...é por aqui.
sexta-feira, 27 de junho de 2025
sexta-feira, 14 de março de 2025
quarta-feira, 25 de setembro de 2024
Uma frase de Brodskii
"Pois a história é o atrito do temporário contra qualquer coisa que permaneça."
(Paisagem com inundação, Iosif Brodskii, trad. Carlos Leite, ed. Cotovia)
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024
Como os chineses
"Aos dezasseis anos comportamo-nos inconscientemente como os chineses. Devorados pelo pudor da inocência, tecemos a nossa eternidade numa chuva, num cair de diospiros de ouro."
(Cristina Campo, Os Imperdoáveis)
quarta-feira, 24 de janeiro de 2024
quinta-feira, 18 de janeiro de 2024
O vento
"Le vent n'ira pas où l'homme veut aller avec lui. Heureusement."
(Donner à voir, Paul Éluard)
domingo, 16 de julho de 2023
Como quem não quer a coisa...
...os Black Country New Road estão a inventar um novo tipo de música: roll'n'rock?
terça-feira, 27 de junho de 2023
Dois grandes versos do O'Neill (e uma bela lição)
"...bem sei que muitos dos meus versos
nem para atacadores."
(Do poema "Autocrítica", de Alexandre O'Neill)
sexta-feira, 19 de maio de 2023
Jornais e melancolia
Uma corrente de ar, um estrondo. A Poesia Completa de João Cabral de Melo Neto tinha voado da estante, para junto da planta do canto. Ali ficou, vivíssima, abrindo e fechando páginas, conversando com a monstera, brincando com os dois sentidos de "folha". Eu fui apanhar o livro, mas não consegui evitar que dois versos se entornassem. Diziam assim: "No fim de um mundo melancólico/ os homens lêem jornais."
quinta-feira, 20 de abril de 2023
quarta-feira, 19 de abril de 2023
Escritório
Gosto muito do poema Os deuses, de Sophia de Mello Breyner Andersen, que diz que estes "Nasceram, como um fruto, da paisagem", acrescentando depois — num movimento que rompe, suspende e entrega o poema — que a brisa, a luz, o branco das espumas e o luar "Extasiados estão na sua imagem". O mais perto disso a que o prosador consegue chegar é uma reunião no jardim.
quinta-feira, 23 de março de 2023
Não teria feito mal ao debate parlamentar de ontem se alguém tivesse lido em voz alta um poema de "O problema da habitação — alguns aspectos", de Ruy Belo
I
QUASI FLOS
A morte é a verdade e a verdade é a morte
Tão contente de vento, ó folha que nomeio
como quem à passagem te colhesse,
palavra de que tu, ó árvore, dispões para vir até mim
do alto da tua inatingível condição
De muito longe vinda, inviável lembrança
indecisa nas mãos ou consentida
por alguma impossível infância
E a alegria é uma casa recém-construída
Face melhor de todos nós, ó folha
dos álamos nocturnos e antigos visitados pelo vento,
no calmo outono, o dos primeiros frios, sais
do ângulo dos olhos, acolhes-te ao poema
como no alto mês de maio a flor imóvel do jacarandá
Não há outro lugar para habitar
além dessa, talvez nem essa, época do ano
e uma casa é a coisa mais séria da vida
Ruy Belo
sexta-feira, 10 de março de 2023
As línguas portuguesas
Há aquele poema de Sophia que afirma que "Quando Helena Lanari dizia o 'coqueiro'/ O coqueiro ficava muito mais vegetal".
Em sentido contrário, um verso de Drummond — "à sombra de muro úmido" — faz-me pensar como o agá torna mais húmida a humidade.
segunda-feira, 6 de março de 2023
Tropeçar
Na revista New Yorker, os poemas aparecem sem aviso, no meio dos textos jornalísticos. Na edição de 27 de fevereiro, vem um chamado Duet, de Daniel Poppick, que começa por falar do "espaço em branco entre palavra e música", ligando-o ao tempo entre o relâmpago e o trovão.
Lembrou-me a definição de poesia, ou melhor, do poema, de Paul Valéry: "essa hesitação prolongada entre o som e o sentido".
Talvez os jornais devessem seguir esta ideia antiga da New Yorker. Tropeçar num poema não só pode atirar o leitor para um lugar diferente — os tais "espaços em branco" onde acontece o espanto e uma inteligência de tipo mais plástico ou musical —, como o fará ler as notícias, as reportagens e os artigos com outra cabeça — uma cabeça disponível para essa fenda entre as coisas, onde a interrogação não é perda mas ganho.
Além de que, num mundo de informação às toneladas, em "tempo real" mas fatalmente pela rama, seria uma forma de o jornal em papel marcar a sua diferença. Contra os canhões, tropeçar, tropeçar!
quarta-feira, 1 de março de 2023
Fala, O'Hara!
"It is even in prose, I am a real poet."
(tirado do poema "Why I am not a painter", de Frank O'Hara)
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023
A utopia da quinta-feira
Há qualquer coisa especial nas quintas-feiras. Não sei. São dias esquinados e livres. Se os pudesse pintar, escolher a cor de os revelar, escolheria talvez dourado ou fúcsia. No poema Hora mágica, Drummond de Andrade escreve: "Ó vida! Ó quinta-feira inteira!/ pisando a areia que canta, o barro que clapeclape,/ a poça d'água que rebrilha."
Ou talvez escolhesse a cor da água, a cor de um dia de sol, as cores impossíveis que só têm nome dentro de nós quando somos livres. Lá diz o verso final do poema de Drummond: "Igual aos índios. Igual a mim mesmo, quando sonho."
(versos do poema "Hora mágica", Boitempo, Carlos Drummond de Andrade, ed. Tinta-da-china)
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023
O bebé Pessoa
Lancei-me a ler a biografia de Fernando Pessoa, escrita por Richard Zenith, e já estou apanhado. Alguém só feito de palavras ganha uma vida de carne e osso, com datas, nomes de ruas, de familiares, de conhecidos, etc. — uma vida de carne e osso e um movimento de cinema. Como é que se diz? Uma ideia começa a ganhar figura.
segunda-feira, 30 de janeiro de 2023
"Alexandre, meu deus, e O'Neill"
"(...) Sim, que isto é poesia, da mais pura, daquelas que se dirigem aos que muito amamos, procurando atingi-los num coração indolente, sabendo que não nos ouvem, Alexandre, meu deus, e O'Neill. (...)"
(do poema "Alexandre, o Grande", Poesia reunida, de Manuel Resende, ed. Cotovia)
terça-feira, 24 de janeiro de 2023
Sonho acordado
Não se assustam, ao ler a opinião nos jornais, com a falta de sonho, por um lado, e a falta de ligação ao real, pelo outro?
Talvez não fizesse mal pôr nos livros de estilo duas citações poéticas. Esta, de Adélia Prado:
"Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe,/ os sítios escuros onde nasce o 'de', o 'aliás',/ o 'o', o 'porém' e o 'que', esta incompreensível/ muleta que me apóia." (do poema "Antes do nome", Bagagem, ed. Cotovia)
E esta, de William Carlos Williams:
"Tanta coisa depende/ de// um carrinho de mão/ vermelho// reluzente de gotas de/ chuva// ao lado das galinhas// brancas." (O carrinho de mão vermelho, Antologia breve, trad. José Agostinho Baptista, ed. Assírio & Alvim)
sexta-feira, 20 de janeiro de 2023
Universidade Roberto Bolaño
Li "Universidade Fernando Pessoa" nas manchetes e estranhei. Uma universidade com nome de escritor?
Não sei se a estranheza veio de me lembrar de como, no meu tempo universitário, os "escritores" ou miúdos que começavam a escrever formavam um corpo estranho na escola. Um grupo desorganizado, talvez ligeiramente infrarrealista. Um poeta até lhes chamou "Aqueles que têm os ossos frágeis".
Ou se foi porque tenho estado a reler os poemas de Bolaño. Num deles, o Eu do poema fala de estar bêbado e sozinho a gastar o seu dinheiro "num dos limites/ da universidade desconhecida".
Uma Universidade Roberto Bolaño seria onde? Num parque de campismo, numa prisão mexicana, nas ruas que as noites inventam, numa oficina de poesia, num baldio, num poema em ruínas?