terça-feira, 27 de outubro de 2015

O Canadá ou um sonho

Como um detetive, ando por Toronto a investigar a frase de Cronenberg, que diz que o Canadá é como os EUA num sonho estranho.


sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Américo em Toronto

Com o país ao rubro, parto para o Canadá. Só por uns dias, ainda volto a tempo de ver o Presidente desdizer as tristes palavras de ontem
Primeiro, vou a Toronto, ao IFOA, International Festival Of Authors, encontrar-me com o Américo Abril de The True Actor (tradução de Jaime Braz e Dean Thomas Ellis). O Américo, sabem? Aquele ator português que entrou no filme Queres Ser Paul Giamatti.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

O cinema talvez

"O cinema talvez seja apenas a procura da distância mais justa entre dois olhares — a distância do olhar que nos olha, o que corresponde à distância de conhecermos como somos conhecidos."


(Obra Escrita 1, João César Monteiro)

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O maior ator português deixa os palcos


Neste momento tão duro, resta-nos agradecer tudo o que Luis Miguel Cintra nos deu — enquanto espetadores, criadores, cidadãos — e aplaudir para sempre.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Bem a propósito

Arte poética da batata

"And if a man could ask for a potato in the form of a poem, the poem would not be merely a more romantic but a much more realistic rendering of a potato."


(The Slavery of Free Verse, G.K. Chesterton)

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Juntar as duas grandes maiorias

Alguma direita anda desvairada com a hipótese de uma coligação de esquerda garantir um governo de esquerda, mas paremos para pensar com calma: fará algum sentido o PS, que fez campanha dizendo querer "virar a página da austeridade", dar a mão a um governo PàF depois de quatro anos em que a coligação de direita aplicou uma austeridade mais troikista que a troika? Não fará mais sentido o PS puxar o BE e o PCP para o palco das soluções, procurando — juntamente com outras vozes no Conselho Europeu, no Parlamento Europeu e na opinião pública europeia — mudar a Europa e o euro por dentro? A hipótese de um governo de esquerda, a ser possível, teria ainda a vantagem democrática de juntar as duas grandes maiorias resultantes destas eleições: a maioria que diz sim ao projeto europeu e a maioria que diz não à austeridade.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

"Toda a gente sabe"

Durão Barroso mostra-se assustado com a possibilidade da esquerda formar governo. Esquecendo a parte da chantagem — de novo o papão dos mercados contra a escolha democrática dos portugueses —, o ex-líder do PSD vem agora trazer o argumento da interpretação autêntica dos votos. Como é óbvio, é um argumento que não serve. Um voto é um voto, não está sujeito a juízos de intenção, do género "prognósticos no final do jogo". Os deputados, que foram eleitos com aqueles votos, é que farão as escolhas que acharem corretas. Não, a democracia não pode ficar refém de um qualquer "toda a gente sabe". Até porque muitas pessoas também terão votado PS para virar a página da austeridade e derrotar a coligação PàF — o que, segundo esta linha de raciocínio, impediria a possibilidade de um acordo do PS com a coligação de direita...

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Liberdade para os presos políticos em Angola


Leitura em lugar público

Na linha verde do metro, um barbudo descabelado lê Quartos Alugados de Alexandre Andrade. Se se detém na expressão "umas mãozinhas de anjo" (do primeiro conto, In Absentia) quando no metro se acende o aviso da estação seguinte, "Anjos", não se abrirá logo ali um portal para uma outra realidade ao mesmo tempo mais leve e mais profunda?

 

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Sem tracinho

Pingue Ponge é a poeta e o pintor, é Matilde Campilho e Tomás Cunha Ferreira, dois assim radiofazendo o mistério atlântico que trazemos em nós. Acontece noutra galáxia e tão cá. É preciso ouvir, ouvir, ouvir com todas as orelhas.

 

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Alô, António Costa?

O BE apresentou três condições para a viabilização de um governo liderado pelo PS: não ao congelamento de pensões, não à baixa da Taxa Social Única e não ao "despedimento conciliatório".  Não se fala, portanto, de saída do euro nem sequer de qualquer tipo de restruturação da dívida. Mais: Catarina Martins garante mesmo uma solução de governo à esquerda "com estabilidade" (no Expresso).
Se, perante isto, o PS não se senta sequer a mesa com o BE, comete um erro histórico. Desde logo, perde-se uma oportunidade de ouro para a clarificação da nova situação política — saber se, no fim de contas, a maioria de esquerda existente no parlamento é só "negativa" — e, num outro nível, o PS perde também a possibilidade de trazer o BE para a conversa de como mudar a casa europeia sem a ameaça, à cabeça, de saída do euro.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Um poema de Ruy Belo


MORTE AO MEIO-DIA



No meu país não acontece nada
à terra vai-se pela estrada em frente
Novembro é quanta cor o céu consente
às casas com que o frio abre a praça

Dezembro vibra vidros brande as folhas
a brisa sopra e corre e varre o adro menos mal
que o mais zeloso varredor municipal
Mas que fazer de toda esta cor azul

que cobre os campos neste meu país do sul?
A gente é previdente cala-se e mais nada
A boca é pra comer e pra trazer fechada
o único caminho é direito ao sol

No meu país não acontece nada
o corpo curva ao peso de uma alma que não sente
Todos temos janela para o mar voltada
o fisco vela e a palavra era para toda a gente

E juntam-se na casa portuguesa
a saudade e o transístor sob o céu azul
A indústria prospera e fazem-se ao abrigo
da velha lei mental pastilhas de mentol

Morre-se a ocidente como o sol à tarde
Cai a sirene sob o sol a pino
Da inspecção do rosto o próprio olhar nos arde
Nesta orla costeira qual de nós foi um dia menino?

Há neste mundo seres para quem
a vida não contém contentamento
E a nação faz um apelo à mãe,
atenta a gravidade do momento

O meu país é o que o mar não quer
é o pescador cuspido à praia à luz do dia
pois a areia cresceu e a gente em vão requer
curvada o que de fronte erguida já lhe pertencia

A minha terra é uma grande estrada
que põe a pedra entre o homem e a mulher
O homem vende a vida e verga sob a enxada
O meu país é o que o mar não quer




"Tem som no microfone?"


sábado, 3 de outubro de 2015

"A cidade precisa de outras mãos",

dizia ontem à noite Orestes no Teatro Nacional, olhando a mão transformada em faca — é mesmo isso. 

("Electra" de Tiago Rodrigues; Miguel Borges como Orestes)

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Um poema de Manuel Bandeira


ESTRÊLA DA MANHÃ



Eu quero a estrêla da manhã
Onde está a estrêla da manhã?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrêla da manhã

Ela desapareceu ia nua
Desapareceu com quem?
Procurem por tôda a parte

Digam que sou um homem sem orgulho
Um homem que aceita tudo
Que me importa?
Eu quero a estrêla da manhã

Três dias e três noites
Fui assassino e suicida
Ladrão, pulha, falsário

Virgem mal-sexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos

Pecai com os malandros
Pecai com os sargentos
Pecai com os fuzileiros navais
Pecai de tôdas as maneiras
Com os gregos e com os troianos
Com o padre e com o sacristão
Com o leproso de Pouso Alto

Depois comigo

Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas comerei
                                 terra e direi coisas de uma ternura
                                 tão simples
Que tu desfalecerás

Procurem por tôda a parte

Pura ou degradada até a última baixeza
Eu quero a estrêla da manhã.



quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Sondagens?!

Não quero acreditar que o país possa voltar a dar maioria à coligação da austeridade. A coligação mais troikista que a troika, a do "irrevogável" e do convite à emigração. A coligação que deixa Portugal ainda mais desigual, com dois milhões de pessoas em risco de pobreza. A coligação dos cortes cegos no Estado Social. A coligação das privatizações só-porque-sim. A coligação da tecnocracia: folhas de excel para tapar a ausência de uma qualquer visão de futuro. A coligação dos "amens" a Wolfgang Schäuble e à sua cartilha anti-solidariedade na Europa. Não, não quero acreditar. Domingo, temos de ir às urnas desmentir estas sondagens — e, finalmente, vencer os números com ideias.