quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Aviso aos Pais Natal que querem mesmo que o Natal seja todos os dias

A Sara teve uma bela ideia — chama-se PACOTE. Livros, escolhidos com cuidado, voam, todo os meses, para miúdos em qualquer parte do mundo.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Sobre uma fotografia de Fred Lyon

São Francisco, cidade. Frases curtas como num policial. A minha arma é a minha luz. O mundo é cubista, não é verdade? E a alma é expressionista? Seja como for, tudo rima mais tarde ou mais cedo. Serei o herói acidental se fores a mulher fatal. Sim, tudo rima, não peço desculpa. Iô, kiddo. São Francisco é uma cidade como a nossa. Descidas íngremes, subidas doidas, pontes de interrogação. Páginas que se esquinam, automóveis em letra de imprensa. Gestos impressionistas? Surrealista é o próprio chão onde caminhamos. Somos livres dentro dos nossos nomes de código. São Francisco! São são são tantas coisas por dizer. Manda aí silêncio forte. Contra a luz, o mistério realista desta luz. Todo teu, não tenhas medo. Dispara.

domingo, 27 de novembro de 2016

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Escrevia Joseph Roth em 1923

"He was the young man of Europe: nationalistic and self-seeking, devoid of belief and of loyalty, bloodthirsty and blinkered. This was the new Europe." 

(The Spider's Web, de Joseph Roth, tradução de John Hoare)

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O estado das coisas na América e não só (recortado de um romance publicado em 2000)

"That guy had a job before you environmentalists took it away. Now he has nothing to do but ride his bike, his only treasure, then go home at night to terrorize his children and beat his wife. Spousal abuse is directly linked to environmental regulation. It can be stamped out only by stamping out nature — not human nature, the other one. That alone will provide jobs and stop the breakdown of the American family." (The Quick and the Dead, Joy Williams)

Bravo!

domingo, 20 de novembro de 2016

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Muita merda a sul e a norte!

Catarina, com texto meu (mais um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen), estreia hoje no Teatro Lethes, em Faro, pela ACTA. Estou pronto para ser surpreendido pela encenação de Luís Vicente.

E Adalberto Silva Silva, o monólogo que fez nascer a companhia Ninguém, continua a ser levado por Ivo Alexandre pelo país dentro. Hoje sobe ao palco no Cine-Teatro Garrett, na Póvoa de Varzim. 

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

domingo, 13 de novembro de 2016

sábado, 12 de novembro de 2016

Gente mortal sobe do Alto da Penha até ao Carlos Alberto

Acabámos o ensaio na Penha, o Ivo e a Anabela levaram o Luís de carro à estação das camionetas, e eu e a Paula descemos a pé a rua comicamente íngreme que, todos os dias, como que nos devolve das alturas da imaginação à vida real da cidade. Não sei como, a meio dessa rua sem nome, pusemo-nos a falar de mortos, mortes, morte. Por virmos do país do teatro, talvez, a conversa a partir dessa proibida palavra M não pareceu forçada, nervosa, nem triste. Uma palavra, outra, uma pergunta, outra; e aos poucos fomos encontrando maneira até de sorrir sem fugir do assunto. Despedimo-nos à porta do metro e eu desci as escadas para baixo da terra. Ao chegar à plataforma, vejo um homem caído na linha.
Do lado de lá, no sentido Arroios-Alameda, meio sentado ou a levantar-se, um homem de camisa azul. Imaginei que tivesse caído naquele momento. Do lado de lá da plataforma, chama-o outro homem, dizendo que o ajuda a subir, aproximando-se da beira para o puxar para cima. Mas o da camisa azul nem olha para ele. Levanta-se e põe-se a andar pela linha, em frente, na direção de onde virá o metro. O placard eletrónico diz que falta um minuto. Eu e outras pessoas dizemos-lhe para sair dali, mas o homem parece não ouvir ninguém, continua a andar em direção ao túnel. Retrospetivamente, uma imagem mítica: um mortal como nós avançando para o túnel esfíngico, indiferenciado, absoluto. Despe a camisa enquanto anda, como que a mostrar que está pronto. Ou como uma última pergunta? Uma provocação? Como um desafio? Oh o azul impossível daquela camisa. Um azul aberto, vivo, um azul de céu azul.  
Na plataforma, pessoas a gritar, pessoas a descrever a cena ao telemóvel em tempo real, pessoas paralisadas a ver, a não querer ver, a ver. Éramos todos estranhos uns para os outros e de repente uma coisa tinha-nos juntado: aquele homem ia morrer. Ao meu lado, uma senhora grita, desesperada, “Porquê, porquê”. Pálida e com dificuldades de respiração, prestes a desmaiar. Um rapaz novo diz-lhe para ter calma, e ela continua, “Porquê, porquê”. Trinta segundos, dez segundos. O homem vai morrer, meu Deus. (Deus é uma palavra inventada para estas horas?) Felizmente, acontece o inverosímil. O metro para no túnel. Alguém terá conseguido comunicar com o maquinista, imagino. E o homem ali fica. De pé, de frente para os faróis acesos do metro, de tronco nu, de mãos atrás das costas. Não se mexe. Durante uma eternidade, não se mexe. 
A morte de cada dia nos dai hoje. Escrevo aqui este momento terrível de um sábado de outubro para não me esquecer dele. Não por qualquer tipo de prazer mórbido, mas porque é verdade e me fez olhar com novos olhos para o nosso Henrique IV parte 3. Porque é a morte que nos deixa “dentro” dessa coisa da vida. Perdoem-me se começo a citar personagens assim a meio, sem aviso. O que diz realmente o Henrique da nossa peça é: “Enquanto traduzo, estou lá — estou aqui — estou mesmo dentro da coisa, sabes?” Mas, sim, trago para aqui este suicídio falhado porque acredito que ele pode iluminar a “tradução” que fizemos, da página para a cena. Resumindo: se não lembrarmos o azul que havia no azul dessa camisa largada, todo o azul desbotará. Afinal, talvez seja essa uma das tarefas do teatro, não? Dizer as coisas para ver as coisas? Atravessar a morte para a matar? 
Neste nosso Henrique IV parte 3 não há a morte com M maiúsculo, mas há um fantasma com F de Falstaff. É aí que faço a ligação entre o que se passara e passaria na sala de ensaios da Penha e o que se passou e não passou na estação de metro de Arroios. Também no território desta nossa peça é um espírito antigo, uma figura que (já lá diz Miriam) parece “feita mais de palavras do que de carne”, quem vem concretizar o estar-aqui das personagens mortais, nossas contemporâneas. Um fantasma gordo opondo-se, como que por acidente, aos números magros da crise sempiterna a que chamamos “sistema”. Estar vivo parece um dado mas é um achado — Falstaff e Shakespeare sabem esse segredo. E nós, nestes dias que correm? 
Agora percebo melhor a resistência dos encenadores a escrever sobre os espetáculos. O que se diz diz-se em cena (mal posso esperar para ver isto no TeCA com a contracena do público). E tentar explicá-lo talvez só aumente o ruído, com o risco de se reduzir a violência, a graça, do que os atores criam ao vivo. Mas, se calhar, posso dizer isto: esta é uma comédia que nasce de palavras difíceis e uma tragédia que redunda nos gestos mais prosaicos. Um espetáculo que, com o genial gordo de Shakespeare, quer rir a bandeiras despregadas. “Ora, homem, isto é gente mortal, é gente mortal.”


(texto escrito para o programa do espetáculo "Henrique IV parte 3", no TeCA)

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

sábado, 5 de novembro de 2016

O Porto está em obras

                                                                       ©João Tuna/TNSJ

Henrique IV parte 3, ensaios. Anabela Faustino ou Iolanda? (Fotografia de João Tuna.)

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Ninguém no Teatro Carlos Alberto

                                                                                                                                                 ©João Tuna/TNSJ


Henrique IV parte 3, ensaios: Ivo Alexandre ou Jack Falstaff? (Fotografia de João Tuna.)

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Do poema "Pé do ouvido", de Alice Sant'Anna:

no japão as mulheres vestiam quimonos
sobre doze camadas de tecido
cada camada de uma cor
e uma pessoa só de saber as cores
a sequência das cores da roupa
por baixo do quimono
poderia se apaixonar perdidamente