Sobre os lacrimejantes, nem vale a pena falar. Sobre os cerebrais, sim. São uma fraude.
Chamam-lhes abstratos mas isso oh é dar mau nome ao abstrato.
Abstratos somos nós que sabemos que não há nada mais exato direto real do que, de repente, um — por exemplo, gesto — na vida.
Ontem, ao subir a Rua do Alecrim, vi um S junto às palmeiras. Um S maiúsculo e mesmo grande, vermelho, pop, prestes a entrar em movimento. Esqueçam os vossos adjetivos e toda a vossa meta-esperteza de bolso. Arte poética é subir a rua, senhores.
Não, nós não estamos entre esses e aqueles. Estamos à frente. Se, por acaso, uma coisa dessas desses daquelas daqueles nos cai nas mãos o que não podemos deixar de sentir é um atraso no nosso regresso ao futuro, um atraso que é demais, que não se aguenta, que é tão triste.
Isto está um pântano. Vamos fazer um rio que lave esta merda toda. Um arranha-céus profundíssimo, um foguetão com os pés nos chão. Vamos fazer outra palavra, um movimento, recomeçar o Novo. Isto está irrespirável, chato, mole. Sejamos duros e de alegria.
Que se foda a felicidade das revistas de fim de semana. Queremos é mudar o mundo, torná-lo sim para sempre.
Inteligentes que não se mexem só artistam para a conta bancária.
Ocupemos a praça pública com o escândalo da beleza, o escândalo que é ter os olhos abertos. Temos medo e não, porque trazemos perguntas antimorte, piadas parvas, uma falta de noção musicalmente indestrutível em relação a tudo o que de verdade não interessa a ponta dum corno.
No sol e na noite somos feitos de teatro, coisa mais verdadeira.
Como o S de sim se põe em movimento — palmeiras, automóveis, pop expressionista abstrato no concreto do Alecrim sob uma tira de sol de março, fins de — também nós.
E quando tivermos de fazer uma pausa, façamo-la sem itálicos.
Pausa.
Sim, claro, tu és dos nossos.
Obrigada Jacinto.
ResponderExcluir