reges Ténedo,
ó Esminteu! Se alguma vez ao belo templo te pus um tecto,
ou queimei para ti as gordas coxas de touros
ou de cabras, faz que se cumpra isto que te peço:
que paguem com tuas setas os Dânaos as minhas lágrimas!'

Assim disse, orando; e ouviu-o Febo Apolo.
Desceu do Olimpo, com o coração agitado de ira.
Nos ombros trazia o arco e a aljava duplamente coberta;
aos ombros do deus irado as setas chocalhavam
à medida que avançava. E chegou como chega a noite.

Depois sentou-se à distância das naus e disparou uma seta:
terrível foi o som produzido pelo arco de prata.
Primeiro atingiu as mulas e os rápidos cães; 
mas depois disparou as setas contra os homens.
As piras dos mortos ardiam continuamente."



(excerto do Canto I da "Ilíada" de Homero, tradução de Frederico Lourenço, edição da Cotovia)
 

sexta-feira, 3 de julho de 2015

terça-feira, 30 de junho de 2015

telex O Que Eu #5

Acabaram as Canções Crónicas na TSF.
Nelas tentei

SEPARAR O TRIGO DO TWEET

mas algumas pessoas acham que elas soavam demasiado tipo

CANÇÃO DE INTERVENÇÃO

A última dá para ouvir aqui.
Chama-se

GRANDE MOMENTO

(o título é enganador).




Este mês, primeiro no Festival de Almada (dias 5 e 6) e depois no Fórum Municipal Romeu Correia (a partir de dia 15), sobe à cena Escrever, falar. Uma peça que eu escrevi há uns duzentos anos e que foi estreada pelo .lilástico, com encenação de Marcos Barbosa e interpretação de Hugo Torres e Nicolau Pais.
Agora é a vez do Teatro dos Aloés a pôr a mexer de novo, com encenação de Jorge Silva e interpretação de João de Brito e João Pedro Dantas.
Sou suspeito, claro, mas estou curiosíssimo. Ainda dará para ler esse teatro em palco?




Dia 5 de julho, Os Quais tocam no Festival Silêncio.
É às 19.30h no Jardim da Praça Dom Luís.
Vamos acompanhados de gente boa para fazer barulhinhos e barulhões de inventar silêncio como deve ser.