sábado, 31 de dezembro de 2011
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
Perdi o jogo
Um dia, num restaurante de Ílhavo, um baterista de jazz radical falou-me do jogo. "Não é um jogo", dizia ele, "é o jogo". Estamos a jogar desde sempre, e para sempre, mesmo sem saber. E só tem uma regra este jogo chamado jogo: se nos lembramos que estamos a jogar, perdemos. (Pausa de um, dois, três segundos.) Senhoras e senhores, perdi o jogo.
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
"Queres que vá contigo?"
A vida de George Harrison, como mostra o filme de Martin Scorsese, tem muita história louca. Piada, pensamento, engano, génio, tanta coisa, tudo misturado. No fim ninguém duvidará: o Beatle calado lançou muita alegria no mundo. E não estou a pensar só no filme dos Monty Python que George pagou.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Canção de Natal
Os Beatles fazendo música para que ela chegue a Michael Jackson fazendo música para que ela chegue a Cyndi Lauper fazendo música para ela chegue a Miles Davis fazendo música para que ela chegue.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Para Vaclav Havel — sem arte e sem pensamento não há liberdade
Um excerto de Catastrophe, a peça que Samuel Beckett escreveu em 1982 "for Vaclav Havel":
Director (D).
His female assistant (A).
Protagonist (P).
[...]
D and A contemplate P. Long pause.
A: [Finally.] Like the look of him?
D: So so. [Pause.] Why the plinth?
A: To let the stalls see the feet.
[Pause.]
D: Why the hat?
A: To help hide the face.
[Pause.]
D: Why the gown?
A: To have him all black.
[Pause.]
D: What was he on underneath? [A moves toward P.] Say it. [A halts.]
A: His night attire.
D: Colour?
A: Ash.
[...]
Director (D).
His female assistant (A).
Protagonist (P).
[...]
D and A contemplate P. Long pause.
A: [Finally.] Like the look of him?
D: So so. [Pause.] Why the plinth?
A: To let the stalls see the feet.
[Pause.]
D: Why the hat?
A: To help hide the face.
[Pause.]
D: Why the gown?
A: To have him all black.
[Pause.]
D: What was he on underneath? [A moves toward P.] Say it. [A halts.]
A: His night attire.
D: Colour?
A: Ash.
[...]
sábado, 17 de dezembro de 2011
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Eurocéticos transformados em euromansos por motivos estritamente eleitoralistas é o que dá...
É porventura a maneira mais eficaz de matar a Europa: limitá-la ao nível dos negócios, esvaziá-la de qualquer dimensão política, negar-lhe o palco comum da democracia.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Nem 1 nem 99 — uma revolução
Na Europa o momento é o da negação da política. Tanto do lado do Reino Unido que, pela mão de Cameron, rejeitou o acordo europeu com base, pasme-se, no interesse da praça financeira de Londres, como do lado dos restantes países que, dizendo amen a Merkel e Sarkozy, assinaram esta versão “crime e castigo” da União. Um acordo em que não se descortina um mínimo de visão para o futuro, nem o mais leve sinal de abertura para o levantar de uma verdadeira democracia europeia. Pelo contrário, o que transpira do subtexto de tanta “austeridade automática” é um mal disfarçado terror do presente e um ajoelhar da cidadania perante o bezerro de ouro dos mercados.
Ora, contra este estado de coisas, que vozes se fazem ouvir?
Os “indignados” são, apesar de tudo, os que falam mais alto. Mas propõem o quê, ao certo? Bem, para lá de alguns slôganes mais ou menos engraçados e inteiramente inconsequentes, a grande reivindicação parece ser a de um salto para a democracia direta. Reticências, ponto de interrogação, ponto de exclamação...?!
Ainda que tal “ovni” fosse possível sem descermos ao caos absoluto (em dois dias, o mais distraído dos cidadãos perceberia que tínhamos trocado uma imperfeita democracia por uma perfeita histeria), o resultado de fundo seria o que vemos em mais e pior. A verdade é que o problema atual — esta “bolha” de vazio, de falta de convicções, ideias, grandeza — tem tudo a ver com a estreiteza de vistas de quem não só governa ou contragoverna com os olhos nas eleições como, de facto, pensa e decide com a cabeça nas sondagens. O regime “novo” que os indignados exigem seria assim a mera “institucionalização” do governo pela sondagem...
O que quer dizer que, ironicamente, os cinzentões da cimeira europeia não estão tão longe quanto se imagina dos coloridos 99% das tendas. No fim de contas, os populistas da austeridade querem chegar, pela via da tecnocracia, onde os populistas das ruas também sonham chegar pela via da democracia direta. Não, nem 1% nem 99% — uma revolução: democracia europeia, já!
Ora, contra este estado de coisas, que vozes se fazem ouvir?
Os “indignados” são, apesar de tudo, os que falam mais alto. Mas propõem o quê, ao certo? Bem, para lá de alguns slôganes mais ou menos engraçados e inteiramente inconsequentes, a grande reivindicação parece ser a de um salto para a democracia direta. Reticências, ponto de interrogação, ponto de exclamação...?!
Ainda que tal “ovni” fosse possível sem descermos ao caos absoluto (em dois dias, o mais distraído dos cidadãos perceberia que tínhamos trocado uma imperfeita democracia por uma perfeita histeria), o resultado de fundo seria o que vemos em mais e pior. A verdade é que o problema atual — esta “bolha” de vazio, de falta de convicções, ideias, grandeza — tem tudo a ver com a estreiteza de vistas de quem não só governa ou contragoverna com os olhos nas eleições como, de facto, pensa e decide com a cabeça nas sondagens. O regime “novo” que os indignados exigem seria assim a mera “institucionalização” do governo pela sondagem...
O que quer dizer que, ironicamente, os cinzentões da cimeira europeia não estão tão longe quanto se imagina dos coloridos 99% das tendas. No fim de contas, os populistas da austeridade querem chegar, pela via da tecnocracia, onde os populistas das ruas também sonham chegar pela via da democracia direta. Não, nem 1% nem 99% — uma revolução: democracia europeia, já!
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Sobre uma fotografia de Amr Abdallah Dalsh
Primeiro, vejo o homem com a cabeça de fogo. A cabeça do homem não pensa nem deixa de pensar, não lembra nem esquece; arde.
Depois vejo o homem de preto que está num plano adiantado e faz o movimento de atirar alguma coisa. O que me puxa a atenção é apenas o movimento, a sugestão, a ideia de movimento.
Por fim, vejo o braço à direita. Um braço cortado pelo olhar do fotógrafo, um braço branco destacado, amplificado pelo espaço vazio em redor. A mão no final do braço segura uma pedra.
Mas logo a cabeça em chamas chama-me de volta. É ali, não há dúvidas, é ali, acima e à esquerda, que está o centro, o pulsar, o pensar, o coração daquela imagem. Um homem com uma cabeça de fogo.
Mais à esquerda, reparo agora, há dois círculos brancos. Parecem pintados sobre a fotografia. E, de repente, vejo: os dois círculos brancos são dois pontos, o homem com a cabeça de fogo é um P, o homem inclinado é um A, o braço branco é um I. Será que querem dizer isto quando dizem que certa imagem “tem uma leitura”? O que a fotografia diz é :PAI.
Depois vejo o homem de preto que está num plano adiantado e faz o movimento de atirar alguma coisa. O que me puxa a atenção é apenas o movimento, a sugestão, a ideia de movimento.
Por fim, vejo o braço à direita. Um braço cortado pelo olhar do fotógrafo, um braço branco destacado, amplificado pelo espaço vazio em redor. A mão no final do braço segura uma pedra.
Mas logo a cabeça em chamas chama-me de volta. É ali, não há dúvidas, é ali, acima e à esquerda, que está o centro, o pulsar, o pensar, o coração daquela imagem. Um homem com uma cabeça de fogo.
Mais à esquerda, reparo agora, há dois círculos brancos. Parecem pintados sobre a fotografia. E, de repente, vejo: os dois círculos brancos são dois pontos, o homem com a cabeça de fogo é um P, o homem inclinado é um A, o braço branco é um I. Será que querem dizer isto quando dizem que certa imagem “tem uma leitura”? O que a fotografia diz é :PAI.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
O verdadeiro ator em Viana do Castelo
O verdadeiro ator apresenta-se hoje na Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, às 21.30h. Que Europa teremos a essa hora?
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
A pessoa certa no lugar certo
Rui Chafes em Matera. A exposição chama-se Entrate per la porta stretta.
Só saber que estão lá aquelas sábias negruras já nos ajuda a ver tudo um pouco mais claro aqui.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
O Papa no autocarro
Sim, talvez eu não consiga não gostar de um filme de Nanni Moretti. Mas também é verdade que guardo a lucidez mínima para perceber que Querido Diário é melhor que Abril, ou a distância necessária para escolher o Moretti de O caimão antes do Moretti de O quarto do filho, por exemplo.
Seja como for, tenho de dizer que estou em desacordo total com o consenso crítico em torno de Habemus Papam. A reação geral foi, para usar um eufemismo, morna; este seria um Moretti suave, “maduro”, amansado... Não, não e não. É um filme belíssimo, único, talvez o mais duro do cineasta de Roma. Um filme sério, sim, seguro, sim, mas também maravilhosamente louco como só podem ser as visões dos grandes mestres.
Neste tempo de robôs e fraude, Habemus Papam consegue o impossível: justapor a provocatória “estranheza” da comédia e das ideias à delicada “empatia” do drama e das personagens. Ou, traduzindo por nomes: juntar Moretti e Piccoli.
Sendo um filme “agnóstico” que não foge às perguntas, claro que Habemus Papam cai mal neste nosso momento. Mas o problema não está na tela, está nos nossos olhos. Este tempo de austeridade ideológica e entretenimento mentiroso é que está demasiado “morno” e “suave” para um cinema vivo que não tem medo de pensar e imaginar e tudo ao mesmo tempo.
Tão comovente, tão desequilibrador no melhor sentido, ver o Papa no autocarro a sofrer “normalmente”. Ou, na cena com a psicanalista Margherita Buy, apanhar Michel Piccoli fingindo a dor de ator que deveras sente.
Habemus Papam é um filme imenso, que dura o tempo justo de uma decisão. E, tu, estás de que lado?
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
Girafa como nós
Quem não viu Tristeza e Alegria na Vida das Girafas, de Tiago Rodrigues, na Culturgest em Lisboa, deve marcar já na agenda uma viagem a Coimbra, ao Teatro Académico Gil Vicente, em janeiro. É um espetáculo espantoso: originalíssimo e aberto a tantas imaginações.
Os bastidores de um trabalho de escola, o épico íntimo de uma miúda órfã, a travessia da cidade como interrogação política, a luta que é crescer e o luto que é viver. Um grande texto, ótimos atores, um espetáculo, como se diz das ideias, incrível.
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