quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Nem 1 nem 99 — uma revolução

Na Europa o momento é o da negação da política. Tanto do lado do Reino Unido que, pela mão de Cameron, rejeitou o acordo europeu com base, pasme-se, no interesse da praça financeira de Londres, como do lado dos restantes países que, dizendo amen a Merkel e Sarkozy, assinaram esta versão “crime e castigo” da União. Um acordo em que não se descortina um mínimo de visão para o futuro, nem o mais leve sinal de abertura para o levantar de uma verdadeira democracia europeia. Pelo contrário, o que transpira do subtexto de tanta “austeridade automática” é um mal disfarçado terror do presente e um ajoelhar da cidadania perante o bezerro de ouro dos mercados.
Ora, contra este estado de coisas, que vozes se fazem ouvir?
Os “indignados” são, apesar de tudo, os que falam mais alto. Mas propõem o quê, ao certo? Bem, para lá de alguns slôganes mais ou menos engraçados e inteiramente inconsequentes, a grande reivindicação parece ser a de um salto para a democracia direta. Reticências, ponto de interrogação, ponto de exclamação...?!
Ainda que tal “ovni” fosse possível sem descermos ao caos absoluto (em dois dias, o mais distraído dos cidadãos perceberia que tínhamos trocado uma imperfeita democracia por uma perfeita histeria), o resultado de fundo seria o que vemos em mais e pior. A verdade é que o problema atual — esta “bolha” de  vazio, de falta de convicções, ideias, grandeza — tem tudo a ver com a estreiteza de vistas de quem não só governa ou contragoverna com os olhos nas eleições como, de facto, pensa e decide com a cabeça nas sondagens. O regime “novo” que os indignados exigem seria assim a mera “institucionalização” do governo pela sondagem...
O que quer dizer que, ironicamente, os cinzentões da cimeira europeia não estão tão longe quanto se imagina dos coloridos 99% das tendas. No fim de contas, os populistas da austeridade querem chegar, pela via da tecnocracia, onde os populistas das ruas também sonham chegar pela via da democracia direta. Não, nem 1% nem 99% — uma revolução: democracia europeia, já!

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