Temos de fazer um jornal novo. Podia ter uma primeira página feita por Rui Chafes. Uma primeira página de delicadíssimo aço preto. Abria-se e aparecia, por exemplo, um vídeo em forma de ensaio com o Povo como personagem principal. Um jornal onde Almada Negreiros se sentisse bem. Onde as crónicas de Joseph Roth tivessem o destaque que merecem nestes tempos de desagregação europeia. As fotografias valeriam por si, sem serem ilustrações para o texto e sem precisarem de legenda. A prosa dos textos seria variada, mas sempre buscando uma justeza em relação às coisas ditas. Nas páginas de dentro, poderia haver uma rubrica chamada Jornal do Real que valeria (discretamente, qual sussurro) como subtítulo do jornal todo. O nome mesmo tem de vir só com a cara. E o desenho da coisa teria de se confundir com a própria coisa. Um jornal de frente para isto de estar vivo. Um jornal que fosse a arte poética de cada dia. Para olhar o mundo com clareza, cada dia, temos de inventar uma linguagem ao mesmo tempo simples e doida como o mundo, talvez. É uma pergunta que deveria atravessar todos os números desse nosso jornal futuro. Um superpoder de trazer por casa.
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