sexta-feira, 2 de outubro de 2015
Um poema de Manuel Bandeira
ESTRÊLA DA MANHÃ
Eu quero a estrêla da manhã
Onde está a estrêla da manhã?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrêla da manhã
Ela desapareceu ia nua
Desapareceu com quem?
Procurem por tôda a parte
Digam que sou um homem sem orgulho
Um homem que aceita tudo
Que me importa?
Eu quero a estrêla da manhã
Três dias e três noites
Fui assassino e suicida
Ladrão, pulha, falsário
Virgem mal-sexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos
Pecai com os malandros
Pecai com os sargentos
Pecai com os fuzileiros navais
Pecai de tôdas as maneiras
Com os gregos e com os troianos
Com o padre e com o sacristão
Com o leproso de Pouso Alto
Depois comigo
Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas comerei
terra e direi coisas de uma ternura
tão simples
Que tu desfalecerás
Procurem por tôda a parte
Pura ou degradada até a última baixeza
Eu quero a estrêla da manhã.
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