Um grupo de alunos da Escola Luís António Verney, entre os 12 e os 18 anos. O desígnio é dar-lhes ferramentas teatrais para a vida; o pretexto é a peça Otelo de William Shakespeare.
Começámos há um ano e pouco. Primeiro, houve exercícios teatrais para nos conhecermos, para nos darmos a conhecer, para nos tornarmos um grupo. Depois começámos a ler a peça de Shakespeare. Ler, discutir, pensar. O que quer dizer esta palavra, esta fala, esta cena? O que é que isto tem a ver connosco, com cada um de nós? Como é que tornamos isto nosso, e o que podemos trazer para esta história?
Paralelamente, falávamos de muitas outras coisas: escola, discriminação, a vida no tempo de Shakespeare, violência, feminismo, dança, desporto, televisão, canções, etc.
A dada altura, percebemos que, para este grupo, o texto tornava-se mais claro no espaço, em cena, cruzando-se com os diferentes jogos teatrais que a Cristina Carvalhal (encenadora) ia propondo. Comecei então a escrever cenas tendo isso presente. Como pegar na grande tragédia do mouro de Veneza e fazê-la ressoar nesta escola do Beato? Como tornar concreta, visível, física, a nossa leitura deste peção clássico? Como juntar às lições do texto de Shakespeare o vocabulário teatral que o grupo vai aprendendo e que, assim se espera, lhe poderá servir também para a vida fora de cena? Coisas tão simples e tão difíceis como manter a concentração, memorizar falas, guardar silêncio, falar em público, trabalhar em equipa, estar inteiro dentro do próprio corpo, ouvir os outros, pensar-fazer, isto é, pensar com o gesto e fazer com sentido.
Num dos primeiros ensaios estávamos a falar sobre teatro, e um dos jovens atores perguntou, “No teatro tu comes ou finges que estás a comer?” Acho que todo o trabalho que temos feito desde esse começozinho até agora tem sido para responder a essa pergunta tramada. Ir percebendo que só com muito esforço e muita imaginação é que conseguimos fazer as coisas como que pela primeira vez. Aprender a olhar o mundo como uma estreia todos os dias.
Agora andamos já na fase de ensaiar a nossa peça louca — uma espécie de Otelo desmantelado pela alegria do começo de tudo — falhando uma vez, e outra, como profissionais, quase. Há momentos em que o trabalho corre mal e parece que nada vai funcionar. Mas depois vemos aquele ator, para quem é difícil tirar as mãos dos bolsos ou desencostar-se das paredes, ficar sozinho em cena a olhar o público nos olhos e dizer, “Agora fechem os outros olhos que temos por dentro dos olhos fechados”, e acreditamos de novo. Que sim, que é possível aprender a-primeira-vez-de-cada-gesto-cada-palavra, que é possível o teatro, que é possível mesmo na vida, que, nos entretantos desta aventura muito antiga, vamos chegar um pouco mais perto daquilo que somos.
(texto escrito em novembro sobre o processo de 'Anatomia de Otelo')
Estimado y admirado señor Pires, le pido disculpas por no hablar su bella lengua y dirigirme a usted en castellano. Me gustaría contarle una breve pero bonita historia relacionada con "un ramo de gerundios brancos". Si le parece oportuno conocerla le ruego me diga una dirección de mail a la que poder escribirle. Mi correo es vegafiscal@hotmail.com , a su disposición y gracias por su atención. Un saludo desde Madrid. Javier Gonzalez.
ResponderExcluirCaro Javier, o meu email é esse que aparece no blogue: jacintolucaspires@gmail.com
ExcluirObrigado, cumprimentos
Disculpe mi tardanza señor Pires, no había podido entrar de nuevo en su blog, para ver su respuesta. Le agradezco la atención, tomo nota de su correo y en breve le escribiré lo prometido. Muchas gracias de nuevo.
ExcluirSaludos desde Madrid.
Obrigado