sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O novo é para sempre


Para mal dos meus pecados, separo sempre a amizade do resto. Por isso, estou mesmo à vontade para dizer que, se o assunto é pintura, o Tomás Cunha Ferreira é um dos poucos, raros, verdadeiramente grandes dos nossos dias. E mais: a pintura que ele agora mostra na Alecrim 50 é o ponto mais alto do seu caminho libérrimo. Uma arte que se faz de vida e ideias-na-vida. Telas que explodem e se abrem para alguma coisa que, não deixando de ser pintura, é ainda também escultura, teatro, poesia, dança. E isto aparecendo sem a frieza da premeditação, sem qualquer tique de modismo esperto, sem nenhum resquício de estratégia e auto-não-sei-quê, como é habitual vermos aos trambolhões por aí, nos prémios e nos jornais, na arte do regime. Não, aqui, mal ou bem, é tudo verdade. A pintura demorou estes anos todos a chegar até este ponto, precisou deste tempo exato para se soltar assim, e agora, de olhos bem abertos, podemos concluir que não podia ser de outra maneira. Mas claro que não é necessário pôr palavras nisto. Pasmados de alegria a olhar para estas telas-coisas-pinturas, basta-nos o movimento que elas guardam. Dança quieta, suspensa, mesmo antes de começar. Dança de pegar com a mão. Há anos, fiz uma música para falar da pintura do Tomás: "Humana e não natural/ como, por exemplo, ideias/ coreografar ideias/ com, por exemplo, amor." Em coerência, devia agora fazer uma desmáquina de silêncio para falar destes novos achados. Pintura que acharia impossível: começa sempre que para ela se olha, é ao mesmo tempo diferente de tudo e capaz de uma franca abertura a tudo, pensamento que realmente dança, poesia que sabe conversar. É quase pecado entrar numa sala e ver tanto sim junto. Viva, viva. O novo é para sempre, e isto é.

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