Parabéns ao F. C. Porto. São justos campeões, aqui fica o aplauso deste benfiquista. E agora permitam-me que faça um parêntesis, que há coisas que não podem passar no escuro.
Perder é sempre mau. Perder o campeonato em casa contra o rival é, claro, muito mau. Mas aquilo de apagar as luzes e ligar a rega é abaixo dos mínimos e só piora a derrota — uma vergonha triste-triste. Os jogadores e os adeptos do Benfica não mereciam aquilo. Naquele momento final, caros amigos, a nossa Luz é que se apagou; nós é que levámos para casa, presa ao emblema, aquela chuva madrasta. Naquele momento, com aquele gesto imbecil, somámos à derrota matemática uma verdadeira derrota moral.
Felizmente, o Benfica não é aquilo. O Glorioso é, aliás, o exato contrário daquilo, da vil pequenez que está por trás daquele apagão choviscado. O Benfica é outra coisa: é mística, é glória e é grandeza de espírito. Não, não merecíamos aquele mau-perder do final. Mas, futebolisticamente falando — e como custa escrever estas palavrinhas simples que vêm a seguir —, merecemos bem a derrota.
Primeiro, foi o nosso amigo Roberto que voltou a fazer das suas. Na última crónica, falei do “poético pato” de Rui Patrício no jogo contra o Chile. Mas a lentidão de reflexos deste não é nada ao pé do esforçado voluntarismo de Roberto. A nova criação do espanhol no clássico não foi nem pato nem peru e, não, não teve nada de poético. Foi um frango dos mais prosaicos, estilo retro, daqueles que já não se fazem. A centímetros da linha de fundo, Guarín centra. Tudo normal, não se passa nada. Nada? Nada de nada. Pois — até que o nosso guardião de milhões dá um saltinho para o meio e, com as suas suaves manápulas, orienta a bola para a própria baliza.
Primeiro, foi isso... nem sei como lhe chamar. Depois, mil pecados de atos e omissões que podemos juntar sob a ideia de falta de querer e défice de alegria. E, ao descer do pano, aquele pecado maior: o pé de Cardozo no tornozelo de Belluschi... É verdade que, nesta altura do campeonato, era mais fácil para o F. C. Porto estar focado, que o título estava ali à vista. Mas o Benfica tem de encontrar alma para querer ganhar a qualquer hora, em qualquer contexto. Quem não quer suficientemente, habilita-se a perder rotundamente... E é por isso que, amanhã, na Europa, temos de entrar em campo com a grandeza de sempre — contra a mesquinhez de domingo passado.
(no JN de hoje)
Nenhum comentário:
Postar um comentário