"JÁ QUE ESTAMOS DE FACTO NUMA ERA DE INCREDULIDADE, PORQUÊ NEGLIGENCIAR O USO PURIFICADOR DA INCREDULIDADE? EU CONHEÇO ESSE USO EXPERIMENTALMENTE."
(A Experiência de Deus, Simone Weil, trad. Ana Cardoso Pires, ed. Relógio D' Água)
"JÁ QUE ESTAMOS DE FACTO NUMA ERA DE INCREDULIDADE, PORQUÊ NEGLIGENCIAR O USO PURIFICADOR DA INCREDULIDADE? EU CONHEÇO ESSE USO EXPERIMENTALMENTE."
(A Experiência de Deus, Simone Weil, trad. Ana Cardoso Pires, ed. Relógio D' Água)
Em Millet and the Peasant, diz John Berger: "I believe that he failed because the language of the traditional oil painting could not accommodate the subject he brought with him. One can explain this ideologically. The peasant's interest in the land expressed through his actions is incommensurate with scenic landscape. Most (not all) European landscape painting was addressed to a visitor from the city, later called a tourist; the landscape is his view, the splendour of it is his reward. (...) There was no formula for representing the close, harsh, patient physicality of a peasant's labour on, instead of in front of, the land. And to invent one would mean destroying the traditional language for depicting scenic landscape. (...) Thus Millet's failure and setback may be seen as an historic turning point. The claim of universal democracy was inadmissible for oil painting. And the consequent crisis of meaning forced most painting to become autobiographical. (...)"
Isto fez-me pensar noutra arte, a arte da escrita. Se nós, os que queremos mudar o mundo e que, em certa medida, escrevemos contra o mundo, não teremos de encontrar novas formas. Se não estaremos, demasiadas vezes, presos ao ponto de vista convencional da época, à moldura "turística" do tempo que nos calhou na rifa. Se não teremos de furar a autobiografia para chegar à vida.
"...o turismo já não é um setor florescente do mundo, o mundo inteiro é que se tornou um setor atrasado do turismo."
Roberto Calasso, L'innominabile attuale
"Só mesmo no íntimo da obra, lá onde se interpenetram o teor da verdade e o teor objetivo, se abandona definitivamente a esfera da arte, e neste limiar desaparecem também todas as aporias estéticas, a discussão sobre forma e conteúdo, etc., etc.."
(Falsa crítica, Walter Benjamin, trad. João Barrento, ed. Assírio & Alvim)
"...a linguagem da tradução envolve os seus conteúdos como um manto real caindo em amplas pregas."
(A tarefa do tradutor, de Walter Benjamin, trad. João Barrento, ed. Assírio & Alvim)
"Em todas as canções há distância."
("Confabulações", John Berger, trad. Maria Eduarda Cardoso, ed. Relógio D'Água)
"Civilização é o esforço insólito e grandioso para não nos vermos nus e simultaneamente a nostalgia profunda de uma impossível nudez."
(Eduardo Lourenço — "O Nu do Século XX Ou Morte Sem Transfiguração")
"Sinto-me tão isolado que sinto a distância entre mim e o meu fato."
(Livro do Desassossego, Bernardo Soares, ed. Richard Zenith, Assírio & Alvim)
Um realizador de que nunca tinha ouvido falar não fez um filme de que nunca tinha ouvido falar, e isso é do caraças.
Belíssima, a definição de Simone Weil (que descobri num ensaio de Roberto Calasso): "O que é a cultura? Formação da atenção."
"Eu e o meu público entendemo-nos muito bem: ele não ouve o que eu digo, e eu não digo o que ele quer ouvir."
Karl Kraus
("Aforismos" de Karl Kraus, ed. VS.)