Ontem, abri a porta e vi a barata. Era um bicho pequeno, grande, castanho, cor de cobre. Contive o grito literário, "Clarice!", mas fiquei, confesso, um tudo-nada atarantado. Na ombreira da porta, o escritor é que era, afinal, a barata tonta. Da cozinha, trouxe uma colher de pau e logo se me deparou um dilema: usar um lado ou o outro? A ponta do cabo para matar o bicho ou a colher propriamente dita para o atirar lá para fora? Felizmente, não tive de fazer nada, a barata fugiu por um buraco, desapareceu. E eu abri o livro miraculoso de Clarice Lispector: "Uma barata tão velha que era imemorial. O que sempre me repugnara em baratas é que elas eram obsoletas e no entanto atuais." (A paixão segundo G.H., Clarice Lispector, ed. Rocco)
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