quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Inesperar

Não, também eu não acredito em Sebastiões que um belo dia saem do nevoeiro para nos salvar. Mas só alguém muito desatento ou muito casmurro não vê que a aparente hesitação de António Costa em avançar para a liderança do PS é uma péssima notícia para o país. Não sou do PS; já votei PS, Bloco de Esquerda e, em desespero de causa, como nas últimas eleições, em branco. Mas, no estado de coisas em que estamos, com Passos-Portas de um lado e Seguro do outro, a crise alimenta-se de si própria. Porque sem uma visão, uma esperança, uma ideia de futuro, podemos andar aqui a cortar despesas durante décadas que só daremos passos atrás. Por isso precisamos de António Costa. 
À esquerda do PS, imagino que os taticistas do costume estejam apreensivos. Um líder socialista mais forte pode conquistar apoios ao Bloco e ao PCP. Por outro lado, digo eu, um líder com ideias próprias também é capaz de uma outra abertura. O compromisso para uma união à esquerda só é realizável com interlocutores capazes. Líderes que, sendo senhores das suas cabeças, possam dar suficiente espaço aos outros para encontrarem consensos. E, se do lado do PS atual, faltam ideias e clareza — ideologia! —, do lado do Bloco e do PCP (sonhem, sonhem...) falta europeísmo. 
A solução para a embrulhada em que estamos passa por construir uma nova Europa a partir de um novo espírito — uma espécie de “descomplexo de culpa”. Não podemos continuar a pensar a política nestes termos de “nós vs. a Europa”. Somos europeus! É o que somos. É este o nosso lugar no mundo, o nosso ponto de vista. Sair do pântano da crise em direção ao futuro exige que lutemos por uma nova Europa a partir de um novo patriotismo europeu — patriotismo europeu, sim. Escrevo-o sem aspas, que não podemos mais ter medo das palavras. Só saindo das frases feitas, das palavrinhas certinhas, só indo para lá dos lugares comuns, poderemos pôr a mexer este triste presente estático. Hesitação é tudo o que não precisamos para começar a mudar isto, caro António Costa. Tem de ser agora.

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