sábado, 16 de fevereiro de 2013

A hora Tacuara

Tenho de confessar que sempre olhei para o Cardozo com o oblíquo coração dos desconfiados. O Tacuara mexe-se em câmara lenta, falha bolas aparentemente fáceis, dispara remates de distâncias irrealistas, e nunca desata aquele ar de tristice metafísica. Não sei, talvez seja da altura. As chuteiras paraguaias do nosso avançado estão bem assentes na relva mas dá a impressão que a cabeça está demasiado lá para cima, no alto da mais alta montanha, onde o ar é rarefeito e frio. Apesar disto, apesar de todo o meu pé-atrás em relação ao artilheiro pé-canhão, aquela descida aos infernos no jogo com o Nacional, foi uma supresa, um choque, um susto desagradabilíssimo.
Mas hoje olho para o avançado com um coração novo, mais redondito, caramba. Alguém que sai do poço fundo assim tão rápido, de um dia para o outro, com tanta modéstia e elegância, não é só alto, imenso, gigante, é mesmo, como é que se diz?, grande. Aquele golo na Alemanha, aquilo foi de pastelaria chique. Uma simulação de baile sentando o primeiro leverkursenista, e depois aquele toque leve, de massa folhada, por cima do guarda-redes. Na relva nevada o paraguaio cabeça-no-ar brilhou, brilhante, viva, palmas. Já sabemos que não vai poder jogar amanhã contra a Briosa. É uma pena. Que, na planície solar da Luz, os colegas se lembrem dele. Na sempre temível hora agá, não é para tremer, ouviram? Basta levantar devagarinho as sobrancelhas e, ah!, largar a bola contra as redes.

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