quarta-feira, 8 de junho de 2011

Depois dos resultados

Na seleção Paulo Bento teve de começar pelo fim, pelos problemas de placar, e nesse domínio as coisas não podiam ter corrido melhor. Foi o que teve de ser, o que ditou “a força das circunstâncias” — para usar um eufemismo em voga na política atual — depois da trapalhada do episódio Queiroz e dos fracassos da seleção em campo. Mas agora é preciso mais, não concordam? A situação da equipa de todos nós tem qualquer coisa a ver com o momento do país de nós todos. Já temos os resultados das eleições, e já conhecemos as três versões do memorando fatal, mas ainda nos falta perceber ao certo qual a visão de futuro que a maioria vencedora defende. Qual o desígnio, onde o fim da rua. É bem conhecida a tática, mas ainda falta definir o que, em futebolês erudito, se chama “a filosofia de jogo”. 
No sábado, contra a Noruega, Hélder Postiga marcou um belo golo sem espinhas e pudemos assistir a um punhado de jogadas “interessantes”, mas ainda não se vê uma grande ideia, um estilo, uma marca forte. Uma equipa que quer fazer a diferença e estar entre as melhores do mundo não se pode limitar a confiar no jeitinho dos nossos craques, não pode jogar aos bochechos, entre fintas mirabolantes no ataque e ai-jesus na defesa. 
Cristiano estava já com a cabeça nas férias, de chuteiras desligadas. Coentrão anda a forçar a saída para o Real Madrid de uma forma vergonhosa, não percebendo que assim será apenas mais um virtuoso, mas nunca um “grande”, e essa triste fuçanguice reflete-se no futebol jogado, óbvio. E Nani parece ainda não se ter livrado do seu complexo de “segunda estrela”; joga como um super-herói até se dar conta de estar a jogar como um super-herói, e a partir daí começa a complicar, a inventar florinhas em cada toque, cada finta, a encher de palha cada parágrafo. 
Ainda assim, acho que o busílis da coisa está no meio-campo. Os três M’s do miolo, Martins, Meireles e Moutinho, são excelentes jogadores e até já funcionaram bem juntos, mas nenhum deles é um líder, um maestro, e isso retira “pensamento” ao futebol das quinas. Quando uma jogada encrava, quando é preciso “mudar de assunto” ou tentar outro “argumento”, não há um lugar onde se possa regressar; não há quem lance o futuro a partir de uma visão geral, quem construa ligações. E o pior é que, depois de Deco, não apareceu ninguém para esse cargo. Não haverá aí nenhum miúdo que se candidate a número 10 da seleção?

(no JN de hoje)

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