A minha ideia de praia é uma esplanada ao pé do mar. É bom de vez em quando ir dar um mergulho, jogar um futebol, comer uma bola de berlim, mas ficar na areia, no tédio, ao sol, sem fazer nada, não, por favor. Ler também é uma boa safa, claro. Afinal de contas, ler é “fazer” uma coisa, é um movimento por dentro. Com um texto nas mãos, a areia já não é tédio, nem o sol é o pleonasmo chato de uma lâmpada acesa em pleno dia. Quem sabe, talvez tenha sido isso, não ter nem um livro para abrir, que me pôs a correr na praia nesse primeiro dia de férias.
No começo da corrida tudo é novidade feliz. Até as pedras, pedrinhas, conchas e conchinhas de que temos de nos desviar ou aprender a pisar com a mistura certa de decisão e ternura. No começo, sabe muito bem o ar, o vento, a maresia. Não vou escrever nenhum poema sobre as maravilhas da nossa costa, estejam descansados, mas o facto é que uma pessoa se sente bem, livre e saudável. Por um momento, podemos apreciar o regular funcionamento das instituições do nosso corpo contente, pele, pulmões, coração... alma? Não sei, é como se corrêssemos dentro de uma embalagem de rhinomer. No bom sentido: cheios de água do mar isotónica no cérebro. Deve ser mais ou menos isso que os surfistas sentem, aquilo sobre o que cantam os Los Hermanos.
Só que, algures entre o vigésimo oitavo e o vigésimo nono minutos, rompe-se uma corda de ar no cérebro e tudo muda. De um momento para o outro, é como se fôssemos expelidos, perdoem-me o verbo, da embalagem de rhinomer, para descobrir que a água do mar não é afinal isotónica mas 100% estéril. Estéril?! E aí o postal oh tão bonito começa a abrir rachas. Perguntas atrevem-se a espreitar-nos da espuma, do céu, das casinhas perdidas na falésia; perguntas fixando-nos, maliciosas, de todos os pontos da paisagem que ainda há pouco nos parecera tão bela e inocente. Perguntas como: para que fazes isto? Não seria melhor estar sentadinho com um livro à frente a beber grappa? O quê, porque faz bem, porque te faz sentir bem? Porque assim terás mais dias para poder estar sentadinho com um livro à frente a beber grappa? Mas isso está provado cientificamente? Já viste os dados, os números, os gráficos, as percentagens? Não seria melhor estudar bem essas provas antes deste esforço danado? Não seria melhor arranjar um lugar para ficar a estudar essas provas médicas bem sentadinho e com uma grappa storica ao lado?
Triste não é ficar parado a correr contra o vento quando se dá meia volta para regressar, triste não é desistir a meio do percurso de regresso enquanto o nosso parceiro de corrida continua cheio de força até ao fim, triste não é o vento que como que nos embrulha os ossos de frio e nos desregula de ridículo as instituições internas, cabeça, coração e alma, quando voltamos a coxear. Triste é a nódoa negra na planta do pé. Culpa de uma dessas amorosas pedrinhas ou conchinhas, humilhante desculpa para os dias seguintes. “Queres vir correr?” “Ah, não posso. Pisei uma conchinha e fiquei com uma nódoa negra...”
No começo da corrida tudo é novidade feliz. Até as pedras, pedrinhas, conchas e conchinhas de que temos de nos desviar ou aprender a pisar com a mistura certa de decisão e ternura. No começo, sabe muito bem o ar, o vento, a maresia. Não vou escrever nenhum poema sobre as maravilhas da nossa costa, estejam descansados, mas o facto é que uma pessoa se sente bem, livre e saudável. Por um momento, podemos apreciar o regular funcionamento das instituições do nosso corpo contente, pele, pulmões, coração... alma? Não sei, é como se corrêssemos dentro de uma embalagem de rhinomer. No bom sentido: cheios de água do mar isotónica no cérebro. Deve ser mais ou menos isso que os surfistas sentem, aquilo sobre o que cantam os Los Hermanos.
Só que, algures entre o vigésimo oitavo e o vigésimo nono minutos, rompe-se uma corda de ar no cérebro e tudo muda. De um momento para o outro, é como se fôssemos expelidos, perdoem-me o verbo, da embalagem de rhinomer, para descobrir que a água do mar não é afinal isotónica mas 100% estéril. Estéril?! E aí o postal oh tão bonito começa a abrir rachas. Perguntas atrevem-se a espreitar-nos da espuma, do céu, das casinhas perdidas na falésia; perguntas fixando-nos, maliciosas, de todos os pontos da paisagem que ainda há pouco nos parecera tão bela e inocente. Perguntas como: para que fazes isto? Não seria melhor estar sentadinho com um livro à frente a beber grappa? O quê, porque faz bem, porque te faz sentir bem? Porque assim terás mais dias para poder estar sentadinho com um livro à frente a beber grappa? Mas isso está provado cientificamente? Já viste os dados, os números, os gráficos, as percentagens? Não seria melhor estudar bem essas provas antes deste esforço danado? Não seria melhor arranjar um lugar para ficar a estudar essas provas médicas bem sentadinho e com uma grappa storica ao lado?
Triste não é ficar parado a correr contra o vento quando se dá meia volta para regressar, triste não é desistir a meio do percurso de regresso enquanto o nosso parceiro de corrida continua cheio de força até ao fim, triste não é o vento que como que nos embrulha os ossos de frio e nos desregula de ridículo as instituições internas, cabeça, coração e alma, quando voltamos a coxear. Triste é a nódoa negra na planta do pé. Culpa de uma dessas amorosas pedrinhas ou conchinhas, humilhante desculpa para os dias seguintes. “Queres vir correr?” “Ah, não posso. Pisei uma conchinha e fiquei com uma nódoa negra...”
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