sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Cultura desfocada, país atrasado

Já se percebeu que a visão que este governo tem para a cultura é igual a zero. Mas o problema não é só o governo ou a ministra. O problema é o país, somos nós todos. Não preparamos futuro nenhum com este “deixa andar”, com esta triste “navegação à vista”. Não preparamos futuro nenhum com este paleio contabilístico, com estas vistas curtas, esta visão mercenária da sociedade e do mundo. Só com uma grande aposta na educação e na cultura é que poderemos ir para lá da historinha do “bom aluno/ mau aluno” para nos tornarmos, de corpo inteiro, aquilo que somos: europeus na Europa, portugueses na Terra.


Para assinalar os 25 anos de integração europeia, o Gabinete em Portugal do Parlamento Europeu organizou este livro (ed. Princípia) com textos e depoimentos de várias pessoas sobre diferentes áreas. Tive a honra de ser convidado e escrevi um Retrato desfocado: a cultura em Portugal nos anos europeus:

'...falta o mais importante: a generalização de um acesso qualificado aos “bens culturais”, a ideia do direito à cultura como um direito de cidadania, um direito social, um direito básico que vem com isto de “ser português” e “ser europeu”. Falta consolidar a visão de que uma justa democratização cultural não é – como não será noutros campos – nivelar por baixo, facilitar, menorizar ou, para usar a expressão paternalista habitual, tornar a arte “mais acessível”... No fundo, o que está por trás deste discurso que rotula a cultura paga com dinheiros públicos de “capricho de elites” é um preconceito ferozmente antidemocrático e uma leitura assustadoramente estática da sociedade: a ideia de que as “elites” serão sempre as “elites” e os “sem-parte” serão sempre os “sem parte” e, ponto final, não há nada a fazer.
Pelo contrário, o que temos de ambicionar, se queremos chegar a algum lado, ou se queremos, no mínimo, não perder o pé nestes velozes tempos “globais”, é criar condições para que todos, de Trás-Os-Montes a Lisboa, possamos ser “elites”. E, nesse sentido, sim, a cultura é o grande motor de arranque da sociedade. Se a globalização se parece muitas vezes com uma corrida de fundo que acelera o próprio tempo, então, não haja dúvidas, é a cultura a “lebre” que falta à sociedade portuguesa.'

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