Aquela primeira parte com os holandeses, na quinta-feira, parecia o FMI a aterrar na Portela uma e outra vez, uma aterragem em contínuo, um avião de más notícias que não deixasse de aparecer, que nunca parasse de chegar. Que pesadelo, que aperto de alma. Uma coisa é fazer esticar as histórias, dar um certo drama às conquistas; outra coisa bem diferente, caro Maximiliano Pereira, é brincar com a mística. Felizmente o capitão Luisão foi lá à frente e, com um pontapé faraónico, piramidal, inimaginável, pôs os pontos nos ii. Dessas gracinhas, nunca mais, por favor, caros senhores. O Benfica é para ganhar sempre. Com goleadas de vantagem no bolso ou com classificações fechadas à partida, o Glorioso tem de jogar sempre apontado às redes adversárias, com a alegria artística de jogar o jogo pelo jogo, coração de futebol-beleza. Como naquele tiraço do nosso zagueiro-chefe: de costas para a baliza mas com a cabeça na baliza, apertadíssimo pela defesa dos PSV’s, Luisão faz jus ao aumentativo e agiganta-se no ar, uma acrobacia imensa, a chuteira apenas sussurrando à bola a direção certa. E lá vai ela, que espanto, por cima de um defesa saltitante, para o ângulo mais feliz. Viva, alegria, alegria. Contra o Beira-Mar, também atrasámos o futebol uns bons minutos, no domingo também fomos domingueiros boa parte do tempo. Mas lá estavam Carlos Martins e Pablo Aimar e, sim, imagine-se, Sidnei Rechel da Silva Júnior. O português abre para o espaço aberto, Kardec faz-se de extremo-direito e cruza direitinho; Aimar faz uma obra-prima do não-fazer, um ex-líbris da omissão, um poema sem palavras, e, sustendo a respiração, plim, deixa a bola passar; do lado esquerdo da nossa surpresa, aparece o miúdo Sidnei a tocar para o golo. É assim, com vontade de alegria, com gosto de alegrar. Ouçam o que diz o mestre Cruyff: este desporto não se chama “títulos”, não se chama “pontos”, chama-se “futebol”. Temos de fazer o melhor futebol sempre, sempre — somos o Benfica, caramba.
Hoje só isso nos garantirá uma vitória contra o F.C. Porto, que traz a confiança do campeonato e tem Falcão, Hulk e Guarín em grande forma. Não podemos entrar no relvado nem com “cerimónias” táticas, nem “a passear” os dois golos da primeira partida. Temos de pensar o futebol pelo futebol, jogar à bola como miúdos no quintal, na rua, na praia — só assim poderemos ganhar e vencer na Catedral.
(no JN de hoje)
(no JN de hoje)
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