terça-feira, 25 de abril de 2017

Catarina

CATARINA O nome, não o posso deixar cair ainda é tão frágil, tão breve,
                   tão — será translúcido a palavra?
                  — quando uma barra de sol atravessa o quadriculado da janela

                  e pousa uma luz das mais puras sobre o redondo que o desenha este nome sonoro e calado
                  este meu nome, tenho de o guardar
                  com o máximo cuidado
                  embalá-lo com o máximo de música
                  o máximo de silêncio desapertado
                  tenho de apertá-lo nos meus braços de ceifeira sou uma mulher antes de tudo
                  Um nome que é o seu próprio milagre
                  ou assim me parece neste claro-escuro
                  nesta noite atravessada por uma barra de sol nestes dias de não fazer nada
                  para começar a mudar tudo

                  
                  No dia da Maria desmaiada dissemos coragem
                  e dissemos justiça
                  e fizemos caminho

                  e o sol era um disco luminoso como em versos gregos que nunca hei de ler e fizemos caminho
                  e dissemos greve
                  e temos de ser fiéis aos nossos nomes 




(excerto da peça "Catarina", escrita por mim, que o grupo ACTA levou à cena com encenação de Luís Vicente, no ano passado)

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