quinta-feira, 9 de junho de 2011
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Depois dos resultados
Na seleção Paulo Bento teve de começar pelo fim, pelos problemas de placar, e nesse domínio as coisas não podiam ter corrido melhor. Foi o que teve de ser, o que ditou “a força das circunstâncias” — para usar um eufemismo em voga na política atual — depois da trapalhada do episódio Queiroz e dos fracassos da seleção em campo. Mas agora é preciso mais, não concordam? A situação da equipa de todos nós tem qualquer coisa a ver com o momento do país de nós todos. Já temos os resultados das eleições, e já conhecemos as três versões do memorando fatal, mas ainda nos falta perceber ao certo qual a visão de futuro que a maioria vencedora defende. Qual o desígnio, onde o fim da rua. É bem conhecida a tática, mas ainda falta definir o que, em futebolês erudito, se chama “a filosofia de jogo”.
No sábado, contra a Noruega, Hélder Postiga marcou um belo golo sem espinhas e pudemos assistir a um punhado de jogadas “interessantes”, mas ainda não se vê uma grande ideia, um estilo, uma marca forte. Uma equipa que quer fazer a diferença e estar entre as melhores do mundo não se pode limitar a confiar no jeitinho dos nossos craques, não pode jogar aos bochechos, entre fintas mirabolantes no ataque e ai-jesus na defesa.
Cristiano estava já com a cabeça nas férias, de chuteiras desligadas. Coentrão anda a forçar a saída para o Real Madrid de uma forma vergonhosa, não percebendo que assim será apenas mais um virtuoso, mas nunca um “grande”, e essa triste fuçanguice reflete-se no futebol jogado, óbvio. E Nani parece ainda não se ter livrado do seu complexo de “segunda estrela”; joga como um super-herói até se dar conta de estar a jogar como um super-herói, e a partir daí começa a complicar, a inventar florinhas em cada toque, cada finta, a encher de palha cada parágrafo.
Ainda assim, acho que o busílis da coisa está no meio-campo. Os três M’s do miolo, Martins, Meireles e Moutinho, são excelentes jogadores e até já funcionaram bem juntos, mas nenhum deles é um líder, um maestro, e isso retira “pensamento” ao futebol das quinas. Quando uma jogada encrava, quando é preciso “mudar de assunto” ou tentar outro “argumento”, não há um lugar onde se possa regressar; não há quem lance o futuro a partir de uma visão geral, quem construa ligações. E o pior é que, depois de Deco, não apareceu ninguém para esse cargo. Não haverá aí nenhum miúdo que se candidate a número 10 da seleção?
(no JN de hoje)
(no JN de hoje)
quarta-feira, 1 de junho de 2011
A ver se nos inspiramos
Domingo, Portugal joga com o Futuro e temo que o empate seja o resultado mais provável. Não é uma finalíssima, mas é o começo de uma importante batalha de qualificação para os Amanhãs de curto, médio e longo prazo. Atendendo aos treinos da campanha eleitoral e aos jogos pré-FMI, perspetiva-se um empate feio e triste, sem golos nem toques de génio, um nulo cinzentão, e a culpa, sim, é de todos nós. Pois, é verdade. Temos adiado o problema uma e outra vez. É nosso o pecado da omissão, por olharmos para o lado, assobiarmos para o alto, passarmos de mansinho pelas questões da vida coletiva. Aos poucos, habituámo-nos à ideia de que o problema é “deles”, que isto da política é um jogo só para “eles”, esses “eles” dos cartazes, esses “eles” que se zangam nos debates televisivos e se alegram nas feiras eleitorais. “Eles”: como se a política fosse do domínio do “virtual”, só outro “espetáculo da realidade” sem qualquer relação com a realidade. A culpa é nossa, sim, que isto — o país, a política, o dia seguinte — é um problema de todos. Agora não há volta a dar-lhe: se queremos ganhar o Futuro, temos de desatar este nosso “nós”. Mas como é difícil, terrivelmente difícil, a escolha de dia 5!...
No meio-campo uns jogam o jogo arrogante do dono da bola, simulando quedas, tentando enganar o árbitro a cada jogada. Outros, colocados mais à frente, não só não têm jeitinho nenhum como estão visivelmente mal treinados, e conseguem a proeza de chutar para a direita, para a esquerda e para o centro e falhar sempre o alvo. Na ala direita, há quem se encoste à linha com habilidade mas pensando apenas na glória individual, marimbando-se para a equipa, para os adversários, para os adeptos, para a justiça do jogo. E, do lado esquerdo, ou se joga em permanente fora-de-jogo ou demasiado à defesa, pensando muito em cortar bolas e muito pouco em fazer golos.
Que, no sábado, a seleção das quinas nos inspire para domingo e para os dias úteis que se seguirão. Coração inteligente, chuteiras afinadas. Ofereçam-nos, por favor, um futebol de ideias fortes e espírito construtivo, jogadas que juntem rigor e abertura, esperança e eficácia, a ver se nos inspiramos para dia 5. A escolha é terrivelmente difícil, não é? Como é que, em Portugal e na Europa, podemos começar a vencer o jogo do nosso futuro? Dia 4, a responsabilidade da seleção é ainda maior que sempre — vai ganhar Portugal?
(no JN de hoje)
(no JN de hoje)
Fantasmas na Escócia
Quis o destino que eu não estivesse em Portugal no dia da final da Taça. Nunca sabemos o que o destino nos reserva; se brinca connosco, se nos tenta ensinar qualquer lição séria, ou até se, como é mais provável (ao menos, segundo a linha de pensamento das escolas groucho-marxistas e woody-allenescas), quer é fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Por um lado, foi bom. Não estando no país, não sofri de perto a lembrança de que não, não era o meu Benfica que estava a ganhar a Taça, e não, não era o meu Benfica que estava a fazer seis golos numa final tão solene, não, não era o meu Benfica, oh não. Por outro lado, foi mau. Foi mesmo mau, foi muito mau. Foi péssimo, sim, como não poderia deixar de ser. Que saudade, caros amigos, que saudades do Benfica Glorioso.
Estava no meio de um vendaval escocês — um vento tão forte que a pedra antiga destas fachadas parecia dançar e ganhar levezas de modernidade, um vento tão louco que as ruas de Edimburgo como que se despassaravam para cima e para os lados, para longe da terra e para fora dos mapas — quando recebi a notícia da final da Taça. De repente já não havia vento nem nada, só aquele jogo com o F.C. Porto em que o Benfica entrou com uma vantagem de dois golos fora e acabou eliminado a olhar para dentro. A olhar para baixo; para a relva pisada, para os atacadores das chuteiras, para o absurdo de tanta ilusão, tanto desperdício. Dizem que a Escócia está cheia de fantasmas. Não sei. Só sei que, nas esquinas de Edimburgo, pelos passeios escuros, vi passar todo o plantel do Benfica em versão cabisbaixa. Não, caros amigos, de uma tristeza assim, não há vento que nos levante.
Não é com este espírito de deixa-andar, não é a fechar os olhos e a acreditar no “destino”, que o Benfica se há de erguer na próxima época. Não é vendendo craques e comprando pontos de interrogação que conseguiremos ganhar. E não se trata apenas de conseguir um campeonato ou uma taça: falta construir uma tradição vitoriosa para o futuro: Eusébio é para a frente! A glória tem de começar na formação dos jogadores de amanhã. O Benfica é o Benfica: não pode nunca ser usado como “montra” europeia para jogadores à espera do “salto”. O Benfica é que é o salto! Bem... isto para dizer que, se queremos ser nós a alegrar a bola amanhã, não podemos confiar nos ventos do destino. Temos de fazer por isso e começar já, já, já. Sim, por favor?
(no JN de quarta-feira passada)
(no JN de quarta-feira passada)
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