Hoje só dá Disquiet!
quinta-feira, 29 de junho de 2023
quarta-feira, 28 de junho de 2023
A comunicação social parece andar a sofrer disto: síndrome da toupeira de proporções gigantescas
"Uma toupeira de proporções tão gigantescas é com certeza uma singularidade, mas não se pode exigir para ela uma atenção permanente do mundo inteiro (...)".
("O mestre-escola de aldeia", Franz Kafka, trad. Álvaro Gonçalves, ed. Livros do Brasil)
terça-feira, 27 de junho de 2023
Dois grandes versos do O'Neill (e uma bela lição)
"...bem sei que muitos dos meus versos
nem para atacadores."
(Do poema "Autocrítica", de Alexandre O'Neill)
sábado, 24 de junho de 2023
quarta-feira, 21 de junho de 2023
É ir a correr até à Sociedade Nacional de Belas-Artes e depois ficar por lá com todo o tempo do mundo
A exposição "metamorfoses", de Ilda David' (curadoria de Nuno Faria), é uma maravilha. Pintura que é escultura, escultura que é pintura, e uns bordados altos que são misteriosíssimas bandeiras. Hei de lá voltar.
terça-feira, 20 de junho de 2023
segunda-feira, 19 de junho de 2023
Para ouvir
Estas palavras vão com a Maria, no Cunene, a caminho da água. Nunca foi à escola, a mãe dizia-lhe para tomar conta dos irmãos. Caminha, com uma criança às costas e uma tina de água equilibrada na cabeça. Às vezes, tem de parar para beber.
Quando foi a revolução em Portugal, havia muitos brancos a vir para a metrópole (dizia-se assim, “metrópole”), e ela veio também. Era nova, tinha a ideia de que aqui as ruas eram brilhantes. Imaginava-se a andar em cima de um espelho. Afinal, ficou num hotel em frente à estação. Trabalhou nas limpezas, e acordava às cinco da manhã, mas era melhor trabalhar fora do que em casa. Fora, pagam; em casa, como não temos a chefa a ver do pó em cima das coisas, vamos adiando.
A Daniela é o contrário. Está em casa e não pára. A família diz-lhe que não sabe descansar. Um dia, foi a pé do Alto do Lumiar até Santo António dos Cavaleiros. Esta frase segue atrás dela, tenta apanhá-la. Parece uma menina, mas já tem uma filha com treze anos. Aprendeu a ler em Angola, só que foi esquecendo e agora está a recomeçar. Tenta ler os letreiros no autocarro. Quer trabalhar como doméstica ou num restaurante; precisa de contrato para ter o papel da residência. A filha já tem, ela não.
O Gil chega, apresenta-se e, de repente: “A D. Maria vivia onde?” Os dois olham-se, silêncio. Descobrem que eram vizinhos há vinte e tal anos, na Quinta Grande. “Eu vivia na Rua da Esperança!”, diz o Gil. “O meu pai era o Picasso.” Pausa. “Era o Picasso porque era um artista!” E depois explica o erro da reabilitação: destruíram os bairros e separaram as pessoas. Nos prédios, as pessoas morrem e ninguém sabe. A D. Maria, que agora já é a Tia Maria, diz que o mundo está pior. A Daniela confirma: de pernas para o ar. O Gil diz que, com os prédios, perderam-se os “tios”, foi-se a comunidade.
Veio de Angola com os pais, tinha dois anos. Depois emigraram para Inglaterra. Aprenderam inglês, mas nunca perderam o português (“manter a base e acrescentar”, dizia o pai). E regressaram a Lisboa. O Gil estudou sociologia, life-coaching, desporto. Fez atendimento em lojas de luxo, mas não quer mais vender coisas. Quer ajudar os outros. A mulher não o deixava fazer massagens, dizia que ele não sabia; então, ele tirou um curso de massagens à séria. Gosta de saber para fazer, não é de teorias. Mas é um especialista em éles: Luanda, Londres, Lisboa, Lumiar.
A Daniela faz uma bela propaganda aos trabalhos de costura que cria com a Tia Maria e outras colegas, ali ao lado, no Espaço Mundo. Vão mostrar essas peças na feira do bairro.
A Tia Maria já voltou a Angola duas ou três vezes. Não tem filhos, mas tem muita família. “São muitos, parecem ratinhos, sempre mais”, diz ela, a sorrir. “Obrigada, não há televisão…”
Durante anos, o Gil ia com os amigos a pé por aqueles lugares todos até a uma sala emprestada, no ISEG da Alameda. Durante o caminho, o tempo passava e os buracos iam-se tornando prédios. Este texto vai com eles, dentro e fora do tempo, despassarado, só a ouvir.
Jacinto Lucas Pires, com Maria Kama, Daniela Deía e Gil Val
(no Grupo de Alfabetização da ARAL)
(texto escrito na "Leitura Furiosa", que, em Lisboa, é organizado pela Casa da Achada)
quinta-feira, 15 de junho de 2023
quarta-feira, 14 de junho de 2023
quarta-feira, 7 de junho de 2023
terça-feira, 6 de junho de 2023
Chegaram os super-óculos da Apple
Parecem muito "fixes", parecem mesmo o "futuro", mas como vai ser quando a confusão entre o real e o virtual se estender ao mundo físico?
segunda-feira, 5 de junho de 2023
quinta-feira, 1 de junho de 2023
Turismo infinito
"...o turismo já não é um setor florescente do mundo, o mundo inteiro é que se tornou um setor atrasado do turismo."
Roberto Calasso, L'innominabile attuale