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sexta-feira, 22 de junho de 2012

Aulas de xadrez no balneário


Grande vitória, alta alegria. Estamos nas meias e agora é apontar lá para cima, para o canecão europeu. Mas, caros amigos, finais de jogo como o de ontem é que não. Aquela pequenez de acabarmos encostados às linhas a fazer tempo não é para nós, não é para quem gosta de bola, não e não. Aquilo, somado a um treinador que mete dois jogadores defensivos e ainda se põe, aflito, a apontar para o relógio, não é só triste e desonroso. É um falhanço estratégico, um erro crasso. Um campeonato destes decide-se jogo a jogo, pois, mas também nunca perdendo o horizonte. Como no xadrez, não se trata de ganhar só a jogada que temos à frente, há que pensar na disposição das peças para a jogada seguinte. E deixar que uma grande vitória feche a cortina assim, em clima de antijogo e ai-jesus, não é propriamente o melhor lançamento para o embate que aí vem... Pensemos antes no Nani do jogo com a Holanda, no Varela do jogo com a Dinamarca, no Cristiano de ontem. É apontar lá para cima, para o ponto mais alto de nós. Conseguimos mais uma bela vitória, sim. Agora só nos falta saber ganhar.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Bairro de Santa Filomena qualifica Portugal para o Europeu



Será esta a tradução política do tiraço de Nani, o supercraque do Manchester United nascido e criado no Bairro de Santa Filomena, na Amadora?

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Depois dos resultados

Na seleção Paulo Bento teve de começar pelo fim, pelos problemas de placar, e nesse domínio as coisas não podiam ter corrido melhor. Foi o que teve de ser, o que ditou “a força das circunstâncias” — para usar um eufemismo em voga na política atual — depois da trapalhada do episódio Queiroz e dos fracassos da seleção em campo. Mas agora é preciso mais, não concordam? A situação da equipa de todos nós tem qualquer coisa a ver com o momento do país de nós todos. Já temos os resultados das eleições, e já conhecemos as três versões do memorando fatal, mas ainda nos falta perceber ao certo qual a visão de futuro que a maioria vencedora defende. Qual o desígnio, onde o fim da rua. É bem conhecida a tática, mas ainda falta definir o que, em futebolês erudito, se chama “a filosofia de jogo”. 
No sábado, contra a Noruega, Hélder Postiga marcou um belo golo sem espinhas e pudemos assistir a um punhado de jogadas “interessantes”, mas ainda não se vê uma grande ideia, um estilo, uma marca forte. Uma equipa que quer fazer a diferença e estar entre as melhores do mundo não se pode limitar a confiar no jeitinho dos nossos craques, não pode jogar aos bochechos, entre fintas mirabolantes no ataque e ai-jesus na defesa. 
Cristiano estava já com a cabeça nas férias, de chuteiras desligadas. Coentrão anda a forçar a saída para o Real Madrid de uma forma vergonhosa, não percebendo que assim será apenas mais um virtuoso, mas nunca um “grande”, e essa triste fuçanguice reflete-se no futebol jogado, óbvio. E Nani parece ainda não se ter livrado do seu complexo de “segunda estrela”; joga como um super-herói até se dar conta de estar a jogar como um super-herói, e a partir daí começa a complicar, a inventar florinhas em cada toque, cada finta, a encher de palha cada parágrafo. 
Ainda assim, acho que o busílis da coisa está no meio-campo. Os três M’s do miolo, Martins, Meireles e Moutinho, são excelentes jogadores e até já funcionaram bem juntos, mas nenhum deles é um líder, um maestro, e isso retira “pensamento” ao futebol das quinas. Quando uma jogada encrava, quando é preciso “mudar de assunto” ou tentar outro “argumento”, não há um lugar onde se possa regressar; não há quem lance o futuro a partir de uma visão geral, quem construa ligações. E o pior é que, depois de Deco, não apareceu ninguém para esse cargo. Não haverá aí nenhum miúdo que se candidate a número 10 da seleção?

(no JN de hoje)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A ver se nos inspiramos

Domingo, Portugal joga com o Futuro e temo que o empate seja o resultado mais provável. Não é uma finalíssima, mas é o começo de uma importante batalha de qualificação para os Amanhãs de curto, médio e longo prazo. Atendendo aos treinos da campanha eleitoral e aos jogos pré-FMI, perspetiva-se um empate feio e triste, sem golos nem toques de génio, um nulo cinzentão, e a culpa, sim, é de todos nós. Pois, é verdade. Temos adiado o problema uma e outra vez. É nosso o pecado da omissão, por olharmos para o lado, assobiarmos para o alto, passarmos de mansinho pelas questões da vida coletiva. Aos poucos, habituámo-nos à ideia de que o problema é “deles”, que isto da política é um jogo só para “eles”, esses “eles” dos cartazes, esses “eles” que se zangam nos debates televisivos e se alegram nas feiras eleitorais. “Eles”: como se a política fosse do domínio do “virtual”, só outro “espetáculo da realidade” sem qualquer relação com a realidade. A culpa é nossa, sim, que isto — o país, a política, o dia seguinte — é um problema de todos. Agora não há volta a dar-lhe: se queremos ganhar o Futuro, temos de desatar este nosso “nós”. Mas como é difícil, terrivelmente difícil, a escolha de dia 5!...
No meio-campo uns jogam o jogo arrogante do dono da bola, simulando quedas, tentando enganar o árbitro a cada jogada. Outros, colocados mais à frente, não só não têm jeitinho nenhum como estão visivelmente mal treinados, e conseguem a proeza de chutar para a direita, para a esquerda e para o centro e falhar sempre o alvo. Na ala direita, há quem se encoste à linha com habilidade mas pensando apenas na glória individual, marimbando-se para a equipa, para os adversários, para os adeptos, para a justiça do jogo. E, do lado esquerdo, ou se joga em permanente fora-de-jogo ou demasiado à defesa, pensando muito em cortar bolas e muito pouco em fazer golos. 
Que, no sábado, a seleção das quinas nos inspire para domingo e para os dias  úteis que se seguirão. Coração inteligente, chuteiras afinadas. Ofereçam-nos, por favor, um futebol de ideias fortes e espírito construtivo, jogadas que juntem rigor e abertura, esperança e eficácia, a ver se nos inspiramos para dia 5. A escolha é terrivelmente difícil, não é? Como é que, em Portugal e na Europa, podemos começar a vencer o jogo do nosso futuro? Dia 4, a responsabilidade da seleção é ainda maior que sempre — vai ganhar Portugal?

(no JN de hoje)

quarta-feira, 30 de março de 2011

Portugal a doer

Os tempos andam tramados, tramadíssimos, tramadões. A bronca do PEC IV embrulhou ainda mais a crise, a atitude do Presidente como mero “guarda da vírgula” do regime não ajuda nada, e Portugal parece cada vez mais na beira da falésia, mal equilibrado contra os ventos de fora e de dentro, a tremelicar. Cá em baixo, na praia, de jornais na mão, nós vamos assistindo a isto, suspensos, a ver se, como na anedota, damos ou não o famoso “passo em frente”. Só que, desta vez, a anedota é imensa e trágica - e é sobre nós. Todos nós, pois.
É natural que, neste ambiente, a selecção jogue em modo “bom dia, tristeza”, e um empate a uma bola com o Chile surja como coisa quase boa. Como é óbvio, não é, não pode ser. É que o futuro está aí mesmo a chegar, caros amigos. E pôr todas as fichas na simpatia dos nórdicos é capaz de não ser grande solução...
Tenho cá para mim que o que definiu o amigável deste fim-de-semana não foi tanto o um-zero madrugador, aquela cabeçada esperta de Varela, nem a ausência de Cristiano, nem o poético pato de Patrício no golo de Matías Fernandez. O que marcou aquele empate triste de sábado foi o estado depressivo da nossa alma nacional. Sai dessa, Portugal! Para enfrentar mercados, erros, más fortunas, partidas amigáveis ou “mata-matas”, há uma só via: alegria, alegria. Se entramos em campo com medos à Merkel, seremos atropelados e não haverá “bolas paradas” que nos salvem. Não, tentemos uma abordagem mais lulista-da-silva. Temos de ser da esperança, fazer por isso, pensar alto e positivo, querer sempre mais, mudar melhor - pode ser?
A resposta no jogo de ontem com a Finlândia foi um típico “nim”. Sabemos jogar ao ataque e gostamos de jogar bonito, mas, na hora agá, há tanta suavidade, tanto pé mole, meu Deus. Uma beleza matemática, a jogada do primeiro golo: grande ideia de Martins, um toque simpático de Almeida, e depois, uou!, uma bela trivela de Quaresma a presentear Rúben Micael com a honra de cortar a fita. O caloiro madeirense ainda viria a marcar mais um, graças a um passe “very-very” de Nani. Mas, no entretanto, tanta bola despassarada, tanta complicaçãozinha no momento de assinar a decisão... Os finlandeses abriam alas e nós chutávamos para o lado, ou nem isso. Não: se é para chegarmos ao futuro, temos de levar a alegria até ao fim. Como é que se diz em futebolês, “não ter medo de ser feliz”?
   

(no JN de hoje)