Nas estações de correio o mundo é tão platónico. As pessoas sempre caladas, a segurar as caras como quem segura uma jarra à espera da flor. Só que a flor nunca vem. Hoje as cartas já não são flores. Já não são cartas sequer. São só encomendas, faturas, publicidade, postais. Principalmente, faturas. Talvez seja um facto global, mas em Portugal isso é tão certo que é mais do que um facto, é um símbolo. Isso tudo, quero dizer. Sim, são talvez dos melhores lugares, as estações de correio, para um estrangeiro perceber o que é ser português. Ou não perceber do modo mais exato. Entre reflexos de árvores e livros de auto-ajuda, assim um silêncio intraduzível. Uma calma morna, hospitalar, atravessada por números eletrónicos (o conta-senhas declamando 133, 134, 135, 136, 137), e ninguém diz nada, ninguém se passa, ninguém come o chapéu, ninguém salta em cima do chapéu. Gente parada, de olhos no infinito, a sonhar o quê?
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