quarta-feira, 1 de junho de 2011

A ver se nos inspiramos

Domingo, Portugal joga com o Futuro e temo que o empate seja o resultado mais provável. Não é uma finalíssima, mas é o começo de uma importante batalha de qualificação para os Amanhãs de curto, médio e longo prazo. Atendendo aos treinos da campanha eleitoral e aos jogos pré-FMI, perspetiva-se um empate feio e triste, sem golos nem toques de génio, um nulo cinzentão, e a culpa, sim, é de todos nós. Pois, é verdade. Temos adiado o problema uma e outra vez. É nosso o pecado da omissão, por olharmos para o lado, assobiarmos para o alto, passarmos de mansinho pelas questões da vida coletiva. Aos poucos, habituámo-nos à ideia de que o problema é “deles”, que isto da política é um jogo só para “eles”, esses “eles” dos cartazes, esses “eles” que se zangam nos debates televisivos e se alegram nas feiras eleitorais. “Eles”: como se a política fosse do domínio do “virtual”, só outro “espetáculo da realidade” sem qualquer relação com a realidade. A culpa é nossa, sim, que isto — o país, a política, o dia seguinte — é um problema de todos. Agora não há volta a dar-lhe: se queremos ganhar o Futuro, temos de desatar este nosso “nós”. Mas como é difícil, terrivelmente difícil, a escolha de dia 5!...
No meio-campo uns jogam o jogo arrogante do dono da bola, simulando quedas, tentando enganar o árbitro a cada jogada. Outros, colocados mais à frente, não só não têm jeitinho nenhum como estão visivelmente mal treinados, e conseguem a proeza de chutar para a direita, para a esquerda e para o centro e falhar sempre o alvo. Na ala direita, há quem se encoste à linha com habilidade mas pensando apenas na glória individual, marimbando-se para a equipa, para os adversários, para os adeptos, para a justiça do jogo. E, do lado esquerdo, ou se joga em permanente fora-de-jogo ou demasiado à defesa, pensando muito em cortar bolas e muito pouco em fazer golos. 
Que, no sábado, a seleção das quinas nos inspire para domingo e para os dias  úteis que se seguirão. Coração inteligente, chuteiras afinadas. Ofereçam-nos, por favor, um futebol de ideias fortes e espírito construtivo, jogadas que juntem rigor e abertura, esperança e eficácia, a ver se nos inspiramos para dia 5. A escolha é terrivelmente difícil, não é? Como é que, em Portugal e na Europa, podemos começar a vencer o jogo do nosso futuro? Dia 4, a responsabilidade da seleção é ainda maior que sempre — vai ganhar Portugal?

(no JN de hoje)

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