quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Nós, a democracia

Na rua e nos jornais a atenção está toda virada para as finanças, a economia, o dinheiro. E, no entanto, o nó do problema está noutro lado. Chama-se: política. E o desatar do nó tem o mesmo nome: política. Receio que, por uma vez, não seja o escritor a querer pôr as palavras acima dos números. É a mais pura verdade. 
A propósito disto, Daniel Oliveira escreve no Expresso um artigo apontando a fragilidade do Estado como causa principal da falta de qualidade (usemos um eufemismo) de grande parte da classe política atual. Estou de acordo com o diagnóstico geral — "interesses com muito mais poder do que o Estado", défices de "democratização das instituições internacionais ou transnacionais", "atomização da sociedade", partidos incapazes de construírem "narrativas que determinem visões políticas e ideológicas coerentes" —, mas não me parece que o grande remédio esteja na reconstrução de um Estado forte à antiga. Por trás desta visão, espreita a ideia de que o contrato social só pode assentar numa espécie de chantagem. Chamem-me ingénuo, chamem-me utópico, mas acredito que não tem de ser assim. 
Isto dito, é claro que, na discussão sobre a necessidade de um Estado social a sério, estou com o Daniel Oliveira contra as arrogantes visões tecnocráticas de Vítor Gaspar, contra os vagos arroubos modernizantes de Passos Coelho, contra as ideologias pronto-a-vestir do PP. Mas acho que, infelizmente, a cura para a qualidade da política não tem remédio tão fácil. Não há um frasco de Estado forte que nos livre deste mal. É preciso mais, é preciso um milagre. Chama-se: democracia. Tem de ser a democracia, temos de ser nós, o povo, a mudar isto. É um daqueles momentos em que não adianta pedir um gesto a Maomé. Só voltando a acreditar na política, só ressonhando a política com ideias e paixão. Isto agora é um trabalho para a Montanha.

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