segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Sobre uma fotografia de Amr Abdallah Dalsh

Primeiro, vejo o homem com a cabeça de fogo. A cabeça do homem não pensa nem deixa de pensar, não lembra nem esquece; arde.
     Depois vejo o homem de preto que está num plano adiantado e faz o movimento de atirar alguma coisa. O que me puxa a atenção é apenas o movimento, a sugestão, a ideia de movimento.
     Por fim, vejo o braço à direita. Um braço cortado pelo olhar do fotógrafo, um braço branco destacado, amplificado pelo espaço vazio em redor. A mão no final do braço segura uma pedra.
     Mas logo a cabeça em chamas chama-me de volta. É ali, não há dúvidas, é ali, acima e à esquerda, que está o centro, o pulsar, o pensar, o coração daquela imagem. Um homem com uma cabeça de fogo.
     Mais à esquerda, reparo agora, há dois círculos brancos. Parecem pintados sobre a fotografia. E, de repente, vejo: os dois círculos brancos são dois pontos, o homem com a cabeça de fogo é um P, o homem inclinado é um A, o braço branco é um I. Será que querem dizer isto quando dizem que certa imagem “tem uma leitura”? O que a fotografia diz é :PAI.

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