sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Viva o cante

Em cima da hora

No Estado suspeitas de corrupção
Inocentes até prova de que não

Os mais altos cargos, maior gravidade
É preciso dar a ver a vera verdade

O ponto a que isto chegou
Será esta, como diz no Observador o historiador Rui Ramos,
“A hora mais perigosa do regime”?

E fazer desta hora
Agora algo novo
E se a política fosse
Servir o povo?

Tabloidismo, justicialismo, aproveitamento
Antes de cada palavra, pensar um momento

Separação de poderes para separar os podres
Sob a luz da lei não pode haver fracos nem fortes

O soundbyte não cabe no verso
Este é, como escreve no Expresso Daniel Oliveira,
Um teste “mesmo grave” para todos

E fazer desta hora
Agora algo novo
E se a política fosse
Servir o povo?




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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Jornal Local: amadores

Junto ao rio, no Cais do Sodré, o atleta amador passa a correr pelo pescador amador. Chove forte e o atleta vai completamente encharcado. Jornal Local estava lá para registar. O pescador segue o atleta com o olhar e atira, "Assim já vai com a roupa lavada!"

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

O bezerro gold

Já caiu um ministro
Mas o que é que é isto?

Pão c'o diabo amassou
São os vistos gold

O estilo submarino
Juntou-se ao casino

A soberania escorregou
Vestida de gold

O bezerro de ouro berra em chinês
Português com sotaque de milhões de cifrões

Dar aos ricos o que não
Se dá aos outros — não

Escolheu isso quem legislou
Com vista para o gold

Esta tecnoforma de estar na política
Já passou a zona crítica, vai, demente, em fuga pr’à frente

Já caiu um ministro?
É urgente o resto

Dar a voz já ao povo
Aí não há vistos gold



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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Reportagem 12


"...A perfeição exaustiva e absoluta do conceito, na prática, pode coincidir, acaba mesmo por ter que coincidir com uma disfunção crónica e uma fragilidade intrínseca." (W.G. Sebald)

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O relógio de cuco

Diz o Presidente
“As eleições serão
na data prevista
e ponto final”
Muito interessante
uma tal visão
tão positivista
sobre o seu papel

(refrão:)
Do muito, fazer pouco
Ver assim a presidência
Como um relógio de cuco

O regime semi-
presidencialista
pede mais do que um
semipresidente
Não é ser assim
anticavaquista
mas falta alguém menos,
digamos, ausente

(refrão)

Diz-se não-político
mas segura a men-
tira “irrevogável”
(esqueletos no armário)
Em estado crítico
está o país todo
e o PR, estável,
cumpre calendário

(refrão)




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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Um poema de Manoel de Barros


Sujeito


Usava um Dicionário do Ordinário
com 11 palavras de joelhos
inclusive bestego. Posava de esterco
para 13 adjetivos familiares,
inclusive bêbado.
Ia entre azul e sarjetas.
Tinha a voz de chão podre.
Tocava a fome a 12 bocas. 
E achava mais importante fundar um verso
do que uma Usina Atômica!
Era um sujeito ordinário.



sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Soul europeísta

Caro Mario Draghi, prego
Não ouças os falcões
Esses economistas alemães
Que querem que de Tallin a Cascais
Seja tudo um imenso Bundesbank

Cher Jean-Claude Juncker, please
Solidariedade
É só o que precisamos na verdade
Se o todo ainda é maior que a parte
E se a Europa é mais do que o Bundesbank

As periferias não são indigentes
Grécia, Espanha, Portugal e Irlanda
Tiveram crises bastante diferentes
As periferias não são caloteiras
A lógica que no euro ainda manda
É que está tristemente assente em asneiras

Herr Martin Schulz, bitte
Queremos democracia
Política e ideologia
Contra o populismo, a tecnocracia
A tabloidização e o Bundesbank 




(dá para ouvir aqui)



quinta-feira, 6 de novembro de 2014