Às vezes olho para o relógio não para ver as horas mas para ter a certeza que estou vivo aqui. Só podia viver numa cidade porque a cidade é muito mais aqui do que o campo. No campo não há horas, há estações e sinos e séculos, e isso para mim é demais. Sinto-me nu sem relógio no pulso. Um relógio tem de ser à antiga, de ponteiros, de dar corda de preferência. Estar vivo é estar de olhos abertos, cabeça aberta, corpo presente no tempo. Os meus olhos tiram fotografias para eu não me esquecer de cada aqui, por exemplo agora. Há um desenho em cada coisa, uma palavra em cada cruzamento, tudo brilha.
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