quarta-feira, 27 de junho de 2012

Sobre uma fotografia de Irina Rozovsky

Aqui é saudável, uma pessoa sente-se viva aqui. Não sei, mas acho que preciso de ar livre para organizar os pensamentos, é. Aqui sinto-me mais nova, como se ainda namorasse uma qualquer ideia futura de mim. Que ridículo. Mas é verdade, aqui sou uma ideia aberta ainda. Mexo os braços, sofro a brisa no vestido leve, de rapariguinha, ponho isto na boca, travo, sopro. Entre paredes, a minha cabeça é grande demais e toda fechada sobre si mesma. Aqui não. Quer dizer, aqui é que sim. Dentro deste ar puro — tanto oxigénio jovem que se perde inutilmente, gloriosamente —, dentro deste espaço livre as palavras ganham um sentido, uma direção. Aponto-as para ali, já está. As palavras aqui tornam-se opacas, fantasmas de ver, de tocar, quase. Sei exatamente o que quero. Deixem-me rir, peço desculpa. Tenho de rir, adoro vir para aqui quando há sol. É saudável, é fresco. Ideias frescas e boas! Se alguém se põe entre mim e o que eu quero, é melhor que tenha as rezas todas em dia, ah pois. Não é, meu amor?

2 comentários:

  1. Não me canso de ver esta foto. Ela parece estar feliz... acho que é isso que me agrada nela. E a liberdade...


    "Fantasmas de ver, de tocar, quase."

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  2. Sim, a fotografia é espantosa — aquela seta de fumo, como se o pensamento da mulher se tornasse visível.

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