quarta-feira, 20 de abril de 2011

Jorge contra Jesus

Frente à Naval, a equipa B do Benfica conseguiu reproduzir o fracasso da equipa A contra o F. C. Porto. Claro que o texto foi diferente, mas o subtexto é o mesmo: falta de querença, chuteiras desanimadas, futebol desfocado. No jogo com o F. C. Porto, havia a motivação de qualquer clássico e, contra a Naval, era a oportunidade dos suplentes mostrarem que ideias trazem nos pés. Para lá disso, jogar com a camisola do Benfica — lembremo-nos, por exemplo, de Aimar beijando o emblema depois do golo contra o PSV — é motivação bastante para ganhar, ganhar sempre. A atitude da equipa B no passado domingo é, por isso, de ir às lágrimas. E é também um aviso importante. Num momento em que se fala da saída de alguns craques essenciais, a falta de banco à altura aumenta o nosso susto.
Sim, é verdade, ele há coisas perfeitamente incompreensíveis. Como é que o mister capaz de lançar o Benfica a jogar um glorioso futebol-arte insiste naquele mãos-suaves para a baliza? É um pouco como a conversa sobre mercados e política, FMI’s e votos: não podem ser os passes dos jogadores a determinar as escolhas futebolísticas. É que, já todos vimos, os números “frangam” que é uma coisa doida...
Quanto a Roberto, receio que já não haja muito a dizer. Há ali uma qualquer falha psicológica que o faz claudicar nos momentos mais inconvenientes. Como aquelas pessoas que pensam tanto na gafe que não podem cometer que, mal abrem a boca, o que lhes sai é, claro, a gafe monstruosa. Agora, a culpa também é de quem o põe lá. Quantos mais autogolos é que têm de acontecer para que o treinador conceda que o espanhol não é guarda-redes para o Glorioso? Enquanto Jesus consegue milagres no ataque, velocidade e obras-primas, goleadas europeias, Jorge estraga tudo cá atrás, insistindo em Roberto.
Mas pensemos na parte boa, a ver se damos sorte para a partida de amanhã: aquele golaço de Aimar, desembrulhando o nulo com um tiro canhoto por baixo do defesa e do guardião, um túnel incontroverso e vivíssimo; aquela arrancada de Coentrão, de deixar os holandeses sem vento nos moinhos, e o toque de calcanhar de Salvio lá para dentro; aquela finta do miúdo argentino, um tango de vai-não-vai-e-vai-mesmo, e depois o remate para o terceiro golaço; e, finalmente, aquela revienga barroca de Saviola, uma flor esquerda, inesperada, de pôr a Europa à beira-mar plantada. Em Eindhoven, sim, é para a alegria?

(no JN de 13 de abril)

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