sábado, 13 de julho de 2013

Sobre uma fotografia de Enric Vives-Rubio

A figura à direita no sofá olha em frente com a oca solenidade de quem está no solário, à espera, a trabalhar para o bronze. À esquerda, o homem grisalho fecha-se sobre si mesmo. Mais à esquerda, outros dois homens olham para alguma coisa atrás da câmara, aproveitando qualquer pretexto para não enfrentarem a questão sobre a mesa. Já a mulher junto a eles parece fazer um esforço contra a náusea que não sabe de onde vem. No extremo oposto o homem de fato escuro olha para os pés das pessoas em frente pensando no tempo. Quanto tempo já terá passado, quanto tempo faltará ainda. Um pouco mais para o meio, temos o anfitrião. Um homem de fato cinzento, estranhamente descontraído. Sentado de perna cruzada e como que atravessado por um relógio de pé, sorri para dentro. No chão vê uma ideia de que ninguém desconfia e isso diverte-o por um instante. Este instante que a fotografia fixou. Quanto tempo. Sobre todo o grupo, uma imensa pintura em tons de castanho. Uma imagem confusa, monstruosa, triste.

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